O mestre em economia pela Universidade de São Paulo e economista da XP Investimentos, Rodolfo Margato, participou da 31ª Convenção Anual da ADEMI-BA, e integrou a palestra sobre as expectativas acerca do cenário econômico em 2022. Em entrevista exclusiva ao BP Money, o especialista comentou sobre os possíveis impactos econômicos no Brasil por conta da chegada da nova variante da Covid-19, das políticas monetárias dos Estados Unidos e do cenário eleitoral no ano que vem
Em relação aos efeitos da variante da Covid-19, Ômicron, Margato explicou que o cenário é de muita incerteza sobre os possíveis impactos da nova cepa, derrubando as bolsas no exterior por conta da percepção de um possível risco na economia global. Em termos de inflação no Brasil, o especialista afirmou que ainda é preciso aguardar novas informações para observar se haverá uma mudança na tendência de recuperação da economia brasileira.
“No primeiro momento a gente pode até ter uma redução de inflação, porque afeta a demanda das famílias e das empresas, levando a um menor crescimento econômico, então não seria uma combinação favorável. No segundo momento, a depender do comportamento das taxas de câmbio, pode voltar a ter um impacto inflacionário. O que a gente observou com o surgimento de outras variantes, como a Delta, é que o primeiro momento é esse de desinflação, via a uma demanda mais fraca e, consequentemente, uma variação de preços menor”.
Falando sobre possíveis impactos das políticas econômicas dos EUA no Brasil, Margato afirmou que o presidente do Banco Central norte-americano (Fed), Jerome Powell, vem adotando medidas diferentes do observado nos últimos meses, retirando o termo transitório, que representava o processo inflacionário no país. O analista contou que é aguardado uma antecipação de alta na taxa de juros básico dos EUA, podendo afetar a taxa de câmbio brasileiro.
“A gente sabe que quando o juro de referência no exterior tem elevação, pode ocorrer um maior fluxo de capitais estrangeiros para mercados desenvolvidos, como norte-americano. Isso sozinho coloca uma pressão de alta na taxa de câmbio. É importante a gente ver como o mercado financeiro já antecipa esse movimento, se houver uma normalização de política monetária nos Estados Unidos, ou seja, uma elevação gradual de juros, talvez os impactos disso sobre a economia brasileira não sejam negativos. É um processo já esperado”.
O economista da XP também comentou sobre a retomada econômica e a precificação da taxa de juros no Brasil. Segundo Margato, o setor de construção civil vem se destacando na recuperação, alcançando um desempenho “acima da média da economia brasileira”. Sobre a política monetária, ele ressalta os efeitos que não estão sob o controle do governo como, por exemplo, os preços das commodities e os fatores climáticos, os quais elevam a inflação e, consequentemente, aumentam a taxa de juros.
“De forma geral a economia brasileira vem dando sinais de recuperação, mesmo com a fadiga nos últimos meses por conta da inflação alta e algumas quebras de safra, mas esperamos uma recuperação contínua no curto prazo. Existem dois grandes componentes causando a alta na curva de juros: primeiro pela inflação e pelas incertezas sobre a dinâmica inflacionária no ano que vem e necessidade de elevação da Selic pelo Banco Central; o segundo elemento relevante são as incertezas fiscais no longo prazo, a agenda de consolidação fiscal e sustentabilidade da dívida pública vem causando temores significativos nos mercados”.
Por fim, sobre as perspectivas acerca do ano eleitoral em 2022, Margato explicou que os preços dos ativos atualmente já incorporam as expectativas de oscilação para o ano que vem. “Poucos agentes esperam 2022 como um ano tranquilo, em termos políticos e econômicos. É difícil quantificar exatamente, mas acredito que uma boa parte da precificação recente de ativos, com a queda na bolsa, taxa de câmbio pressionada e curva de juros elevada, uma boa parte já reflete esse cenário de volatilidade e incerteza eleitoral no ano que vem”.