Política

Haverá sanções? Fala de Lula sobre prisão de Putin gera dúvidas

Lula disse que Putin não será preso se vier ao Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou no último sábado (9) que o presidente russo Vladimir Putin não seria preso no Brasil caso viesse participar da reunião do G20 no Rio de Janeiro, que ocorrerá no próximo ano. A fala de Lula foi feita em entrevista a uma TV indiana, em Nova Delhi, onde ocorreu o encontro do grupo no último final de semana.

Segundo James Onnig, professor de Geopolítica do Laboratório de Pesquisa em Relações Internacionais da FACAMP, a fala de Lula, apesar de controversa, não indica qualquer aumento de proximidade com Putin, visto que o País mantém praticamente os mesmos acordos com a Rússia e com a Ucrânia.

“As relações bilaterais entre Brasil e Rússia sempre foram de alto nível e não mudaram de intensidade nos últimos anos. A promoção do comércio e de intercâmbios se mantêm na mesma situação. Lógico, às vezes nós compramos mais deles, e eles compram mais da gente. A pauta de exportações pode evoluir, algo que naturalmente acontece com todos os países com que o Brasil estreita os laços”, explicou.

“Apesar disso, o Brasil tem os mesmos negócios com a Ucrânia, como acordos de tecnologia militar, acordos na área aeroespacial, acordos na área de fertilizantes, assim como com a Rússia. Então, o Brasil mantém o mesmo nível de relações com ambos os países”, acrescentou Onnig.

Na visão de Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, o aceno de Lula ao presidente russo foi feito com a intenção de exaltar a importância comercial do país europeu, que exporta muitos fertilizantes para o Brasil.

“Eu acredito que essa fala de Lula representou mais uma série de simbolismos do que algo na prática. Ele estava querendo ressaltar que a Rússia é um grande parceiro para o mercado brasileiro, principalmente no que tange o agronegócio, com a exportação de fertilizantes”, disse Lima.

O Brasil pode sofrer sanções caso se aproxime da Rússia?

Apesar das declarações de Lula, o Brasil promulgou, em 2002, sua adesão ao Estatuto de Roma, passando a fazer parte do Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia. Ano passado, a entidade expediu uma ordem de prisão contra Putin. Logo, caso o Brasil não determine a prisão dele no País, o presidente estará descumprindo um acordo internacional do qual é signatário.

Lima relatou que, caso o Brasil descumpra o acordo com o Tribunal de Haia para se aproximar da Rússia, é praticamente impossível que o País não sofra sanções de outros países.

“Caso o Brasil se aproxime da Rússia e descumpra o acordo de Haia, as outras nações reagiriam. Temos que ficar de como se daria essa aproximação. Vale lembrar que o próprio ex-presidente Bolsonaro esteve na Rússia no auge de todo aquele clímax da guerra da Ucrânia e foi muito criticado em relação a isso. Lula seria da mesma forma”, pontuou o analista da Ouro Preto Investimentos.

Para Onnig, o Brasil, historicamente, sempre foi uma voz moderada dentro do cenário geopolítico, buscando a promoção da paz e união entre os demais países. Por conta disso, caso o País se posicione mais radicalmente em favor ou contra a Rússia, a tendência é que sofra sanções.

“Hoje o mundo é dividido em blocos. De um lado, temos a Europa e os EUA; de outro, temos um bloco comandado por China e Rússia. Tal divisão do mundo obriga o Brasil a praticar melhor a sua diplomacia, que sempre foi a nossa marca. Nós sempre tivemos uma diplomacia ponderada”, introduziu Onnig.

“Por conta disso, caso o Brasil assuma uma postura mais radical, que esteja diretamente ligada a algum bloco, nós iremos sofrer consequências como todo país sofreria”, reiterou o professor da FACAMP.

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