Maior petroleira do Brasil, a Petrobras (PETR4) tem um cenário benéfico à frente, visando a alta do petróleo no exterior, causada pelos conflitos geopolíticos. No entanto, analistas apontaram que as disputas políticas que cercam a estatal podem ser um entrave para isso.
O risco iminente de um ataque do Irã a Israel, alertado por fontes próximas ao governo iraniano, levaram as negociações do petróleo, matéria-prima comercializada pela Petrobras, a um salto. O Brent, referência mundial, voltou a bater US$ 90.
O cenário já era visto a algumas semanas e se intensifica nesse momento. Além do Brent, o petróleo WTI, referência nos EUA, também subiu, a US$ 85,66.
Por conta das atividades de exportação da commodity e seus derivados, realizada pela Petrobras, espera-se que as cotações beneficiem a estatal. Mas, conforme explicaram especialistas ao BP Money, a prática interna de preços é um problema.
Com os preços que exerce hoje, a Petrobras tem uma defasagem entre 15% a 20%, no cálculo de paridade internacional.
“Se o petróleo e o dólar continuarem subindo, essa defasagem vai aumentar. O que pode ser mais prejudicial ainda para os papéis, já que o governo não vai conseguir segurar um desequilíbrio dos preços internos contra os preços internos, um desequilíbrio tão alto”, disse Leonardo Piovesan, CNPI e analista fundamentalista da Quantzed.
Um reajuste de preços está longe do cenário da Petrobras (PETR4)
Yan Pedro, fundador da empresa Hey Investidor e da OPI Escola de Investimentos, contextualiza que a situação é complexa, visto que a Petrobras pode perder pela disparidade dos preços, porém um reajuste seria ruim para a economia.
“Isso porque a gasolina é a base da cadeia produtiva do Brasil, ou seja, se ela ficar mais cara, tudo fica também”, disse.
Contudo, Piovesan diz não ver um reajuste sendo aplicado no momento, dadas a recente conjuntura conturbada que a Petrobras enfrenta, com rumores de uma possível saída de Jean Paul Prates do cargo de presidente.
“O cenário político também[entra], já que estamos prestes a entrar em período de eleições municipais”, lembrou ele.
“Esse reajuste não deve ser feito no curto prazo, pelo menos não de forma integral. Justamente para preservar esse capital e a aprovação política do governo”, analisou.
O histórico da empresa, com casos de corrupção investigados anos atrás, deixa os investidores em alerta quanto às movimentações do governo Lula.
“Uma interferência política raramente é boa numa empresa privada, a tendência é que a empresa apele ao populismo e a queda dos preços, visto que essa é uma estratégia clássica do governo, para segurar ou baratear o preço”, concluiu Pedro.
O que está acontecendo no Oriente Médio?
O ponto de partida dos conflitos se inicia com a guerra entre Israel e Hamas. Segundo o analista da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman, os combates deixaram a região instável, principalmente no canal de Suez, onde os Houthis têm atacado navios cargueiros.
O grupo Houthi, age como uma forma de suporte ao Irã e aos demais grupos financiados pelo país. A atuação acontece no Mar Vermelho, rota fundamental na ligação comercial da Europa para a América do Norte e Ásia.
“O tensionamento no conflito Israel-Hamas gerou o medo de que Irã e outros grandes produtores de petróleo pudessem se envolver, e isso impactar na produção”, disse.
Arbetman comentou que espera um arrefecimento desses conflitos, contudo, na sexta-feira (12), as ameaças de um ataque por parte do Irã a Israel, e também aos EUA, caso o país se envolva no combate, mostrou que as circunstâncias seguem aquecidas.
Na concepção do analista, esse conflito, diretamente, não interfere no preço das commodities.
“Essa dinâmica do preço do petróleo é muito mais momentânea, motivada por um aquecimento, por um aumento de consumo X o nível de produtividade que vinha existindo do que por qualquer outro fato”, finalizou Arbetman.
Todavia, os desdobramentos, como explicou Bruno Corano, economista e investidor da Corano Capital, elevam a inflação no custo do petróleo.
Além do Oriente Médio, a guerra da Rússia contra a Ucrânia também preocupa o mercado. “Tanto o conflito no Oriente Médio como na Europa, eles têm feito o mercado refletir sobre a oferta. Eles colocam mais pressão sobre qual vai ser a oferta disponível de petróleo para a frente”, comentou Corano.
“Para a Petrobras, que do ponto de vista da produção está longe do conflito, quanto maior os preços, maior a possibilidade de ganhos que a companhia vai poder ter”, concluiu.
Para Yan Pedro, se houver mudanças nas atividades comerciais da Petrobras, a repercussão, com certeza, será negativa. “Os investidores estão com bastante receio do que pode acontecer com a empresa”, acrescentou.