Política

Por que é vantajoso para a China o retorno do Talibã?

Potência asiática possui interesse em reservas de minério do Afeganistão, mas templos budistas foram entrave

Recentemente o Afeganistão foi tomado pelo grupo terrorista  Talibã e o medo voltou a assombrar a população local. O confronto contra os extremistas na região já dura mais de 20 anos. Mas, agora o Estado Islâmico possui, supostamente, um novo aliado, a China.

O Afeganistão possui uma das maiores reservas de minério do mundo, atualmente são avaliadas entre 1 e 3 trilhões de dólares, e ainda possuem o segundo maior depósito de cobre não explorado do planeta. Com toda essa riqueza, a China fechou um contrato de exploração de cobre em 2008, quando o Afeganistão enfrentava uma crise econômica e precisava gerar caixa. Os dividendos trilionários nunca chegaram.

Em 2013, o consórcio chinês tentou renegociar o acordo feito e alegou que o minério precisaria ser processado fora do país, com custos maiores do que os estimados inicialmente, e por isso considerava justa uma redução no pagamento de royalties. O governo afegão negou, porém a confusão não parou assim.

Embaixo das reservas de cobre existe um antigo templo budista, considerado uma relíquia arqueológica. Mesmo com a transferência de 2 mil objetos budistas para um museu em Cabul, a preocupação com a possível destruição do local não se dissipou e as obras pararam.

Em 2016, o Talibã  anunciou que estava liberando a China para explorar as reservas de cobre. Contudo, o grupo dominava apenas algumas áreas rurais e não ocupava o poder central, e o anúncio não chegou a ser levado a sério.

Em julho deste ano, houve um encontro entre o ministro de relações internacionais da China, Wan Yi, com a comissão de Assuntos Externos do Talibã, liderada por Abdul Ghani Baradar, na cidade de Tianjin.

Após o golpe no Afeganistão, o governo chinês afirmou que deseja manter “relações amistosas” com os talibãs e que respeita “o direito do povo afegão de decidir seu próprio destino e futuro”. Segundo a porta-voz da Chancelaria chinesa, Hua Chunying, “os talibãs indicaram várias vezes a esperança de desenvolver boas relações com a China”.

Além de ter acesso aos depósitos minerais na região, que incluem reservas de ferro e de nióbio, fora metais cruciais para a indústria de ponta, a China também pretende desenvolver a infraestrutura necessária para o Afeganistão entrar na Nova Rota da Seda, megaprojeto mundial de construção de portos, estradas e ferrovias ligando três continentes;
Ásia, África e Europa.

Ademais, a Rússia também reconheceu o Talibã como novo governante do Afeganistão e divulgou que pretende ter “relações diplomáticas” com o governo.

A impressão geral era que o governo do Afeganistão, então apoiado pelos Estados Unidos, dificilmente concordaria com iniciativas que poderiam beneficiar a China, potência rival para os norte-americanos.