Especialistas dão dicas

Organização financeira para 2025: como começar?

O próximo ano pode apresentar desafios, especialmente relacionados à inflação e questões fiscais, mas especialistas mostram como se preparar

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Foto: Freepik

O início de um novo ano pode ser o momento ideal para organizar as finanças. Em 2025, organizar-se e começar a investir deve ser ainda mais importante, considerando um cenário de inflação global e políticas monetárias e fiscais ainda incertas, avaliam especialistas.

Também há oportunidades que podem trazer um ambiente propício para quem quer começar a investir. “Setores ligados à tecnologia, inteligência artificial e sustentabilidade devem continuar em destaque, representando oportunidades de crescimento no longo prazo”, destaca Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.

Confira, a seguir, quais são os primeiros passos para se organizar financeiramente e no que ficar de olho em 2025, segundo especialistas do mercado financeiro.

Como começar a organização?

O primeiro passo é entender sua situação financeira e fazer um mapeamento de receitas, despesas e dívidas, organizando-os em um caderno ou planilha, destaca Lima. É importante identificar onde é possível cortar gastos para garantir que se gaste menos do que ganha.

“Antes de tratar um problema, uma doença, é importante realizar o diagnóstico correto. Muitas vezes as pessoas ficam preocupadas em ir atrás de melhores retornos em investimentos, enquanto o planejamento financeiro é dois degraus antes de investir”, comenta o CEO da assessoria de investimentos EWZ Capital, Henrique Castiglione.

Inicialmente, é preciso identificar se você é uma pessoa “poupadora” ou “devedora”. “No mundo ideal, você deve ser capaz de poupar pelo menos 30% do que ganha para investir em você e no seu futuro. Na prática, qualquer valor serve, no início – com o foco de aumentar o valor gradativamente ao longo do tempo”, diz Heitor Martins, fundador da Valor Academy.

Ao construir um orçamento, considere os seguintes pontos:

  • Priorização de gastos essenciais: “o primeiro passo para um planejamento eficaz é identificar e mensurar os gastos com bens e serviços indispensáveis, como moradia, alimentação, saúde e transporte”, destaca o gestor da Hike Capital Ângelo Belitardo.
  • Limites para despesas variáveis: depois de organizar seus gastos básicos, é fundamental fazer uma análise para diferenciar o que é indispensável do que é apenas um desejo. Isto significa separar as despesas essenciais — como moradia, alimentação e saúde — daquelas que podem ser ajustadas ou eliminadas, como compras impulsivas ou gastos com itens não prioritários. Belitardo ressalta que elencar esses gastos não só ajuda na organização, como também a aprender a dar valor ao dinheiro e usá-lo de forma consciente.
  • Guardar um percentual dos ganhos para reserva de emergência: após o mapeamento dos gastos, este deve ser o próximo passo, instrui o analista de investimentos Hulisses Dias. De acordo com ele, a reserva deve cobrir entre seis e 12 meses de despesas essenciais. “Esse fundo é crucial para lidar com imprevistos sem ter que recorrer a dívidas”, afirma o analista.
  • Construir uma base financeira sólida, então desfrutar: após a criação de uma reserva de emergência, o próximo passo é acumular patrimônio para investir e planejar o futuro, destaca Belitardo. “Com planejamento, o orçamento também pode contemplar o lazer e os desejos de curto prazo, como viagens e aquisições materiais. Esse é o momento de aproveitar o presente sem comprometer os planos para o futuro, criando um equilíbrio saudável entre satisfação imediata e realização de sonhos a longo prazo”, afirma o gestor.

Quais são os primeiros conceitos que investidores iniciantes devem aprender para se organizar?

Os especialistas destacam alguns tópicos essenciais que precisam ser estudados por quem pretende começar a investir. São eles:

  • Risco vs. Retorno: este equilíbrio ajuda a determinar quais investimentos são mais compatíveis com seu perfil e metas financeiras. Quanto maior o risco, potencialmente maior o retorno, mas é importante saber onde você se sente confortável.
  • Liquidez: representa a facilidade e velocidade com que é possível resgatar o dinheiro investido, sem grandes perdas. Investimentos com alta liquidez são ideais para quem busca acesso rápido aos recursos.
  • Diversificação: consiste em distribuir seus investimentos em diferentes tipos de ativos, para minimizar riscos. Ao diversificar, você evita que problemas em um único investimento comprometam todo o seu capital.
  • Inflação: é um fator crucial, pois afeta diretamente o poder de compra ao longo do tempo. Ao investir, é importante considerar opções que ajudem a proteger seu patrimônio contra esse cenário.
  • Juros Compostos: esse conceito é um aliado para quem pensa no longo prazo. Os juros compostos funcionam como um efeito multiplicador, aumentando seu capital à medida que seus investimentos crescem ao longo do tempo.

Quais são os melhores investimentos para quem está começando?

Os produtos mais seguros para investidores iniciantes geralmente combinam baixo risco com alta liquidez. Veja algumas opções:

  • Tesouro Direto: esses títulos são uma alternativa de baixo risco, com liquidez diária (dependendo do título) e regulamentação pelo governo federal. No momento, aqueles atrelados à taxa Selic representam uma boa oportunidade, uma vez que a taxa atualmente está em patamares elevados e tende a se manter assim por um longo período.
  • CDBs (Certificados de Depósito Bancário): os CDBs de grandes bancos são considerados seguros, possuem liquidez diária e são garantidos pelo FGC (Fundo Garantidor de Créditos). Eles também são simples, acessíveis e oferecem segurança para quem está começando a investir.
  • LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio): são atrativas por serem isentas de imposto de renda para pessoas físicas e, assim como os CDBs, contam com a proteção do FGC. No entanto, esses produtos costumam ter um período de carência até o momento do resgate, o que significa que você deve se planejar para deixar o dinheiro investido por um tempo maior.

Pontos de atenção em 2025?

Os especialistas apontam os principais fatores que devem movimentar os mercados no Brasil e no exterior, com destaque para política monetária, inflação, mudanças fiscais e inovações tecnológicas.

  • Política Monetária e taxas de juros no Brasil e nos EUA

A política monetária deve ser um dos temas mais relevantes em 2025, afirma Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos. As decisões do Banco Central brasileiro e do Fed (Federal Reserve) em relação às taxas de juros vão ter impactos diretos sobre a renda fixa e o câmbio. Para os investidores, entender esses movimentos vai ser fundamental para ajustar suas estratégias financeiras.

No cenário brasileiro, caso as taxas de juros continuem em alta, é importante considerar cautela com determinados investimentos, destaca Ângelo Belitardo, gestor da Hike Capital. Por exemplo, títulos de renda fixa indexados ao IPCA com vencimentos após 2027 podem apresentar perdas em cenários de alta de juros.

Assim, Belitardo recomenda priorizar alternativas como títulos de curto prazo indexados ao CDI e fundos de investimento conservadores, com exposição ao CDI e volatilidade inferior a 0,5% ao longo de 12 meses.

  • Inflação e ajustes fiscais

Outro tema de atenção em 2025 vai ser a inflação, tanto no cenário global quanto no Brasil. Com expectativas de alta no indicador para o ano que vem, o analista Hulisses Dias recomenda que investidores mantenham uma carteira diversificada, como forma de proteção contra qualquer cenário adverso.

Além disso, a saúde fiscal do país deve ser observada de perto. Acompanhar análises realizadas por grandes instituições financeiras pode ajudar os investidores a compreender os riscos associados aos investimentos, especialmente quando o cenário fiscal apresenta incertezas.

  • Oportunidades nos setores de tecnologia, sustentabilidade e inovação

A busca por inovação e sustentabilidade deve continuar em destaque no próximo ano. Segundo Frederico Avril, sócio da Septem Capital Gestão Patrimonial e Investimentos, setores como tecnologia, inteligência artificial, criptomoedas e energias renováveis apresentam um grande potencial de crescimento no longo prazo.

Além disso, o foco em práticas ESG (ambientais, sociais e de governança) tem ganhado cada vez mais relevância, com investimentos voltados para responsabilidade social e ambiental se tornando estratégicos. Esses fatores se somam ao cenário econômico para criar novas oportunidades, mas exigem atenção e análise por parte dos investidores.

Buscar um profissional pode ser vantajoso, mas cuidados são importantes

Contar com o apoio de profissionais qualificados pode fazer grande diferença, destaca Belitardo. Ao procurar auxílio com investimentos, é importante trabalhar com consultores que tenham certificações reconhecidas, como a CGA (Certificação de Gestores de Recursos ANBIMA) e a CFA (Chartered Financial Analyst).

Além disso, prefira profissionais que adotem o modelo fee-based, ou seja, uma remuneração transparente baseada em honorários fixos em vez de comissões por produtos vendidos. Esse modelo garante uma relação mais alinhada entre o profissional e o cliente, reduzindo conflitos de interesse e promovendo uma abordagem focada nas necessidades do investidor.

Outro ponto essencial é pesquisar os produtos de investimento oferecidos pelo profissional ou instituição. Alguns produtos, como COEs (Certificados de Operações Estruturadas) e títulos de renda fixa com baixa liquidez — como NTN-Bs de longo prazo, CRIs, CRAs e debêntures — frequentemente são recomendados por gerentes ou assessores financeiros devido às altas comissões que oferecem. Por isso, tenha atenção redobrada para evitar que seus investimentos sejam guiados apenas por essas comissões.

Fique atento também a possíveis conflitos de interesse. Se o profissional ou instituição oferecer apenas produtos de uma única empresa ou grupo financeiro, isso pode indicar uma abordagem enviesada, limitando suas opções e escolhas.