O futuro de ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), pediu ao ministro da Economia, Paulo Guedes, que a atual gestão “se abstenha de tomar qualquer medida que venha a impactar o futuro governo”, após surgir a possibilidade de o atual governo prorrogar a desoneração dos combustíveis, que se encerra no sábado (31).
“Telefonei para que o governo atual se abstenha de tomar qualquer medida na última semana que venha a impactar o futuro governo”, disse Haddad a jornalistas no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil).
“Sobretudo em temas que podem ser decididos daqui a dez dias, daqui a 15 dias, daqui a um mês, sem qualquer atropelo. Para que a gente tenha a sobriedade de fazer cálculo de impacto, verificar a trajetória do que a gente espera nas contas públicas ao longo dos próximos anos”, completou o futuro ministro.
Ainda de acordo com o petista, Guedes respondeu que recomendaria nesta semana que não se tomasse nenhuma medida que impactasse o futuro governo.
Segundo o “Valor”, fontes do governo federal informaram aos jornalistas presentes que havia um acordo entre a atual gestão e o governo eleito para prorrogar a desoneração por 30 dias.
A desoneração de tributos federais como o PIS/Cofins e a Cide foi feita em meados deste ano pelo presidente Jair Bolsonaro a fim de mitigar o impacto da guerra da Ucrânia nos preços dos combustíveis.
Nos cálculos do Ministério da Economia, a manutenção do corte de impostos equivale a perda de R$ 52,9 bilhões para os cofres da União em 2023.
Durante a transição de governo, no início deste mês, o ex-ministro da Fazenda e do Planejamento Nelson Barbosa já tinha defendido que em algum momento o governo eleito aumentasse novamente a cobrança de impostos federal sobre combustíveis.
Mas deixou claro ser importante levar alguns fatores para decidir o momento da alta, como “inflação, crescimento, juros”. Barbosa fazia parte do grupo de economia da equipe de transição e é um dos interlocutores de Lula na área econômica.
Haddad como futuro ministro da Fazenda repetirá “era Palocci”?
Quando precisou se candidatar à presidência em 2018, após Lula (PT) ter sua canditadura impugnada, Fernando Haddad (PT) usou, como estratégia de campanha, a frase “Haddad é Lula” para tentar angariar votos e se eleger, o que não deu certo. Agora, ao ser indicado ministro da Fazenda, o petista precisará usar a frase “Haddad é Palocci” para seguir os passos do ministro em 2003 e diminuir sua resistência no mercado?
“A principal semelhança é que são políticos do PT e que tem a chancela do partido e também uma ótima relação pessoal com o Lula. As semelhanças param por aí, pois o Haddad tem um contéudo econômico que o Palocci não tinha. Ele delegou as principais decisões econômicas para a equipe dele, que era super liberal. E não é isso que Haddad está sinalizando fazer, pois ele tem suas principais ideias na economia, que são, inclusive, bastante à esquerda do Palocci. É uma situação diferente de 2003”, afirmou Sérgio Praça, cientista político e professor e pesquisador do FGV CPDOC, ao BP Money.