Durante o painel “Os rumos de Brasília: o que esperar do novo governo”, no Macro Vision 2022, evento do Itaú BBA, Fábio Zambeli, analista-chefe de política do JOTA, disse que ter Fernando Haddad como ministro da Fazenda é o mesmo que ter o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no cargo.
“O Lula precisa negociar com o Congresso, se quiser aprovar reformas. Acho que Haddad significa Lula como ministro da Fazenda. Ele não tem pretensão de ser formulador”, disse Zambeli, destacando que Haddad deve ser um interlocutor do governo.
Zambeli também reforçou que parte do desgaste político de Haddad em São Paulo, na época em que foi prefeito, foi porque ele não gastou. “Ele contrariou a bancada do PT, não invesctiu no ano eleitoral, e é cobrado politicamente por isso. Como gestor, sempre foi mais ponderado do que parece”, disse Zambeli.
O jornalista e especialista em política afirmou que só dará para saber os reais efeitos de Haddad e do novo governo sobre a economia, a partir do momento que for formulada a parte fiscal.
“Quando começar a ficar claro qual será o novo arcabouço fiscal, será possível saber qual a pegada do novo governo. Até agora é um espasmo do Lula, com a PEC, para garantir que ele não será um semi presidente”, disse Zambeli.
O especialista destacou que Lula está usando a PEC para que possa de alguma maneira possa sentar à mesa e “dar as cartas em 2023”.
“A PEC cria a noção de que a qualquer momento o governo pode apertar um botão e gastar mais”, disse Zambeli.
Durante o painel, Christopher Garman, diretor para as Américas da Eurasia Group, empresa de consultoria e pesquisa de risco político, citou que o governo Lula não deverá jogar a responsabilidade fiscal no lixo, porém chama, desde o início, mais risco para si.
“Claro que o nome do Haddad entra não inspirando confiança no mercado financeiro. Entre os nomes que estavam na mesa para escolher, Lula deixou claro que queria alguém do partido para esse cargo, o que gera mais preocupação no mercado”, disse Garman.
Garman também afirmou que “se olharmos a bolsa e o dólar, não estamos em um momento de crise aguda”. Segundo o especialista, é provável que o governo Lula não gaste o proposto na PEC durante o ano de 2023.
“Se o governo gastasse tudo isso, não teria espaço para aumento real de salário mínimo, por exemplo. Uma coisa é o espaço para gastar outra coisa é o gasto real”, disse Garman.