Os brasileiros nunca estiveram tão endividados quanto hoje. A recente Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), demonstra que quase 78% das famílias, no país, têm dívidas (em atraso ou não), o pico mais elevado desde o início da série histórica produzida pela entidade.
Um detalhe que chama a atenção nesse perfil é o recorte por gênero: o ‘rosto’ do endividamento no Brasil é de mulher com menos de 35 anos, ensino médio incompleto e moradora das regiões Sul e Sudeste. Entre esse público, de acordo com a CNC, o endividamento subiu 1,1 p.p. de janeiro a fevereiro deste ano, para 79,5% do total de entrevistadas – já entre os homens, ao contrário, houve queda de 0,1 pp., para 77,2%.
Do total de mulheres endividadas, 18,8% se consideram ‘muito endividadas’, enquanto 15,5% dos homens acreditam estar nessa situação. As mulheres também têm mais dificuldades para arcar com seus compromissos financeiros: segundo o levantamento, 30,3% delas estão inadimplentes. Entre o público masculino, esse número é um pouco menor, chegando a 29,1%.
Deixando de lado o fato de que o orçamento ficou mais apertado para elas, pois muitas hoje assumem a chefia de seus lares, e que a grande maioria desconhece as bases da educação financeira, aceitando juros abusivos, o dado importante a se observar é que, apesar de mais endividadas e com maior dificuldade de pagar as contas, são justamente as mulheres que conseguem ‘dar a volta por cima’ e sair dessa situação complicada com mais facilidade.
O levantamento da CNC aponta que, uma vez inadimplentes, as mulheres buscam sair das dívidas num tempo mais curto. Em média, elas ficam 62 dias sem pagar dívidas, ao passo que os homens permanecem 63,5 dias, em média, com contas em atraso.
E isso acontece porque as mulheres se adaptam mais facilmente a alternativas de trabalho informal, visto que elas encaram fortes obstáculos para se inserirem no mercado de trabalho formal. Segundo pesquisa da Sociedade de Economia da Família e do Gênero (Gefam), cerca de 26 milhões de mulheres estão fora do mercado de trabalho, o dobro dos homens.
Para elas, a informalidade é encarada, efetivamente, como uma forma de sobreviver, de garantir renda extra e consequentemente de ‘limpar’ o nome, abrindo as portas para, em um segundo momento, voltar ao mercado formal.
Dentro do mercado informal, o segmento de venda direta aparece como uma das melhores alternativas para o público feminino recompor sua renda, dando atualmente oportunidade a mais de 5 milhões de mulheres no Brasil de terem um trabalho digno e, ao mesmo tempo, se dedicarem a cuidar da casa e dos filhos.
Como parte de um nicho de mercado que movimenta, anualmente, US$ 8 bilhões no país, o sistema de venda direta tem se reinventado, oferecendo a essas mulheres modelos de negócios mais atrativos e acessíveis, baseados, principalmente, no aprimoramento das plataformas de e-commerce e nas vendas via redes sociais. Startups como a Vendah, que se dedica a democratizar o uso dessas plataformas, disponibilizando às empreendedoras itens de casa, cozinha e decoração de fácil aceitação popular e sem a necessidade de investimento inicial, tornam-se, cada vez mais, uma solução imediata para quem precisa se livrar das dívidas.
Se a realidade do pós-pandemia mudou as regras no mercado de trabalho para elas, retrocedendo as conquistas femininas alcançadas nos últimos anos e interferindo no bolso das brasileiras, a boa notícia é que hoje elas já contam com formas criativas e viáveis, na área de venda direta, de conseguir sair da crise.