Dividendos

Queda nos juros pode reduzir proventos de bancos?

Diversos fatores podem influenciar no lucro dos bancos, incluindo os juros. Contudo, analistas apontam que as instituições são boas pagadoras.

Meta fiscal
Meta fiscal / Foto: Freepik

Num cenário de queda nos juros do país, é possível que os bancos passem a lucrar menos, gerando certa dificuldade no pagamento de altos dividendos. É algo a se pensar no contexto em que o governo brasileiro tem realizado esforços para a redução dessas taxas.

Em meados de março de 2024, o Copom (Comitê de Política Monetária) anunciou a redução da Selic (taxa básica de juros) para 10,75%. A decisão já era esperada pelo mercado financeiro, que segue com as projeções em linha com as atualizações da instituição.

Nesse sentido, Washington Mendes, contador e especialista em empreendedorismo e finanças, explica que o cenário pode afetar a distribuição de proventos das instituições.

“Quando os juros estão baixos, os lucros dos bancos podem diminuir. Isso porque, com juros menores, eles ganham menos dinheiro. Se os bancos ganham menos, podem ter dificuldade para pagar os dividendos aos acionistas”, disse Mendes.

Dados do BC apontam que a Selic, em 2023, teve seu corte fixado em 12,75%, 12,25% e 11,75%, respectivamente, em outubro, novembro e dezembro.

Por outro lado, Renoir Vieira, sócio da Itapeva Consultoria, entende que os bancos brasileiros não devem ser tão afetados pelas alterações nas taxas de juros, e que as instituições são boas pagadoras.

“No geral, os bancos brasileiros são bons pagadores de dividendos. Itaú e Bradesco são dois exemplos. Recentemente, o Banco do Brasil tem feito pagamentos importantes de dividendos também”, explicou Vieira.

Nessa mesma perspectiva, o Banco do Brasil (BBAS3), o Bradesco (BBDC4) e o Itaú (ITUB4) reportaram lucros de R$ 9,44 bilhões, R$ 2,9 bilhões e R$ 9,4 bilhões respectivamente. Todos os resultados correspondem a altas anuais e trimestrais.

Também no mesmo sentido, em fevereiro, o BB anunciou a distribuição de dividendos no valor total de R$ 1,75 bilhão, correspondendo a R$ 0,22081862607 por ação. Já no dia 1º de abril, o Bradesco pagou R$ 0,018974809 por ação preferencial em JCP (Juros sobre Capital Próprio), ao passo que o Itaú distribuiu aos acionistas R$ 0,01765 por ação em JCP.

Redução no ritmo de corte nos juros

Na última reunião do Copom, do BC (Banco Central), alguns de seus membros debateram a possibilidade de uma redução no ritmo de cortes de juros básicos, caso os receios se mantenham no cenário econômico.

]No encontro, o grupo estabeleceu o sexto corte consecutivo de 0,50 p.p. (ponto percentual) na Selic, fixando a taxa em 10,75% ao ano.

De onde vem o lucro dos bancos

Os bancos lucram com spread, ou seja, a diferença entre os juros que o banco cobra ao emprestar dinheiro e a taxa que ele mesmo paga ao captar dinheiro, como foi explicado pelo sócio da Itapeva Consultoria, Renoir Vieira.

Nesse sentido, na perspectiva de Vieira, a variação da Selic não afeta “de maneira linear” o lucro das instituições, consequentemente, não tem efeito direto nos dividendos.

Além disso, em um cenário mais macro, existem fatores que podem influenciar na geração de lucro de um banco, como capitalização, condições financeiras, e riscos/provisões.

Na perspectiva do contador Washington Mendes, especialista em empreendedorismo e finanças, as organizações que apresentam lucros consistentes “são aquelas com maior potencial para recompensar seus acionistas com dividendos atrativos”.

Por outro lado, os bancos que possuem um alto nível de riscos ou precisam manter grandes provisões para perdas detêm, possivelmente, uma capacidade limitada de distribuir dividendos. “A gestão eficaz desses riscos é, portanto, essencial para assegurar a continuidade dos dividendos”, acrescentou Mendes.

Itaú (ITUB4) é o queridinho dos dividendos

Em seu último pagamento de proventos, o Itaú (ITUB4) quase desbancou a Petrobras (PETR4). O banco anunciou a distribuição de R$ 16,92 bilhões em dividendos aos acionistas no primeiro trimestre de 2024.

A petroleira, que passou por polêmicas referentes aos dividendos, conseguiu manter seu posto de maior pagadora, com a distribuição de R$ 17,89 bilhões em dividendos.

Outros bancos começaram a adicionar os papéis do Itaú às suas carteiras pelos dividendos expressivos. Instituições como o Banco Safra foram um deles.

Além disso, um levantamento da Grana Capital, que considerou grandes empresas financeiras, corretoras e casas de análise, apontou que o Itaú se destacou na performance entre as outras companhias do estudo.

O Itaú Top 5 apresentou ganhos de 4,59%.

Analistas apontam alternativas para investimento

Mesmo com os bancos se provando como bons pagadores, analistas apontaram setores que podem trazer um bom retorno. O destaque foi o segmento de energia elétrica.

Dentre os citados está o segmento de utilidades, com demandas similares, com companhias de água e luz, conhecidas por pagarem bons proventos.

As companhias de telecomunicação também foram mencionadas, como empresas que tratam de telefonia e internet. Além disso, as organizações de bens de consumo não duráveis também se destacaram, comercializando produtos de limpeza, comida e itens de demanda constante.