CSD BR: empresa quer se tornar concorrente direta da B3

Fundada em 2018 pelo empresário Edivar Queiroz Filho, a CSD BR atua no mercado de registro e busca ser também uma depositária

Fundada em 2018 pelo empresário Edivar Queiroz Filho, a CSD BR busca quebrar o monopólio da B3 e se tornar uma depositária. Atualmente, a empresa é uma registradora de ativos financeiros, derivativos, valores mobiliários e apólices de seguros – mercado monopolizado pela Cetip, parte da B3 (B3SA3).

“A B3 é um monopólio de fato, acho que isso é inegável. Todo monopólio acaba prejudicando o consumidor final. Se você pensar nos EUA, onde você tinha o monopólio das ferrovias, do querosene, você vê que os monopólios impedem a própria evolução do mercado. Se você não tem competição, você não tem motivo para melhorar o seu produto. O monopólio, no final das contas, trava a evolução do mercado e a oferta de serviço”, pontuou o CEO.

Os títulos registrados pela CSD BR somam hoje algo em torno de R$ 210 bilhões. A fatia ainda é pequena comparada à B3, mas é vista como um excelente resultado para uma registradora que quebrou o monopólio e está operando há apenas 2 anos. Em 2022, o volume de ativos registrados cresceu 1.300% em relação ao ano anterior.

“Muita gente dá ênfase na competição, é um ponto importante, mas o ponto é que estamos trazendo novas tecnologias para o mercado, viabilizando produtos distintos. Ou seja, nós estamos ampliando o tamanho do mercado, obviamente em um ambiente extremamente regulado pelo Banco Central e CVM (Comissão de Valores Mobiliários)”, disse.

No último dia 17 de março, a Superintendência-Geral do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) iniciou uma investigação contra a B3 por supostas práticas anticoncorrenciais. A denúncia partiu da CSD BR e pede para que a autarquia entenda se a Bolsa brasileira usou seu monopólio para excluir concorrentes do mercado de registros.

Confira a entrevista exclusiva do CEO da CSD BR para o BP Money

Você se formou em Física pela USP. Como foi a transição para o mercado financeiro?

Edivar Queiroz Filho – No final do curso de Física, eu vim tirar férias em São Paulo e meu cunhado me levou para uma corretora. Lá eles aziam umas operações e eu fiquei curioso para saber como eram feitos os cálculos. Ele jogou um livro para mim e brincou ‘faz a conta’. Nisso, eu vi que existiam oportunidades para se desenvolver nesse mercado, porque é um local bastante técnico.

Então a transição foi quase um acaso. Eu estava indo para fora para estudar, mas resolvi fazer um mestrado em Matemática em São Paulo para me especializar em finanças. Depois eu ainda fiz um doutorado na Universidade Politécnica (USP-Poli), aplicado também a finanças.

Como a CSD BR funciona? Em quais nichos ela atua e quais deles ela compete diretamente com a B3?

Edivar Queiroz Filho – Para entender a história da CSD BR, temos que voltar um pouquinho. Eu fundei uma outra empresa que se chama Luz Soluções Financeiras e um dia a gente desenvolveu um produto, que é um ambiente de negociação de ativos líquidos, e a gente colocou a questão de como seria a liquidação deste produto.

Antigamente, existia um monopólio escrito, que essa liquidação só poderia ser feita pela Cetip. O Banco Central, na busca de eficiência, tirou esse monopólio. E a gente viu uma oportunidade muito grande de desenvolver uma segunda alternativa à Cetip (que já havia se tornado a B3).

Naquele momento, eu saí de uma reunião e convidei o Daniel Polano, hoje CTO da empresa, que era um cliente e seguia a carreira na indústria de fundos, para fundar CSD BR comigo. E aí a gente captou recursos de algumas famílias e fundou a companhia. Isso foi em 2018, quase em 2019. A partir daí, a gente vem buscando uma série de licenças adicionais.

Hoje, a companhia é uma registradora, com o objetivo de virar uma Cetip completa, porque a gente tem os pedidos de licença de depósito e de liquidação na CVM e no Banco Central – esses pedidos ainda estão pendentes. O objetivo principal é criar novos mercados e, nesse sentido, acaba concorrendo com a B3, nessa parte de balcão.

Uma segunda coisa que aconteceu, com o advento da 135 da CVM, a gente também decidiu fazer negociação em ações em lote. O 135 permite que a gente negocie. Então a gente vai lançar uma plataforma de negociações em lotes.

De uma forma mais educativa, o que é o mercado de registro e de depósitos?

Edivar Queiroz Filho – O mercado de registro já existe no Brasil há muito tempo e tem uma função social muito clara: ele busca refletir aquilo que está no book dos bancos. Ou seja, a grosso modo, as emissões primárias do banco. O banco faz um CDB, um NDF, e a gente espelha essas posições aqui e dá essa transparência para o Banco Central.

Como registradora, nós somos uma espécie de olhos do Banco Central e CVM, para que eles tenham ciência de qual posição os bancos carregam.

Isso é muito importante. Quando a gente olha para os EUA, onde teve a crise do subprime, os americanos precisavam saber qual era a posição dos derivativos. Então essa é uma maneira que os órgãos reguladores usam para garantir a estabilidade do sistema. A gente, aqui, ajuda na estabilidade do sistema. Por outro lado, dá uma segurança para o investidor que os produtos deles realmente existem, estão registrados.

Já o depósito atua, basicamente (é uma aproximação), no mercado secundário. Uma coisa é você comprar um CDB direto de um banco, a outra é comprar um CDB de um banco em uma plataforma, por exemplo em uma corretora, aí é o mercado secundário. Então é como se fosse um fiel depositário, que tem falando ‘esse CDB que foi comprado na plataforma X é da fulana’. Esse é o papel do depósito: garantir uma infraestrutura onde exista uma titularidade daquele ativo.

A parte da liquidação, é que quando você vende ou compra, a liquidação mais o depósito é o que faz essa garantia. Quando você compra alguma coisa de alguém, você sempre pensa ‘vou pagar, mas será que eu vou receber o produto?’. Então atuamos nesse meio falando ‘você paga para mim, eu bloqueio o produto, eu pago para o outro e aí eu destravo o produto para sua conta’. É o que a gente chama de DVP (Delivery Versus Payment ou entrega contra pagamento), é uma estrutura tanto da CVM, quanto do BC, que traz garantia para o investidor.

São coisas que você não vê, mas que se não tiver, você poderia ter um grande problema de pagar e não receber de volta. Então a gente garante que isso aconteça, é nossa função.

Atualmente, vocês são uma registradora e pretendem virar uma depositária e um agente de liquidação. Quando você fala desse último nicho, seria ter um sistema igual ao da B3, onde dá para comprar e vender ações?

Edivar Queiroz Filho – Ações ainda não, a não ser de grandes lotes – bem específico. Mas pensando no mercado de renda fixa, a gente terá os produtos. Em especial, no mercado de ações, ainda exige uma legislação nova que é a 135, que permite que a gente negocie ações, mas só em lotes grandes. Não é um investidor pessoa física. Então a gente faz essa parte de ações, mas para investidores grandes.

Nesse momento a gente está focado em grandes lotes, mas existe uma fase três da companhia, em que a gente vai buscar ampliar essa oferta de atuação, inclusive, para contemplar pessoa física. Mas isso é uma fase que depende de CCP (Contraparte Central).

A B3 é ainda a monopolista desse mercado de registro. À medida que a vai caminhando para as novas licenças, a gente vai destravando. Basicamente, a gente precisa das novas licenças para destravar uma série de novos mercados.

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