Saúde e negócios: entrevista com Marla Cruz, ex-sócia do Laboratório Leme

 

Após meses de pandemia, onde a saúde e os negócios eram, ou ainda são, inimigos nas conversas do dia a dia, entrevistamos Marla Cruz: médica, endocrinologista, ex-sócia e atual diretora médica do Laboratório Leme. A empresa, referência em exames laboratoriais no norte e nordeste do país, conquista o coração dos baianos em mais de 48 anos de tradição.

Na vida de Marla, o mundo empresarial e a saúde sempre andaram lado a lado. A empresária conta à BP Money que a inovação é a chave do sucesso para quem empreende no ramo da saúde, diz que “a única certeza que temos é a mudança“ e explica que empresas familiares centenárias dificilmente vão continuar a existir.

Confira a entrevista na íntegra:

 

Conte um pouco sobre a sua experiência empresarial.

Desde criança, sempre tive curiosidade pelos livros médicos de meu pai, meu exemplo como profissional da área. Entrei em Medicina e, no meio do curso, comecei a visitar o Laboratório Leme e a ter interesse por essa área. O Leme foi adquirido por meu pai para ajudar no diagnóstico dos seus pacientes, ele nunca teve interesse nas questões empresariais. Com o tempo, eu fui conhecendo o negócio e ganhando a confiança de meu pai até o momento que ele deixou tudo comigo e o Leme virou meu filho primogênito.

 

Quais são as principais características que um bom líder precisa ter? 

Um bom líder tem que ser agregador, inspirador, empático, racional, e gostar de trabalhar em equipe. Ele tem que ser capaz de reconhecer os pontos positivos de sua equipe, ajudar no que ela precisa melhorar através de feedbacks frequentes e disseminar a cultura organizacional. No mundo em que vivemos de constante transformação, um líder tem que ter a capacidade de se adaptar às mudanças e conseguir isso também em sua equipe. A liderança é algo que pode ser desenvolvido, não tem que ser um dom.

 

Conta pra gente alguma habilidade que você só aprendeu na prática, ali na vivência do dia a dia, que faculdade nenhuma iria ensinar.

 A maior habilidade que eu aprendi na prática foi ter tolerância com os outros, estimulando as pessoas a se desenvolverem.

 

Todas as empresas tiveram que se reinventar na pandemia. O que mudou no setor de saúde/laboratórios e quais você acredita que sejam tendências que se perpetuarão?

  A maior mudança do setor de saúde chama-se inovação. O fato de termos vivido o surgimento de uma doença, termos que ter aprendido sobre a doença no curso da pandemia e termos que ter desenvolvido protocolos de diagnóstico e tratamento tão rapidamente, mostra que a tecnologia e inovação são primordiais para a evolução da Medicina. Ela tem que começar a antever novas doenças para não passarmos de novo pelo que passamos.

 

Como os novos empreendedores que desejam atuar nessa área podem encontrar oportunidades de mercado?

Os novos empreendedores precisam estudar bastante o mercado que estão entrando. A área de saúde apesar de ser uma área primordial para o ser humano, não é uma área fácil de se trabalhar. Muitas variáveis que não são controladas pelo empreendedor que tem que ter conhecimento delas para saber reagir. 

 

Nós acompanhamos que o Leme, dentre outros empreendimentos relacionados à saúde, foi vendido para o Grupo DASA. Como você enxerga esse movimento dentro do mercado de empresas serem vendidas para um grupo maior? 

Eu enxergo esse movimento como irreversível. Claro que ainda vão ter empresas pequenas em todas as áreas, mas a medida que elas forem crescendo, elas serão procuradas por grandes empresas para serem vendidas. Dificilmente, as empresas familiares centenárias que passam de geração a geração vão continuar a existir, elas serão vendidas para empresas maiores e multinacionais. Os empresários não vão ter vínculos eternos com suas empresas, esse sentimento tem que mudar.

 

Considerações finais e agradecimentos. 

Existe um jargão muito usado no mundo empresarial que é: “a única certeza que temos é a mudança”. Esses dois últimos anos, vivemos isso com muita intensidade, logo temos que estar muito preparados para as mudanças. Quem viveu esse período, vai levar consigo isso para o resto da vida como aprendizado. Agradeço muito o convite para participar dessa entrevista e me coloco sempre à disposição.

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