Gabriel Galípolo já percorreu um longo caminho até ser indicado ao comando do Banco Central (BC), nesta quarta-feira (28). O executivo se aproximou da cúpula do PT antes do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ser eleito para o 3º mandato. Mas, mesmo sendo próximo do governo, ele tem sinalizado uma defesa à alta de juros, se necessário.
Galípolo entrou ainda mais no radar do mercado após ter sua indicação ao cargo de Diretor de Política Monetária do BC aprovada pelo Senado, cadeira que assumiu em 12 de julho de 2023. Os holofotes se acenderam mais com a crescente expectativa de que ele seria o indicado para substituir Roberto Campos Neto.
Desde então, o executivo tem tentado equilibrar o fato de ter sido indicado pela gestão petista com a necessidade de demonstrar independência de atuação na autarquia para perseguir a meta de inflação, segundo o “Valor”.
O diretor do BC já participou de nove reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária), tendo 7 delas finalizado com decisões unânimes e 2 com votação dividida quanto à Selic (taxa básica de juros). A primeira foi justamente a que deu inicio ao ciclo de cortes na taxa, até o atual patamar de 10,50% ao ano.
Na ocasião, Galípolo se uniu ao atual presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, e a outros três diretores pela redução de 0,50 ponto percentual na taxa, ao passo que outros quatro dirigentes votaram pelo corte de 0,25 ponto percentual.
Galípolo virou ‘peça-chave’ para conter temor do mercado com influência política no BC
As dúvidas quanto à independência dos dirigentes indicados por Lula ao BC começaram a se estender no mercado após a reunião do Copom em maio deste ano, quando quatro diretores indicados pelo atual governo votaram por uma redução de 0,50 p.p. enquanto os outros cinco decidiram pelo corte de 0,25 ponto, que acabou prevalecendo.
Após isso, a autarquia começou um trabalho de contenção do temor. Galípolo, em sua primeira fala pública após a reunião, disse que cogitou votar por 0,25 ponto e que se sentiria confortável em defender essa posição, de acordo com o “Valor”.
A discussão, segundo o diretor, era sobre largar ou não o “guidance” (orientação) dado anteriormente, de um corte de 0,50 ponto, e envolvia credibilidade, que os membros mais novos ainda estavam construindo.
“Quando você ganha credibilidade, você ganha graus de liberdade inclusive para você poder eventualmente não entregar o ‘guidance’ e mesmo assim não gerar uma dúvida no mercado sobre qual é sua função de reação’, afirmou ele na época.
A autarquia segue perseguindo esse esforço segue firme e Galípolo assumiu um papel protagonista no enredo, chegando a fazer a primeira fala do colegiado sobre política monetária depois da última reunião do Copom.
O discurso do diretor foi considerado “duro” pelo mercado. Desde então, o futuro presidente do BC tem dito que todas as opções estão na mesa e reforçado a possibilidade de alta da Selic, o que já foi expresso na ata do Copom.
O mandato de Gabriel Galípolo, após sabatina da CAE (Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, iniciará em 1º de janeiro de 2025, com um mandato de 4 anos à frente.
O cenário de expectativas do mercado com o compromisso do BC no combate à inflação, ao passo que o governo espera que a instituição reduza a Selic o mais rápido possível.