O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, apresentam nesta terça-feira (23), em Nova York, o TFFF (Fundo Florestas Tropicais para Sempre), uma das principais apostas do governo brasileiro para a COP30.
O mecanismo vai remunerar países em desenvolvimento que mantiverem suas florestas em pé, contemplando mais de 70 nações tropicais.
O anúncio ocorre na sede da ONU (Organização das Nações Unidas), durante a Climate Week, que vai até 28 de setembro. Além de Lula, participam do evento o príncipe William, da Inglaterra, e o presidente da Colômbia, Gustavo Petro.
Estrutura do fundo
Articulado pelo Brasil em parceria com outros cinco países em desenvolvimento e seis nações desenvolvidas, o TFFF pretende substituir mecanismos transitórios de financiamento climático.
A meta é levantar um aporte inicial de US$ 25 bilhões de governos investidores, capaz de atrair outros US$ 100 bilhões do setor privado.
Segundo cálculos do Ministério do Meio Ambiente, o fundo poderá gerar US$ 4 bilhões por ano para os países beneficiários.
Só o Brasil, dono da maior área de florestas tropicais do mundo, deve receber cerca de US$ 900 milhões anuais, valor três vezes superior ao orçamento discricionário da pasta ambiental.
Diferença em relação ao Fundo Amazônia
O TFFF se diferencia do Fundo Amazônia, baseado no mecanismo REDD+ de créditos de carbono. Enquanto o Fundo Amazônia paga pela redução comprovada de emissões de CO₂, o TFFF funcionará como um fundo fiduciário, semelhante aos endowments das universidades americanas.
Os recursos captados serão aplicados em mercados de capitais, gerando retornos que, após remunerar os investidores iniciais, deixarão um excedente estimado em US$ 4 bilhões anuais para distribuição entre os países tropicais.
“Já exploramos demais a natureza para gerar recursos financeiros e bens materiais. Agora é hora de usar o que produzimos para proteger a natureza”, afirmou Marina Silva.
Os países serão remunerados por hectare de floresta preservada, sem a necessidade de emitir créditos de carbono. Pelo desenho do fundo, 20% dos recursos recebidos deverão ser repassados a comunidades indígenas e tradicionais.
“Ao aceitar o risco maior de capital júnior, as nações investidoras atraem o setor privado. Isso garante previsibilidade e justiça na remuneração da preservação”, explicou André Aquino, assessor especial do ministério.
A proposta surge em um momento de impasse global: o Acordo de Paris avança lentamente, países mantêm metas pouco ambiciosas e os Estados Unidos deixaram o tratado. Fora da Convenção do Clima, o TFFF pode se tornar o principal trunfo político da COP30, marcada para Belém em 2026.
O grupo inicial de países beneficiários inclui Brasil, Colômbia, Gana, Indonésia, Malásia e República Democrática do Congo. Entre os financiadores pioneiros estão Alemanha, Emirados Árabes, Estados Unidos, França, Noruega e Reino Unido.
Desafios e expectativas
Especialistas veem a iniciativa como forma de corrigir uma distorção histórica da política climática.
“Reduzir o desmatamento é um benefício difuso para toda a humanidade. O TFFF distribui de maneira justa os custos da preservação para quem já protege suas florestas”, avalia André Guimarães, diretor-executivo do Ipam.
Já Leonardo Sobral, do Imaflora, alerta para a necessidade de vigilância:
“A sociedade civil precisa acompanhar de perto como os recursos serão usados. Haverá remuneração para áreas privadas? E para povos tradicionais? Quais programas públicos vão garantir a conservação das florestas? Isso precisa ser bem planejado”.