Política

Lula: vitória petista em 1º turno é bom para mercado financeiro?

Pesquisas eleitorais indicam possível vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já neste domingo (2)

Pesquisas eleitorais indicam possível vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já neste domingo (2), quando ocorre o primeiro turno das eleições 2022. Mas caso o cenário seja confirmado nas urnas, ele será bom para o mercado financeiro? Segundo Rodrigo Cohen, analista CNPI e co-fundador da Escola de Investimentos, empresa de educação financeira, a participação de Geraldo Alckmin (PSB) no governo pode ser benéfica ao mercado. 

“Se o Lula agir da mesma forma que agiu em suas gestões anteriores, será benéfico ao mercado. Apesar dele, teoricamente, ser de esquerda, está agora com Alckmin, então se ele aderir para um lado mais market friendly [amigo do mercado, na tradução literal], acredito que pode ser benéfico ao mercado sim”, analisou o especialista em entrevista ao BP Money. 

Participação de Alckmin no Governo pode ser benéfica ao mercado / Foto: Ricardo Stuckert / PT 

Para João Beck, especialista em mercado financeiro e sócio da BRA, o mercado já caminha na direção de uma possível vitória de Lula, mas reconhece que ajustes podem ser mais acentuados em caso de definição em primeiro turno. 

“Algumas dessas apostas vão em linha com a atuação do desgoverno petista junto as estatais e, portanto, investidores vendem empresas que tem o governo como controlador ou mesmo com participação minoritária, como Petrobras, Eletrobras e Banco do Brasil”, afirmou Beck. 

Ainda de acordo com o especialista, outros ativos podem cair em caso de vitória petista. “Outras apostas de queda podem ocorrer em subsidiárias e empresas com participação do BNDES, como BR Distribuidora, BB Seguridade, COPEL, entre outras”, completou.

Vitória de Lula em 1º turno pode gerar volatilidade

Cohen também destaca que não há um candidato favorito do mercado em geral, mas de setores. Para ele, uma vitória petista logo no primeiro turno pode gerar certa volatilidade.

“Tanto Lula quanto Bolsonaro não são mal vistos pelo mercado. Não existe uma unanimidade para saber quem é o melhor. O que existe são setores que se beneficiam quanto ao plano de governo de cada um. Se Lula ganhar neste domingo, talvez o mercado tenha uma volatilidade um pouco maior pela incerteza gerada, pois ainda não mostrou seu plano de governo e nem sua equipe econômica”, afirmou Cohen. 

“Investidores estrangeiros tendem a gostar do Lula. Vários gestores, de grandes fundos, também já falaram bem do petista. Não acho que ele seja desfavorável ao mercado, assim como Bolsonaro, no qual muitos já declararam apoio a ele. Não há um candidato favorito, mas tenho convicção que o Brasil continuará para cima independente de quem ganhe”, completou o especialista. 

Em meio a aproximação do pleito e a tendência de vitória petista em primeiro turno, como apontam as pesquisas, o mercado começou a se movimentar nesta semana. Houve uma desvalorização de 2,5% do real, além de o Ibovespa ter caído 4%, desempenho inferior ao índice S&P 500 dos EUA no mesmo período. O saldo de recursos estrangeiros em ações na B3 está negativo em R$ 2,3 bilhões neste mês.

“Não estamos em um cenário de volatilidade tão grande como de costume em períodos eleitorais, pois o mercado está sendo guiado muito mais pelo cenário externo, então independe de haver segundo turno ou não”, salientou Cohen.

Apesar de não ter divulgado sua equipe econômica, o ex-presidente ganhou um reforço na última semana, que acabou acalmando o mercado: o ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles. 

Ele é a escolha mais desejada dos investidores para ser o czar econômico e, ao mostrar seu apoio a Lula, levou os operadores a verem maiores chances de ele fazer parte do próximo governo.

Contestação do resultado impacta?

Com a possibilidade de definição neste domingo (2), o PL (Partido Liberal), de Bolsonaro, emitiu um documento oficial em que questiona à segurança das urnas eletrônicas. Além disso, o atual chefe de Estado também tem declarado, sem provas, que haverá fraude nas urnas. Apesar da possibilidade de contestação do resultado, Cohen não acredita que o fator irá impactar o mercado. 

“Não acho que qualquer tipo de contestação do Bolsonaro, caso ele perca, irá impactar o mercado. A menos que haja uma contestação e tenha o mínimo de comprovação possível que houve algum tipo de fraude, aí sim ficaria bem volátil”, afirmou. 

Quanto ao cenário macroeconômico, a maior preocupação, em caso de vitória de Lula, será a âncora fiscal que substituirá o teto de gastos. “Ainda há incertezas quanto a este tema e como os recursos serão arrumados para financiar a agenda de gastos e investimentos. Tais incertezas fiscais deixam o mercado avesso ao risco”, concluiu Beck, que também é economista.