Uma análise ponderada sobre o dilema da "revolução dos produtores" de Champagne

Tenho ouvido e lido bastante a respeito da chamada "revolução dos produtores" de Champagne

Tenho ouvido e lido bastante a respeito da chamada “revolução dos produtores” de Champagne. Sinto que esse tópico está ganhando destaque global no universo dos vinhos.

Primeiramente, é evidente a pressão exercida pelos pequenos produtores (com vinhedos próprios) para alcançar maior qualidade, expressão de identidade e produção própria das uvas vinificadas.

Um exemplo disso é a assim chamada “proposta borgonhesa”, na qual muitos produtores estão se dedicando a criar cuvées a partir de vinhedos específicos, com a intenção de buscar incessantemente a expressão do terroir (como é feito na terra sagrada).

Entretanto, Champagne tem historicamente sido uma região dominada pela compra e venda de uvas de terceiros. Uvas provenientes de vastas áreas, raramente restritas a pequenas parcelas. Para se compreender a escala, produtores de Champagne que cultivam suas próprias uvas integralmente representam cerca de 7% da produção da região.

Dado o preço considerável por quilo de uvas, alguns produtores começaram a questionar se não seria mais sensato abandonar a produção de vinho e focar exclusivamente no cultivo das uvas. Isso, evidentemente, significaria menos riscos e trabalho. Uma proposta tentadora.

Isso nos deixa com um dilema.

De um lado, temos a produção em menor escala, com ênfase nas micro expressões do terroir, de produtores que cultivam suas próprias uvas. De outro, a massificação da produção, na qual um líquido de alta qualidade pode ser obtido, embora sem o enfoque na identidade de cada parcela.

É justamente essa a questão em discussão. No entanto, é inegável que Champagne não alcançaria o sucesso global sem as grandes casas produtoras. Empresas como Möet et Chandon e Veuve Clicquot, sem dúvida alguma, merecem respeito por terem pavimentado o caminho para os pequenos produtores.

Parece-me que o “problema” da região não reside nas grandes casas, mas sim na possibilidade de uvas de qualidade extremamente baixa resultarem em vinhos carentes de vitalidade, saúde e esperança.

Em resumo, não consigo conceber a magia da região sem a contribuição das grandes casas. Da mesma forma, não consigo vislumbrar um futuro no qual os pequenos produtores focados no terroir não desempenhem um papel crucial na produção.

Pelo contrário, parece-me que uma coexistência entre ambos, permeada pela troca de conhecimentos, em prol da evolução e da adoção de práticas vitícolas e de vinificação mais aprimoradas, seja a melhor alternativa.

Não apenas vinho, tampouco apenas gás. Um pouco de ambos e… champagne.