Desde seu início, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vem apostando na agenda sustentável, com grandes expectativas para a COP-30, a ser realizada em novembro na capital paraense. Porém, a volta de Donald Trump à presidência dos EUA pode retardar o progresso dessas políticas, avaliam especialistas.
Trump já deixou claro que não pretende seguir os objetivos globais de desenvolvimento sustentável. Além de ter retirado os EUA do Acordo de Paris, ele promete avanços na exploração de petróleo e recuo em políticas de preservação ambiental.
Para analistas, a postura do presidente norte-americano influencia diretamente o financiamento de políticas e as parcerias internacionais para o desenvolvimento estratégias de transição energética, descarbonização e preservação de recursos.
Isto agrava expectativas que já não eram muito positivas, com países europeus, como a França e Reino Unido, retardando a adoção de energia renovável, comenta o coordenador da comissão de economia da APIMEC Brasil, Alvaro Bandeira.
Além disso, países da UE (União Europeia) não têm se mostrado dispostos a aumentar financiamentos para conter as mudanças climáticas.
“A gente vê uma França com um valor muito menor do que a gente esperava, a gente vê uma Alemanha com um valor muito menor do que esperava, então vai ter que fazer um esforço muito grande na COP-30 para elevar os valores dos países que permaneceram no acordo”, avalia a economista da Valor Investimentos Paloma Lopes.
Outro fator que pode dificultar as investidas do Brasil é a tendência de mudança do perfil político de muitos países para uma direção mais conservadora, que tradicionalmente não prioriza o combate às mudanças climáticas.
“Acho que a Alemanha é um bom exemplo, a chance do partido mais conservador se eleger me parece que é real, e a bandeira da sustentabilidade é mais fraca”, comenta a cofundadora da CCS Brasil, Isabela Morbach.
Nesse cenário, os recursos para a conservações nas florestas, o combate às queimadas e a criação de novas reservas ficam ainda mais comprometidos com a volta de Trump. “Trump no poder vai tirar metade ou mais da metade do dinheiro que a gente já contava, que é muito menos do que a gente esperava”, prevê Lopes.
Com Trump, Brasil vai precisar buscar alternativas mais baratas para avançar na sustentabilidade
Lopes considera que o Brasil vai precisar buscar alternativas menos onerosas para a avançar na agenda sustentável, como a conscientização do setor agropecuário para diminuir as emissões de carbono no plantio e manutenção das áreas.
“Vão ter que tentar (essas políticas) para melhorar a situação do Brasil, porque em termos de financiamento, com a saída do Trump (do Acordo de Paris), fica bem difícil”, diz a economista. Assim, é possível que o país recue em políticas sustentáveis, uma vez que não deve mais receber o financiamento que se esperava dos países mais poluidores.
Outra proposta do país que está ameaçada é a de avanço do mercado de carbono. As promessas de Trump de investir em novos poços de petróleo deixam claro que o presidente dos EUA não está preocupado com as emissões, segundo Lopes.
“O que vai acontecer é que o mercado de crédito de carbono vai tomar uma chacoalhada enorme porque não vai ter tanta demanda para ele”, prevê a economista. Dessa forma, as expectativas são negativas para o projeto de abertura de uma plataforma para a negociação de créditos de carbono na B3.
Para a especialista em Direito Ambiental Heloisa Verri, a criação da plataforma ainda é viável, mas a iniciativa vai ter o desafio de diversificar compradores, focando em empresas europeias e asiáticas alinhadas com ESG, e provavelmente vai precisar negociar os créditos a preços mais baixos que o esperado.