A expectativa foi confirmada, nesta sexta-feira (9), e o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), anunciou Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação, como ministro da Fazenda. Para especialistas consultados pelo BP Money, Haddad deve encarar um cenário desafiador na economia, com “muita despesa para adminstrar e pouco dinheiro”. O desafio do ministro será controlar gastos de custeio.
Segundo Sillas Cezar, professor do curso de Economia do Centro Universitário FAAP, a indicação de Haddad gera dúvidas para especialistas do ramo econômico e, também, para o mercado financeiro.
“Os desafios macroeconômicos são grandes. Em poucas palavras, para o próximo ano temos pouca grana e muita despesa, e isso num ambiente com muitas expectativas irreais”, disse Cezar.
“O Haddad, como profissional, tem credenciais para ser um bom ministro. Ele tem boa formação na área econômica, tem experiência administrativa como Ministro da Educação e como prefeito, onde fez gestões que foram bem avaliadas pelos especialistas, mas nem tão bem avaliadas pelo público”, complementou o especialista em economia da FAAP.
Cezar destacou que um ponto positivo de Haddad é que ele costuma tomar decisões mais técnicas do que de cunho “popular”. Dessa forma, suas ações são mais orientadas pela responsabilidade do que pela popularidade.
“Além disso, suas posições intelectuais e ideológicas são moderadas e pouco identificadas com as convicções das esquerdas mais radicais. Como técnico, é um bom nome. Como reforço, devemos ter em mente que dos três mais importantes ministros do Plano Real, dois não eram economistas de ofício: Fernando Henrique Cardoso e Antonio Palocci”, afirmou Cezar.
Na visão de Marcelo Ferreira, economista e professor, Haddad deverá ter uma política expansionista de gastos. Com isso, seu desafio será ter um controle sobre outros gastos, principalmente de custeio.
“Haddad terá que controlar custeio para que possa comportar a expansão de gastos, que fatalmente vai acontecer porque isso foi prometido na campanha. É uma tendência do pensamento econômico do grupo político que vai assumir o País a partir do dia primeiro, e inclusive do próprio Haddad. A indicação feita por Lula é muito clara nesse sentido da expansão dos gastos”, disse Ferreira.
O professor explicou que os gastos de custeio são as despesas com itens que fazem a máquina pública funcionar. “O que pode e precisa ser negociado e controlado são cargos comissionados, benefícios e auxílios para a elite do funcionalismo público, entre outras”, disse Ferreira.
O que o mercado financeiro espera de Haddad?
Ferreira salientou que, com Haddad na Fazenda, o mercado deve diminuir as expectativas para a redução da taxa de juros no curto e médio prazo, já que o Brasil já tem sérios problemas fiscais e o aumento dos gastos, se não for feito de uma forma com compensação em gasto de custeio, poderá levar a um aumento de déficit fiscal e, consequentemente, a um aumento do volume de juros a ser pagos.
“Isso pode provocar um agravamento do quadro. Esse é o medo de muita gente, inclusive do mercado financeiro, que deverá passar por mais um período de esvaziamento da renda variável, de redução dos investimentos e das operações de renda variável, migrando para renda fixa, mais segura e que está mais adequada ao momento que o país vive”, disse Ferreira.
Para Sillas Cezar, da FAAP, o mercado teme, com a entrada de Haddad, a volta de gestões intervencionistas, como a do ministro Guido Mantega, especialmente no governo Dilma, cujas ações levaram o país a uma crise econômica profunda, comprometendo, inclusive, o legado de crescimento econômico dos próprios governos anteriores do PT.
“Para uma parte do mercado, Haddad simboliza a volta da ‘Dilma’. Particularmente, não creio que isso aconteça”, pontuou Cezar.