Política

Selic: quadro externo (ainda) não permite redução da taxa

Segundo economistas consultados pelo BP Money, quadro externo e inflação no Brasil (ainda) não permitem corte dos juros nos próximos meses

Desde o mês de março de 2021 até agosto deste ano, a Selic teve 12 altas seguidas (o maior ciclo em 23 anos). O ciclo de alta se encerrou em setembro, quando o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75% ao ano. O mercado aguarda, agora, a decisão do Copom sobre a Selic, nesta quarta-feira (26). De acordo com especialistas, não existe nenhuma expectativa de corte nos juros até meados de 2023. 

Segundo José Geraldo Soares de Mello, professor de economia do Centro Universitário FAAP, o aperto monetário nos Estados Unidos reforça a expectativa de alta nas taxas de juros internacionais e, no Brasil, a Selic deve se manter no patamar atual de 13,75%. 

“O quadro externo associado ao rombo fiscal deste ano no Brasil não permite antever qualquer redução da taxa Selic nos próximos meses, pelo menos até meados de 2023”, disse Mello. 

O especialista da FAAP ainda destacou que o mercado, através do sistema de expectativas publicado pelo Banco Central (Boletim Focus), espera que a taxa Selic comece a diminuir a partir de junho do ano que vem.

“Mesmo na eventualidade de uma mudança de governo, não se deve esperar qualquer mudança com relação a independência do Banco Central. Pelo menos é o que tem sido sinalizado por interlocutores de Lula e reforçado pelas correntes de pensamento dos economistas que têm declarado apoio a sua candidatura”, complementou Mello.

O economista da Mirae Asset, Julio Hegedus Netto, destacou que espera por uma manutenção da taxa Selic em 13,75%. De acordo com o especialista, a taxa deve ser mantida neste patamar até quando o Banco Central visualize que a desaceleração do IPCA é algo consistente. 

“Além disso, o BC deve manter até que o Fed resolva dar uma parada no seu ciclo de juro, talvez entre 4,75% e 5,00%. Isso pode acontecer entre o primeiro e o segundo trimestre do ano que vem”, disse Netto. 

O gerente do departamento econômico do Banco ABC Brasil, Daniel Xavier, explicou que a magnitude do ajuste de juros já implementado foi significativa e, agora, o mercado espera a materialização disso na atividade econômica e, consequentemente, na inflação.

“As expectativas Focus para o IPCA estão hoje em tendência de baixa. E o pico do IPCA corrente já ficou para trás, em abril. Dessa forma, a desinflação projetada adiante deve, por si só, provocar alta dos juros reais efetivos – colaborando também para a convergência do IPCA à trajetória das metas. Esses aspectos, junto com a comunicação prévia do Banco Central, nos sugerem que a estabilidade da Selic em seu nível atual é adequada no presente momento, em paralelo com a manutenção de uma postura vigilante”, disse Xavier.

O analista CNPI-T da Eu Me Banco, Rafael Pastorello, também afirmou que o BC deve manter a taxa de juros no patamar de 13,75% na reunião desta semana. Segundo Pastorello, o primeiro fator que deve influenciar a decisão do Copom é a questão da inflação, que vem cedendo há alguns meses, inclusive com deflação. 

“Não vejo muito sentido em uma subida na taxa de juros, no curto prazo. Outro fator que precisamos ficar atentos é em relação à taxa de juros dos Estados Unidos. Não vejo motivo para uma redução na Selic, até porque nos Estados Unidos eles vêm de uma guinada da taxa de juros. Uma redução da taxa aqui no Brasil poderia impactar em uma fuga de capital estrangeiro para os Estado Unidos”, disse Pastorello.

Para Pastorello, se a economia se manter estável até o segundo trimestre de 2023, o corte na Selic deve começar a acontecer. 

“A partir do meio do ano que vem ou até um pouquinho antes, em abril ou maio, a Selic pode começar a sofrer cortes. Agora, tem uma série de fatores aí que podem interferir e antecipar ou prorrogar essa questão”, afirmou Pastorello.