Política

Haddad como futuro ministro da Fazenda repetirá "era Palocci"?

Haddad seguirá os passos do ministro em 2003 para diminuir sua resistência no mercado?

Haddad como futuro ministro da Fazenda repetirá "era Palocci"?
Haddad buscará repetir "era Palocci"? / Foto: Divulgação / PT

Quando precisou se candidatar à presidência em 2018, após Lula (PT) ter sua canditadura impugnada, Fernando Haddad (PT) usou, como estratégia de campanha, a frase “Haddad é Lula” para tentar angariar votos e se eleger, o que não deu certo. Agora, ao ser indicado ministro da Fazenda, o petista precisará usar a frase “Haddad é Palocci” para seguir os passos do ministro em 2003 e diminuir sua resistência no mercado?

“A principal semelhança é que são políticos do PT e que tem a chancela do partido e também uma ótima relação pessoal com o Lula. As semelhanças param por aí, pois o Haddad tem um contéudo econômico que o Palocci não tinha. Ele delegou as principais decisões econômicas para a equipe dele, que era super liberal. E não é isso que Haddad está sinalizando fazer, pois ele tem suas principais ideias na economia, que são, inclusive, bastante à esquerda do Palocci. É uma situação diferente de 2003”, afirmou Sérgio Praça, cientista político e professor e pesquisador do FGV CPDOC, ao BP Money. 

Para a economista e professora de MBAs da FGV, Carla beni, o período atual traz diferenças para o vivido à época do primeiro Governo Lula. 

“Além das diferenças do momento econômico atual em relação a 2003, ano do início do primeiro mandato do Lula, a questão mais relevante é que, atualmente, a decisão de trocar o trânsito do mercado por um trânsito político pode ter sido uma estratégia muito interessante que talvez aumente a interlocução”, apontou Beni. 

“O segundo ponto importante é que iremos vivenciar, pela primeira vez, uma independência do Banco Central. Ou seja, a política monetária que é feita pelo BC já está definida com o Campos Neto. Isso dá uma estabilidade maior ao mercado, e agora faz todas as mudanças na Fazenda e no planejamento”, completou. 

Economista e CEO da Philos Invest, Rafael Marques não vê semelhanças entre Haddad e Palocci, mas acredita que o mercado irá se acostumar com o nome do petista, diminuindo a resistência inicial. 

“A esperança é de que ele realmente venha a ser um Palocci, que seja uma pessoa com bom trânsito político dentro do Congresso, e que é um interlocutor muito forte do Lula, sendo um possível herdeiro dele, politicamente falando”, disse Marques.

Ainda de acordo com ele, os nomes indicados para compor o segundo escalão serão importantes. Até 15 de dezembro, Haddad já havia nomeado o ex-banqueiro Gabriel Galípolo como secretário-executivo e o economista Bernard Appy como secretário especial para a reforma tributária.

“Acho o Appy excelente, muito bem visto no mercado. Quanto ao Galípolo, considero o contrário, até porque ele foi infeliz em algumas declarações no passado, como quando disse que não teria inflação, então é realmente preocupante. Ele está longe de ser um consenso”, analisou o CEO da Philos Invest. 

Haddad precisará de 2º escalão forte

Antonio Palocci foi o ministro da Fazenda no primeiro mandato de Lula, quando o então presidente apostou em um político de confiança para chefiar a pasta, que teve em seu chamado “segundo escalão” um time brilhante que contava com Marcos Lisboa, Murilo Portugal, Joaquim Levy e Daniel Goldberg. 

Agora, o petista terá que seguir o mesmo caminho, tento uma equipe forte e técnica como grande suporte. 

“A importância do segundo escalão é justamente trabalhar a parte técnica, dando a segurança econômica em todas as áreas para seguir o objetivo da política do governo central. O perfil tem que ser muito técnico, o Haddad está em uma bola de curva, apesar de que ele vinha falando em estabilidade fiscal, mas o discurso de Lula, Mercadante e outros membros vão de encontro com o que Haddad vinha falando. O mercado, a princípio, coloca uma dúvida. Em 2003, Palocci e Meirelles foram bolas mais do que certas”, explicou Marques. 

Reforma tributária deve ser prioridade de Haddad

Sofrendo grande resistência do mercado, Haddad terá que colocar como prioridade a tramitação da reforma tributária, a fim de acalmar os mais receosos, como avalia Sérgio Praça. 

“O nome dele sofreu resistência, pois o mercado queria alguém com ideias liberais, como Meirelles, Persio Arida, Marcos Lisboa, e essa é a resistência ao nome do Haddad, que era pressionar por alguém mais de centro, centro-direita. Tem que gastar o capital político acelerando a tramitação da reforma tributária, colocando-a como prioridade para os primeiros quatro meses para acalmar o mercado”, analisou o cientista político.

“O Bernard Appy é um grande especialista na área tributária e o seu projeto para uma reforma tributária já está muito avançado. Então, tê-lo trabalhando com Haddad facilita o trâmite e acelera o processo de reforma tributária, que precisa ocorrer muito rápido”, complementou Carla Beni.