O presidente da Argentina, Javier Milei, negou, no último domingo (28), a pretensão de desfinanciar e fechar as universidades públicas do país.
Milei acusou seus opositores de usar da defesa da educação pública, uma “causa nobre”, segundo ele, e “prostituí-la”.
“Chama-se falácia do espantalho. Nossos opositores inventaram uma mentira e nos atacam a partir dessa mentira”, afirmou.
As declarações aconteceram dias após a marcha universitária na Argentina – o maior protesto, até então, contra as medidas do presidente, consideradas “drásticas” – na última terça-feira (23), em Buenos Aires e outras cidades do país.
Centenas de milhares de pessoas foram às ruas, atendendo a uma convocação de estudantes, graduados e professores universitários, à qual aderiram sindicatos, partidos da oposição e cidadãos em geral.
As universidades se declararam em emergência orçamentária depois que o governo prorrogou, este ano, o orçamento de 2023, embora a inflação ao ano tenha beirado os 290% em março.
Milei celebra ‘milagre econômico’ na Argentina, mas a que custo?
Economista e professora de MBAs da FGV, Carla Beni explicou ao BP Money a estratégia utilizada pelo Governo Milei para atingir o chamado “milagre econômico”. A especialista pondera que o presidente vem cumprindo sua promessa de produzir o superávit, mas com alguns custos.
De acordo com Beni, o governo realizou alguns cortes, congelando as despesas e deixando que a inflação de mais de 200% as corroessem, aumentando, assim, a receita via imposto inflacionário.
“Quando se tem um processo inflacionário muito elevado, os impostos sobem sozinhos porque a inflação sobe 250% em um ano. Então se não fizer absolutamente nada, a arrecadação sobe fortemente. Nesse cenário, ele não precisou aumentar o imposto, pois a inflação fez esse serviço para ele sobre a receita. Ele impediu que a inflação corrigisse as despesas”, explicou Beni.
Dentre os cortes realizados pelo presidente argentino está o repasse do percentual de impostos para as províncias, especíe de estados aqui no Brasil. Segundo Beni, a medida utilizada pelo governo federal foi crucial para atingir o superávit.
“Existe um fundo de repasse igual ao Brasil, no qual a União repassa um percentual dos impostos para as províncias. Ele deixou de fazer esse repasse e passou a não corrigir as despesas. Com isso, o superávit acontece naturalmente quando se infla a receita e não corrige as despesas, pois passa a produzir um superávit primário que, por conseguinte, produziu o pagamento dos juros que ele tinha que pagar, tendo um resultado fiscal na última linha”, ponderou a especialista.
Já para o economista e professor da Facha, Ricardo Macedo, o superávit ocorreu mais pela corrosão da despesa do que pelo aumento da arrecadação de imposto inflacionário.
“O Milei está tendo resultados em termos de queda de inflação, mas muito em função de cortes drásticos nas despesas. Ele busca o ‘plano motosserra’ de cortar subsídios, realizar privatizações, congelar despesas, entre outros aspectos, fazendo até com que haja uma recessão, pois demite funcionários públicos, corta programas sociais a fim de reduzir a participação do estado para reduzir a demanda”, pontuou, Macedo.