O presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem recebido apoio de economistas importantes nas últimas semanas, como Pedro Malan, Persio Arida e Henrique Meirelles. Tal movimento pode ser visto como um aceno do petista ao centro, dando a entender que seu governo poderia adotar uma linha pró-mercado. Lula, no entanto, ainda não revelou quem será seu ministro da Economia numa eventual eleição, atiçando a curiosidade do mercado.
Apesar do petista não revelar seus planos para a economia, membros de sua companhia já vêm dando dicas para o público. Guilherme Boulos (PSOL), deputado federal recém-eleito e figura presente nas campanhas de Lula, afirmou em entrevista ao Roda Viva, feita em 3 outubro, que o plano de governo do ex-presidente não incorporou as ideias liberais de seu vice, Geraldo Alckmin (PSB).
“Alckmin foi posto como expressão de uma frente democrática anti-Bolsonaro. Em nenhum momento, as ideias liberais do Alckmin foram incorporadas ao programa de governo”, disse.
De acordo com analistas consultados pelo BP Money, o fato do ex-presidente não revelar seus planos para a economia, mesmo com o segundo turno se aproximando, pode irritar e atiçar os investidores.
Governo Lula terá viés socialista ou liberal?
Antes de ser presidente pela primeira vez, Lula era visto no meio político-econômico como um revolucionário e simpatizante das doutrinas marxistas. Com sua vitória em 2002, ano em que derrotou José Serra (PSDB), o mercado esperava um governo com uma política econômica com um viés socialista.
Quebrando todas as expectativas, o governo do petista adotou em um viés pró-mercado, mantendo as políticas econômicas do tempo do FHC (PSDB) e escolhendo um liberal, Henrique Meirelles, para comandar o Banco Central do Brasil.
Agora em 2022, Lula, novamente candidato, não nega ou confirma se o tom de seu eventual novo governo será semelhante ou diferente ao de 2002. De acordo com o petista, o nome de seu ministro da economia só será revelado caso ele seja eleito.
“Lula tem dito que não vai falar de equipe e ministérios sem ganhar a eleição. Para o mercado financeiro, que gosta de ter um horizonte para análise e ajustes, isto é negativo, visto que, sem saber qual será o profissional que irá fazer parte da equipe econômica, não se sabe a linha de atuação em seu histórico, sem assim poder interpretar se Lula vai ter uma política voltada ao social, em que gastos podem ultrapassar o orçamento ou irá adotar uma linha pró mercado”, explicou Marcus Labarthe, sócio-fundador da GT Capital.
Na opinião do analista político Caio Mastrodomênico, Lula ainda esconde quem será seu ministro da Economia porque há a possibilidade dele anunciar nomes que já passaram durante os governos petistas, algo mal visto no mercado.
“O Lula não revelou ainda quem é o ministro da economia porque ele sabe que vai ter uma resposta muito negativa do mercado, pois o time que compõe um possível um eventual governo Lula é o time de sempre, é o time já demonstrou que não sabe fazer, que entregou ao Brasil perdendo o ranking de participação na economia mundial”, argumentou.
Na visão de Uriã Fancelli, cientista político e autor do livro “Populismo e Negacionismo”, há um ponto de interrogação ainda mais importante sobre um eventual novo mandato do petista: o Ministério da Economia irá ser fragmentado?
“Lula ainda não revelou seu Ministro da Economia, mas sequer sabemos se haverá um Ministério da Economia, ou se ele voltará a ser fragmentado em Ministério da Fazenda, Ministério do Planejamento, Ministério da Indústria e Comércio Exterior e Ministério do Trabalho”, explicou.
Governo Bolsonaro dá mais tranquilidade ao mercado
Ao contrário de Lula, o presidente Jair Bolsonaro (PL) já apresentou seus planos para a economia caso seja reeleito. Apesar de não garantir a permanência de Paulo Guedes em um eventual novo mandato, Bolsonaro já deu a entender que irá dar continuidade às posturas econômicas adotadas nos últimos 4 anos. De acordo com Labarthe, a postura do presidente é vista como positiva pelo mercado.
“Mercado interpreta de uma forma positiva a continuidade da equipe econômica, desde o simples fato de saber como sua equipe pensa e toma as decisões até ter um horizonte de como serão os próximos 4 anos. Devemos entender que quanto mais pontos de interrogação, menos o mercado irá investir”, afirmou.
Mastrodomênico partilha da mesma visão de Labarthe, dando enfoque às medidas governamentais tomadas por Bolsonaro e pelo BC nos últimos meses.
“Nós hoje somos um país referência pro mundo no combate à inflação, com medidas que o governo tomou de redução de impostos, isenção de tarifas na importação de alimentos e outros insumos para produção agroindustrial. O mercado vê com bons olhos a continuidade da política reformista. Com essa eleição do presidente Bolsonaro e a configuração atual do congresso, as pautas do governo passarão com mais facilidade”, disse.
Atitude de Lula não deve alterar resultado do pleito
Apesar do mercado se irritar com o fato de Lula não revelar quem será seu ministro da economia numa eventual eleição, os analistas consultados pelo BP Money são unânimes ao afirmar que tal fato não irá mudar a disputa presidencial. Só no primeiro turno da eleição 2022, Lula recebeu 57,2 milhões de votos (48,4%).
“O voto do Lula é dividido em duas vertentes: o voto ideológico, que é aquele petista, e o voto anti-Bolsonaro, que é direcionado ao Lula. Então o plano de governo do Lula pouco importa pra quem está votando nele nesse momento. É até visto que, nas pautas de costumes, Lula se posicionou primeiro a favor do aborto e depois contra o aborto e não modificou em nada a intenção de voto. O voto do Lula é ideológico e um voto de protesto”, opinou Mastrodomênico.
Na visão de Rafael Bombini, Assessor da DOM Investimentos, o fato do eleitor petista ser extremamente fiel faz com que o jogo não vire para o presidente Bolsonaro por conta dessa polêmica sobre o ministro da Economia.
“Quem vota no Lula vai continuar votando no Lula e pouco importa o plano econômico, o ministro da economia. Quem vota no Lula é fiel ao seu candidato, diferente dos eleitores do Bolsonaro. Isso pode atrapalhar a campanha do Lula? Eu acho que assim via de regra não”, disse.
Labarthe acredita que o fato do ministro da Economia do Lula não ser revelado não irá atrapalhar a campanha do petista, alegando que grande parcela dos brasileiros não possuem o conhecimento necessário para compreenderam a importância do tema.
“A grande maioria dos brasileiros tem falta de conhecimento sobre a grande importância que é o papel de uma equipe econômica na linha final. Infelizmente poucos sabem que leva anos ou décadas para organizar as contas públicas e meses ou anos para tudo entrar em desequilíbrio”, afirmou.