A Zig, anteriormente conhecida como Zig Pay, é uma empresa originária do Nordeste que hoje atua internacionalmente no mercado de entretenimento. A companhia oferece soluções de gestão, pagamento e ingresso para eventos, bares, festivais e afins.
A Zig é a primeira empresa de tecnologia focada na prosperidade do mercado de entretenimento ao vivo.
Em abril de 2024, a companhia concluiu uma rodada de captação de investimentos, na qual obteve um montante de R$ 110 milhões. Em entrevista ao BP Money, o CFO da empresa, Eduardo Brunetti, explicou que os recursos captados foram destinados ao crescimento da empresa.
Ele também destacou que a companhia está avançando no mercado em um ritmo que permite inovar e conquistar muitos mais clientes.
CFO da Zig, Eduardo Brunetti / Foto: Divulgação
Confira a entrevista na íntegra:
Como a Zig Pay surgiu, como foi a ‘virada de chave’, para que a Zig Pay se tornasse a Zig?
A Zig, como é hoje, é uma criação que surgiu através da fusão de duas companhias: a Zig Pay, uma empresa de Salvador, Bahia, e a NetPDV. Ambas são empresas de software voltadas para o mercado de entretenimento ao vivo.
Nosso mercado e nossos clientes atuam no que chamamos de mercado de entretenimento ao vivo. Nesse segmento, trabalhamos em áreas que vão desde festivais, shows, concertos, arenas e esportes, até bares, restaurantes, casas de shows e baladas. É um conceito bem amplo de entretenimento ao vivo, mas as duas empresas compartilham o mesmo propósito: oferecer um sistema de gestão operacional de vendas e pagamentos para esse mercado. A diferença é que a NetPDV, no início, atendia grandes eventos.
A NetPDV trazia como clientes eventos como Lollapalooza, Rock in Rio, Fórmula 1, entre outros. Já a Zig Pay era mais focada na base da pirâmide, trabalhando com casas de shows, baladas e eventos menores.
A fusão teve um racional muito claro. Com ela, a Zig cresceu em termos de clientes maiores (com maior poder aquisitivo e volume de atividade), enquanto a NetPDV buscava clientes menores, de perfil mais modesto. Ou seja, em vez de competirmos, unimos nossas forças.
Assim nasceu a Zig, com esse rebranding. Hoje, com o passar do tempo, todos os sócios e fundadores da Zig e da NetPDV permaneceram no negócio, seja como membros da operação, seja como membros do conselho de administração. Acredito que foi uma transação muito bem-sucedida, pois conseguimos manter as pessoas certas na empresa. Além disso, a operação foi bastante complementar do ponto de vista da estrutura diretiva.
Atualmente, todos têm um papel no negócio, seja no dia a dia, seja no conselho. Gostamos de dizer que temos as pessoas certas nas “caixinhas” certas. Foi muito bacana como a fusão foi construída. Eu entrei depois da fusão.
A fusão ocorreu em 2021, e eu entrei na Zig em 2022. Atualmente, sou CFO da companhia e cuido de algumas outras áreas além das funções tradicionais de um CFO. No meu histórico, sou um CFO de primeira viagem.
Trabalhei 15 anos em banco de investimento, focado em fusões, aquisições, e auxiliava empresas a realizarem seus IPOs (oferta inicial de ações) e follow-ons (oferta subsequente). Nesse mercado, eu cobria as empresas de tecnologia.
Após 15 anos no mercado, decidi fazer uma mudança de carreira. Encontrei o projeto da Zig, me apaixonei por ele e me juntei à empresa em outubro de 2022.
Quais foram os invertimentos para consolidar nova identidade?
O que foi interessante é que essa fusão não apenas trouxe os sócios atuais, fundadores dos dois negócios, mas também, naquele momento, trouxe investidores financeiros.
Assim, 2021 foi um ano muito importante para a companhia, porque, de um lado, havia a Zig Pay; do outro, a NetPDV. Eles se uniram, e ainda houve a participação de um grupo de investidores, capitalizando a companhia para o crescimento que estava por vir.
Além dos investimentos, naquele momento, tivemos uma conversa sobre aspectos macro, como qual seria o branding da nova companhia: ela se chamaria Zig Pay? NetPDV? Qual seria o novo nome? E até mesmo como nos posicionaríamos no mercado.
Naquela ocasião, o aporte dos investidores foi muito significativo, pois trouxe uma certa tranquilidade para que pudéssemos investir na construção da marca e no nosso produto. A ideia era criar um produto cada vez mais unificado, para não parecer que eram duas empresas diferentes, com culturas e produtos distintos, etc.
Com o aporte de capital, conseguimos investir tempo e recursos para acelerar essa fusão.
Vale lembrar que estávamos no período de reabertura do mercado, no pós-pandemia, então havia uma necessidade de velocidade, pois o mercado estava retomando com força, novos eventos estavam surgindo, restaurantes e bares reabrindo, e as pessoas voltando a sair. Aquele capital e investimento foram fundamentais para nos dar agilidade na captura desse retorno de mercado no pós-pandemia.
Até mesmo do ponto de vista numérico, a companhia resultante da fusão das duas empresas cresceu cerca de oito vezes em três anos, comparando 2021 com 2024. Isso se reflete no volume transacionado, na receita e também no tamanho da equipe. Atualmente, temos quase 500 funcionários na Zig, espalhados pelo Brasil, México e Europa.
Após captar os R$ 110 milhões, quais serão os próximos passos da empresa?
Dentro do nosso mercado de entretenimento ao vivo, não acreditamos que “somos líderes”, mas estamos liderando o setor. Temos que ter a humildade de entender que é a “barriga no balcão de atuar” e que precisamos estar sempre investindo em produtos, inovando, sempre tentando agradar ao nosso cliente, prometendo menos e entregando mais. Focamos na melhoria da jornada do cliente. Por isso, temos uma “obsessão” pelo cliente. Dizemos que o primeiro pilar do DNA cultural da empresa é o palco do cliente.
Hoje, temos comitês de inovação, contamos com o auxílio dos próprios investidores e do nosso conselho sobre como vamos trazer soluções novas para esse mercado, e como vamos endereçar as dores que já existiam com novos produtos ou novas soluções.
A rodada [de investimentos] em que fizemos a capitalização é voltada ao nosso crescimento, para desenvolver melhorias de produtos e produtos adjacentes, assim como mencionei bastante aqui os temas de inovação. Então, acredito que o mercado pode esperar uma Zig cada vez maior do ponto de vista de volume transacionado e receita. Temos uma empresa voltada ao crescimento, e o mercado pode esperar também muita inovação para os nossos clientes.
A Zig tem entrado na tendência da IA generativa? Como a tecnologia é usada na empresa?
Nós já aderimos e estamos aderindo cada vez mais. A IA pode atuar em diversos pilares do nosso negócio, tanto do ponto de vista interno quanto externo. Internamente, eu acredito muito na questão do suporte ao cliente, como podemos ser mais ágeis e assertivos em um atendimento, na jornada daquele cliente aqui dentro [do aplicativo]. Acredito que a IA pode ser uma ferramenta muito bacana para conseguir escalar, melhorar a operação, além de proporcionar uma jornada melhor para o meu cliente sem a necessidade de trazer muitas pessoas.
Para mim, isso é uma ferramenta de escalabilidade quando olho internamente. Já quando olho externamente, um dos grandes valores da Zig é não apenas como software que ajudará o meu cliente a vender mais, mas também a controlar melhor o seu negócio. Isso envolve dar acesso a informações importantes para a tomada de decisões.
Para eventos, por exemplo, eu consigo mostrar ao meu cliente qual é o perfil de consumo das pessoas presentes, qual é a jornada de consumo dessas pessoas, quais são os picos de consumo, quais produtos (por SKU) estão em destaque e como isso conversa com os eventos históricos dele.
Eu consigo fornecer dados que ajudarão meu cliente a tomar melhores decisões para o seu negócio. E nós estamos trabalhando em como a IA pode ajudar nesse processo, que é basicamente o seguinte: imagine que eu possa tornar a jornada desse cliente mais simples.
O cliente quer saber quantas pessoas visitaram o restaurante essa semana. Atualmente, ele tem que ir a um dashboard, clicar e ir obtendo as informações, o que demanda tempo. Mas com a IA, eu consigo fornecer essa resposta de uma forma muito mais simples, sem que ele precise gastar muito tempo buscando essas informações.
Além disso, é possível saber, dessas pessoas, quantos eram homens, quantos eram homens acima de 30 anos, etc. Se ele quiser enviar uma notificação e oferecer um brinde para que eles voltem, ele pode. Dessa forma, de maneira muito simples, automática e autônoma, ele consegue trabalhar melhor essas informações dentro do seu negócio e tomar decisões sem precisar, também nesse ponto de escalabilidade, ter muitas pessoas ou gastar muito tempo para fazer isso.
Quanto a companhia planeja faturar dentro de dois ou três anos?
Em 2027, queremos cruzar a marca de US$ 120 milhões em faturamento. Hoje, se analisarmos o crescimento da Zig do ponto de vista do Brasil, temos menos de mil casas fixas como clientes, e acreditamos que esse mercado é gigantesco. Atualmente, podemos ter uma base de mais de 120 mil casas fixas, então há um espaço muito grande para crescer.
Estamos fazendo aproximadamente 6 mil eventos por ano, e esse é um mercado de quase 100 mil eventos, então ainda há muito espaço para crescer e realizar mais eventos somente no Brasil.
Em relação ao exterior, não se trata apenas de adicionar novos clientes para a Zig, mas também de trazer novos serviços para esses clientes. No ano passado, compramos uma empresa de ingressos, que era um produto que ainda não oferecíamos na Zig. Porém, era muito natural para a empresa oferecer esse serviço, pois já prestávamos serviços para esses clientes dentro de eventos. A aquisição foi feita com o intuito de fornecer o serviço de venda de ingressos para os mesmos clientes que já estão na nossa base.
Temos esse pilar internacional, que é outra fonte de crescimento para a Zig. No final de 2022, abrimos oficialmente portas para fora do Brasil, com operações no México e na Europa. Atualmente, o mercado internacional representa cerca de 10% do nosso faturamento, mas acreditamos que, em até 5 anos, a Zig terá a maior parte de seu faturamento vindo de fora do Brasil. Será uma empresa mais internacional do que uma empresa com receita exclusivamente no Brasil.
A companhia pretende realizar uma nova rodada de investimento?
Hoje avaliamos tudo. É claro que uma rodada de captação tem um atrativo maior, não só pelo capital, mas também pelos próprios sócios que vêm para o negócio. São pessoas que ajudam nas tomadas de decisão, entre outras coisas.
Acredito que, com essa ótica, talvez busquemos algum fundo que nos ajude a acelerar o crescimento mais representativo fora do Brasil.
Não apenas um fundo brasileiro. Dito isso, também avaliamos outras alternativas, como dívidas e dívidas estruturadas. Tudo está na mesa; temos a ideia de calcular o que realmente vale mais a pena.
Mas, por enquanto, estamos com a situação bem controlada. Como comentei, não precisamos mais levantar capital, pois estamos em um bom ritmo de crescimento. No entanto, se quisermos, poderíamos avaliar a possibilidade de acelerar nosso ritmo de crescimento.
Se decidirmos tomar essa medida, que seria mais ou menos para o ano que vem, aí acho que faz sentido. E eu gosto da ideia de trazer sócios para nos ajudar nesse desafio internacional.