Política

Há chance de virada? Bolsonaro precisa de tempo para "trunfo econômico"

Segundo analistas consultados pelo BP Money, Bolsonaro poderá se reerguer se os índices econômicos melhorarem a tempo

O presidente Jair Bolsonaro (PL) tem encabeçado o segundo lugar nas pesquisas presidenciais mais recentes, estando apenas atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que governou o Brasil no início dos anos 2000. Atrás nas pesquisas, Bolsonaro precisaria de uma melhora econômica grande e visível nos últimos dias antes do pleito, segundo especialistas ouvidos pelo BP Money.

Para Felipe Berenguer, analista político da Levante Investimentos, Bolsonaro já está se recuperando eleitoralmente com os recentes índices de inflação e desemprego, que melhoraram nos últimos meses. Apesar disso, ele reitera que os efeitos não serão totalmente sentidos no primeiro turno.

“Desde o início do ano, a revisão baixista da inflação, a queda de cerca de dois pontos percentuais na variação trimestral do desemprego e a surpresa econômica, com um PIB melhor que o esperado, guardam correlação com a melhora da popularidade do presidente. Evidentemente que, nesse momento, faltando cerca de 15 dias, os efeitos já serão limitados para o primeiro turno”, relatou.

Segundo a maioria das pesquisas, no entanto, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva tem chances de vitória já no primeiro turno, o que poderia anular as possibilidades de Bolsonaro com a economia melhorando até o mês que vem. 

De acordo com Caio Mastrodomênico, analista político e CEO da Vallus Capital, os índices econômicos estão favoráveis para Bolsonaro no momento. Porém, nesta eleição ele acredita que os eleitores estão também olhando para o posicionamento político dos candidatos.

“O Brasil não piorou de fato nos últimos anos. Nós tivemos no início do governo Bolsonaro uma pandemia. Uma oposição muito forte no Congresso, uma oposição muito forte no Judiciário. E ainda assim o governo conseguiu avançar com algumas reformas. Hoje a gente assiste o Brasil se recuperando na contramão do mundo. Então os índices econômicos são completamente favoráveis ao presidente Bolsonaro”, afirmou.

“Mas não é somente este componente que fará que o eleitor tome uma decisão num cenário tão polarizado como nós estamos hoje. O eleitor está olhando muito para ideologia dos candidatos”, completou.

Bolsonaro poderá ganhar votos com o Auxílio Brasil

Além da melhora dos índices econômicos, os analistas consultados pelo BP Money afirmam que, conforme o Auxílio Brasil for sendo distribuído entre as classes mais pobres, Bolsonaro poderá angariar votos, ajudando-o na disputa contra Lula.

“O Auxílio Brasil pode ajudar o presidente. Por essa razão que a campanha política do Bolsonaro tem explorado tanto o Auxílio. É necessário lembrar que, além de ser uma medida necessária, é popular e vai de encontro justamente com o antigo Bolsa Família, que é carro chefe de campanha de Lula”, disse Beatriz Finochio, cientista política e advogada especializada em direito tributário.

Segundo Mastrodomênico, o Auxílio Brasil pode ser um “trunfo” de Bolsonaro, visto que ajuda governamental consegue agradar e chamar atenção da população mais pobre.

“O Auxílio Brasil, na verdade, tem uma força muito grande porque ele relaciona as classes mais baixas. As classes mais baixas são historicamente mais desassistidas em termos educacionais, em termos de acesso à cultura, serviços e lazer. Quando você propicia através desse financiamento público o acesso dessas coisas, sem dúvida nenhuma isso atrai a atenção do eleitor beneficiário para com o candidato que está fornecendo esse benefício a elas”, explicou.

Liderança de Lula também pode ser explicada por nostalgia

De acordo com Berenguer, a piora dos índices econômicos não é o único componente que explica a liderança de Lula nas pesquisas eleitorais desde o começo do ano para cá. Para ele, há uma “nostalgia” em volta dele, visto que o petista teve seus dois governos presidenciais bem avaliados pelos brasileiros.

“O ex-presidente Lula, diferentemente do candidato petista de 2018, Fernando Haddad, é amplamente conhecido pelo Brasil e teve boa avaliação durante seus dois mandatos. Sua dinâmica parece mais ligada ao eleitorado historicamente lulista”, afirmou.

Finochio também acredita que existem outras variantes que expliquem o primeiro lugar de Lula nas pesquisas. Para ela, o discurso do petista é mais inclusivo do que o de Bolsonaro. Além disso, afirmou que a memória dos brasileiros a respeito da postura de Bolsonaro durante a pandemia está “fresca”.

“O discurso do Bolsonaro e sua retórica falam somente com uma parcela da população, enquanto o do Lula conversa com todos. A memória do brasileiro com os erros de Bolsonaro durante a pandemia está muito mais recente do que os escândalos de corrupção do governo Lula”, disse.

“Os índices econômicos foram piorados porque estamos em um cenário de pandemia e guerra externa com possível recessão mundial, porém, estamos em um cenário favorável frente a países como Alemanha, França, logo há mais um descontentamento da população com a pessoa física do Bolsonaro do que efetivamente com os feitos do seu governo”, completou. 

Bolsonaro acumulou crises

Durante seus quatro anos de mandato, o governo Bolsonaro enfrentou alguns turbilhões, como troca de ministros, confusões com a imprensa e, sobretudo, a pandemia de covid-19.

Por conta do coronavírus, muitos comércios precisaram fechar. Para evitar uma crise econômica generalizada, o governo brasileiro passou a criar pacotes econômicos a fim de estimular a própria economia do País. Com o mesmo objetivo, o Banco Central decidiu reduzir a taxa básica de juros para 2% ao ano.

Além dos pacotes, o governo de Jair Bolsonaro começou a distribuir o auxílio emergencial em 2020, visando ajudar cidadãos que não estavam conseguindo enfrentar a pandemia no front econômico. Apesar da ajuda governamental, essas medidas contribuíram para o florescimento de uma inflação generalizada, que começou a atingir níveis galopantes em 2021.

No começo de 2022, com a piora dos índices econômicos, causada tanto pela covid-19 quanto pelos pacotes econômicos, o presidente Jair Bolsonaro começou a ver uma queda acentuada de sua popularidade, estando mais de 10 pontos atrás de Lula nas pesquisas presidenciais.

Neste começo de segundo semestre, no entanto, o Brasil tem mostrado alguns sinais de recuperação econômica. Em agosto, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), considerado a inflação oficial do País, ficou em -0,36%, segundo mês seguido de deflação.

No mesmo mês de agosto, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que a taxa de desemprego recuou para 9,1% ao final de julho, a menor taxa desde outubro de 2015. Mais recentemente, na primeira prévia de setembro, o IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado) registrou deflação de 0,80%.