Presidente nacional do Democratas, ACM Neto bateu um papo com a BP Money sobre diversos temas que vêm movimentando a política nacional. Questionado sobre a plataforma econômica de Bolsonaro, o democrata reconheceu alguns pontos convergentes com o seu partido, mas salientou que o presidente deveria dar sinais de estabilidade ao país. “A gente sabe que muito do que acontece na economia, seja na de mercado ou na real, é resultado da interpretação que se faz das decisões políticas. Se o presidente tivesse aproveitado a oportunidade durante todo esse período para passar sinais de estabilidade e segurança, de respeito às instituições e não de contraposição, acho que teríamos hoje um desempenho econômico muito melhor”, ponderou Neto.
Além de defender a reforma tributária, apesar de ter criticado a atual proposta do governo federal (veja aqui), o ex-prefeito de Salvador também comentou a reforma administrativa: “Sempre defendi e pratiquei como prefeito de Salvador a linha de que a gente tem que gastar menos com a administração e mais com as pessoas. Então a reforma é importante, penso que é importante que ela avance no Congresso Nacional”.
Neto, a Reformas Tributária está próxima de ser votada. Como você tem acompanhado esse debate e o que acha da reforma? Ela tem que ser aprovada?
No Brasil todos desejamos uma reforma tributária, mas uma reforma de verdade. O que temos agora, sob deliberação da Câmara dos Deputados, não é uma. É um projeto que procura exclusivamente resolver o problema de caixa do governo. Não traz simplificação para o sistema tributário nacional, facilitação para a vida dos cidadãos e, sobretudo, redução de carga tributária. Não temos redução de carga. Temos um aspecto, que eu defendo, que é a correção da tabela do Imposto de Renda. Fora isso, o que a gente vê é que esse arremedo, que não podemos chamar de reforma, ele vai, mais uma vez, penalizar setores econômicos do país, gerar aumento de carga tributária e apenas resolver um problema momentâneo de caixa do governo. Por isso, o posicionamento do Democratas é contrário a essa proposta que está na Câmara dos Deputados.
Outra reforma que deve ser votada ainda este ano é a administrativa. Qual seu posicionamento em relação a esta pauta?
O debate avança com a competente relatoria do deputado baiano Arthur Maia. Entendo que é preciso rever completamente as estruturas de estado, definindo melhor o papel das carreiras e das funções públicas, revendo uma série de privilégios que são absolutamente inadequados e, sobretudo, permitindo que haja maior produtividade do setor público. Sempre defendi e pratiquei como prefeito de Salvador a linha de que a gente tem que gastar menos com a administração e mais com as pessoas. Então a reforma é importante, penso que é importante que ela avance no Congresso Nacional, claro que preservando carreiras que são essenciais para o funcionamento do serviço público brasileiro.
Quem já passou, pelo menos pela aprovação da Câmara, foi a privatização dos Correios. Você concorda com a sua venda?
Concordo. Assim como também defendi a privatização da Eletrobras. Existem certas empresas públicas que não tem mais sentido pertencerem ao governo. Isso irá resultar em um aumento de caixa para o governo, mas sobretudo numa melhoria da eficiência do serviço. Certos setores que são essenciais, sob a administração da gestão privada, com certeza podem ter melhor resultado, diminuir o preço e ampliar o serviço para o cidadão.
Falando sobre o presidente Jair Bolsonaro, ele de fato emplaca uma plataforma econômica que agrada o senhor? O que poderia ser alterado?
Em alguns aspectos sim. Destaco, por exemplo, a reforma da previdência. Democratas foi essencial para a aprovação da reforma. Talvez tenhamos dado uma contribuição mais importante do que o próprio governo para a aprovação. Defendo o avanço da reforma administrativa, defendo a política de privatização de algumas empresas do governo. Acho que algumas medidas que foram tomadas de controle de gastos públicos são também importantes. Então existem temas da pauta econômica que têm a minha concordância. Agora, tem uma coisa com a qual eu não posso deixar de evidenciar a minha discordância, que são os sinais que vem da política. O presidente poderia dar sinais aos país de muito maior estabilidade e segurança. A gente sabe que muito do que acontece na economia, seja na de mercado ou na real, é resultado da interpretação que se faz das decisões políticas. Se o presidente tivesse aproveitado a oportunidade durante todo esse período para passar sinais de estabilidade e segurança, de respeito às instituições e não de contraposição, acho que teríamos hoje um desempenho econômico muito melhor, uma perspectiva ainda melhor para o ano de 2022. Não posso deixar de destacar esse ponto, pois talvez ele tenha o mesmo peso que todas as outras decisões pontuais somadas têm. Não adianta fazer o certo de um lado e acabar fazendo o errado do outro. Se o governo der os sinais que o país espera, de previsibilidade, segurança e estabilidade democrática, e são coisas que ficam evidentes que não são difíceis, mas que algumas pessoas da equipe acabam errando.
Nosso site tem um viés mais de investimentos. Queria saber se o senhor investe e qual o seu perfil? Passou muito calor nessa queda dos ativos?
Invisto. Depois que deixei a prefeitura até me dediquei um pouco mais. Sempre tive um perfil moderado, muito mais para conservador, hoje tenho um perfil de buscar um pouco mais de risco, na medida que tenho um pouquinho mais de tempo para acompanhar os resultados dos meus investimentos. Diria que sou otimista, acredito no país. Apesar de toda a confusão que vem da política, apesar das incertezas que muitas vezes ocupam o notíciário, espero que a gente tenha um fim de ano de retomada do crescimento do país, que a gente possa crescer mais de 5%, que haja uma continuidade desse crescimento para o próximo ano, apesar das eleições que sabemos que irá trazer muita incerteza, mas se eu tivesse que apostar, meus investimentos continuarão sendo mais otimistas em relação ao futuro do Brasil.
Com o avanço da vacinação e a diminuição do número de casos e mortes, grandes capitais tem anunciado maiores flexibilizações, como público em estádios e boates. Qual a sua visão em relação a retomada econômica de Salvador? Acha que medidas como essa de liberação de público em estádios e festas já podem acontecer?
Ainda não é o momento de retomada de público nos estádios. Vejo sempre com muita cautela e é preciso ter um olhar muito cuidadoso para esse processo de liberação de possíveis aglomerações. Sabemos que existem setores que estão completamente comprometidos e afetados em função da pandemia, sobretudo o setor de eventos, que é importantíssimo para a Bahia e para Salvador. Sou a favor que a retomada aconteça de maneira gradual e bem calculada, com protocolos bastante rigorosos, mas tendo em vista com os riscos que a pandemia ainda nos traz. Graças a Deus o processo de vacinação já avançou, mas ainda existe uma parcela da população a ser imunizada, sejam os mais jovens, sejam a segunda dose, seja uma eventual terceira dose para os mais idosos. Não dá para pensarmos numa retomada completa da normalidade. Sou a favor que a abertura continue acontecendo, mas que seja feita sempre com cuidado e com segurança.