Como explorar a Borgonha com compras inteligentes e menos custosas: Um olhar crítico para regiões pouco exploradas da Terra Santa

Sim, a terra-santa realmente está surfando uma onda comercial que beira o inacreditável

Chegamos em um momento de mercado que falar que a Borgonha está cara demais se tornou mais um cliché. Sim, a terra-santa realmente está surfando uma onda comercial que beira o inacreditável.

Não que os produtores estejam necessariamente nadando em dinheiro, pelo contrário, o mercado pode ser cruel e, infelizmente, enquanto relatos de produtores vendendo vinhedos para garantir o sustento se torna mais comum, o mercado secundário se aproveita dos que estão dispostos a pagar vários zeros em alguns dos restaurantes e lojas mais caros do mundo.

Como então continuar bebendo Borgonha de maneira inteligente e menos custosa? Neste texto darei alguns exemplos de como os mapas podem te ajudar a beber melhor gastando menos. Lembre-se que vinho é um produto natural, apesar de parecer mágica, a realidade é mais científica do que muitos gostam de aceitar.

Como assim científica? Simples: geografia, composição de solo, clima e afins. Fronteiras são realidades criadas, portanto, o simples fato de um departamento ter imposto o limite territorial para um vilarejo, isto não significa que a natureza o respeita. Em outras palavras, é totalmente possível que as condições climáticas sejam idênticas em ambos territórios (ou nesse caso, vinhedos), mesmo que os preços sejam discrepantes.

Para ilustrar meu ponto de maneira mais clara, darei alguns exemplos. Começando pelo norte em Chablis (que tecnicamente faz parte da Borgonha), podemos observar o vinhedo 1er Cru de Montée de Tonnerre. Apesar de não possuir status de Grand Cru, o vinhedo está acoplado aos 7 vinhedos que são. Em degustação às cegas a diferença é muitas vezes irreconhecível – e ele tende a custar 30% a menos que seus vizinhos. Para ficar claro, seria possível jogar uma pedrinha de um vinhedo para o outro, tamanha é a proximidade, além de usufruírem do mesmo solo de marga de Kimmeridgiano.

Ademais, e progredindo em direção ao sul, podemos observar, por exemplo, o village de Vougeot que está imprensado entre os gigantes Chambolle-Musigny e Vosne-Romanée (casa do Romanée-Conti). Apesar de possuir menos status que seus vizinhos, Vougeot é capaz de produzir vinhos tintos absurdamente elegantes por uma fração do preço dos dois mencionados com proximidade geográfica bastante relevante. Destaque para o vinhedo de “Clos de la Perrieres”, monopólio do produtor Bertagna e colado no Grand Cru Clos Vougeot.

Dando sequência, para muitos, o espaço que engloba Mersault, Puligny-Montrachet e Chassagne-Montrachet é responsável pelos melhores vinhos brancos do planeta. Ocorre que, ao lado, literalmente, está o Village de Saint-Aubin (fale como se não houvesse hífen, “Santoban”). Ele custa em média 30% a menos que seus vizinhos e produz vinhos muito semelhantes. Indiferenciáveis? Não, mas quando falamos de “compra de valor”, este é um village que precisa ser mencionado.

Por último, chegamos no village de Pouilly-Fuissé na região do Mâconnais, extremo sul da Borgonha. Vizinha de Beaujolais (que não possui a melhor fama do mundo), o solo de granito e a influência mediterrânea são inclusive compartilhadas entre as duas regiões. Observando o potencial do village de Pouilly-Fuissé (que é compreendido como o vilarejo mais especial da região), produtores como Leflaive, Valette e Jules Desjourney se aproveitaram e decidiram produzir cuvées por lá. Em suma, são vinhos com identidade marcante em uma região pouco valorizada.

Com os exemplos acima, busquei providenciar algumas alternativas para bebedores iniciantes e experientes que buscam explorar a terra-santa de maneira mais profunda e gastando o mínimo possível. Para além da beleza da descoberta de novas regiões, é inegável que tal exercício o torna um apreciador mais competente e completo. Lembre-se que o segredo para o conhecimento enológico está na soma de estudo com “litragem.” Saúde!