Do agro ao real

Israel x Irã: 'efeito borboleta' que deteriora Bolsa brasileira

Foto: CanvaPro
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O novo capítulo do confronto entre Israel e Irã teve efeito imediato nos mercados globais nesta sexta-feira (14), impulsionando temores em torno da cotação do petróleo. O cenário também intensificou a aversão ao risco entre investidores, que passaram a buscar ativos considerados seguros e a evitar mercados emergentes, como o Brasil. Consequência: o Ibovespa despenca, acompanhando os principais índices internacionais.

Na noite de quinta-feira (12), Israel realizou um ataque ao Irã que provocou um “buraco” no espaço aéreo do país. Após os bombardeios a instalações nucleares iranianas, Israel decretou estado de emergência. Autoridades israelenses afirmaram que a operação será prolongada e tem como objetivo impedir que Teerã desenvolva armas atômicas.

O planejador financeiro CFP e especialista em investimentos, Jeff Patzlaff, explicou que o momento favorece ativos considerados “portos seguros”, como dólar, ouro e títulos do Tesouro americano — o que já se reflete no pregão desta sexta-feira, quando a divisa norte-americana superou a moeda brasileira.

“Em adição, o estreitamento do Estreito de Ormuz, por onde passa cerca de 20% do petróleo global, pode gerar fortes altas nos preços dos barris de Brent e WTI”, comentou o especialista.

Esse cenário encarece combustíveis, gerando mais pressão inflacionária, além de afetar margens de empresas dependentes de combustíveis ou commodities importadas. No contexto brasileiro — com Selic e inflação já em níveis elevados — isso dificulta ainda mais qualquer alívio monetário no curto prazo. “Isso prejudica setores sensíveis ao crédito e à demanda doméstica”, complementa.

Petróleo no radar do mercado em meio ao conflito entre Israel e Irã

O petróleo tende a reagir quase que imediatamente à escalada do conflito, especialmente por envolver uma região produtora relevante da commodity. A consequência direta é a valorização do barril, o que impulsiona ações de empresas como Petrobras (PETR4), Prio (PRIO3), PetroRecôncavo (RECV3) e 3R Petroleum (BRAV3).

“Se não tivermos mais nenhum desdobramento nos próximos dois ou três dias — ou seja, se o Irã não revidar — a gente deve ver uma calmaria e o preço do petróleo tende a se acomodar em um patamar mais baixo. Com isso, essas empresas voltam a cair”, avaliou Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank.

Segundo ele, essa contração seria um movimento natural de correção, já que a alta inicial decorre de circunstâncias atípicas.

Na mesma linha da commodity, as bolsas globais despencaram nesta sexta-feira, repercutindo os possíveis desdobramentos do conflito. Caso os confrontos se estendam e avancem para um cenário de guerra, os efeitos seriam recessivos e muito mais graves em escala global.

“A expectativa é que isso ainda não tenha nenhum desdobramento maior e se acomode”, acrescentou Bresciani.

Ibovespa: enquanto uns ganham, outros perdem

A avaliação de especialistas ouvidos pelo BP Money é que, no curto prazo, o Ibovespa tende a reagir negativamente. No entanto, algumas companhias podem se beneficiar do cenário, de forma indireta, por conta da alta nos preços de commodities — especialmente empresas ligadas ao petróleo, como a Petrobras (PETR4; PETR3), uma das ações com maior peso no índice.

Outra ação que pode colher os “frutos” do cenário é a Vale (VALE3), devido à valorização do dólar frente ao real. O fortalecimento da moeda norte-americana é um movimento típico em momentos de aversão ao risco, já que o dólar é considerado um ativo seguro.

Na ponta negativa, algumas empresas tendem a sofrer direta ou indiretamente com a pressão sobre os combustíveis, o aumento da inflação e os juros altos. O setor de varejo e consumo é um dos mais vulneráveis, já que depende fortemente do mercado interno e tende a ser impactado por inflação elevada, juros altos e queda na confiança do consumidor.

Impactos no agro e combustíveis

O Brasil ainda é altamente dependente de combustíveis fósseis para o transporte de cargas e a produção industrial. Dessa forma, a alta dos preços tende a pressionar os custos de produção em diversos setores.

Além disso, segundo análise do professor de Negócios Internacionais e Geopolítica da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), a Petrobras pode ser forçada a promover reajustes sucessivos nos preços dos combustíveis, alimentando tensões políticas e econômicas no Brasil.

No que diz respeito ao agronegócio, o estado do Paraná, um dos principais polos do agronegócio brasileiro, pode ser diretamente afetado por alguns fatores. No primeiro momento, os insumos agrícolas tendem a ficar mais caros.

A elevação do preço do petróleo influencia no custo de fertilizantes, defensivos agrícolas e transporte. Além disso, vale lembrar que o Irã também é fornecedor de ureia, insumo essencial para a agricultura brasileira.

Caso Teerã opte por represálias comerciais ou enfrente sanções mais duras, haverá ruptura no fornecimento e aumento de custos para o produtor rural.