Oferecendo uma estratégia não convencional e antes apenas acessível aos grandes bolsos, a XP tem procurado democratizar o acesso ao universo de investimentos alternativos. Felipe Manfredini, responsável pela distribuição de fundos, e Felipe Picchetto, do time de gestão do XP Special Situations, comentaram sobre o tipo de investimento, que tem como objetivo fim um evento específico que destrave valor para as empresas investidas podendo ser uma fusão, uma aquisição, ou até um IPO, durante evento realizado, nesta terça-feira (8), pela BP Investimentos.
Apesar da incerteza com o cenário atual, principalmente no exterior, Picchetto salienta que são nesses momentos que esse tipo de investimento possui maior atratividade. “É onde surgem as boas oportunidades de investimento, onde consegue-se bons pontos de entrada, melhores negociações com as companhias para obter melhores condições de taxa de crédito, uma opção de conversibilidade, eventual maior participação societária, ou seja, patamares de valuation nas companhias mais atrativos, justamente para conseguir maximizar valor e, num momento de retomada econômica, fazer o desinvestimento”.
Confira entrevista na íntegra:
Dentro do mercado financeiro, o que seria a estratégia special situations? Como traz um diferencial na carteira dos clientes?
Manfredini – Importante dar um passo atrás. Special Situations faz parte de um universo que a gente chama de alternativos, que é uma classe de investimentos em que permite acesso a possibilidades de investimentos que até então eram direcionados aos grandes bolsos e que de alguma forma, a XP nos últimos anos, conseguiu democratizar para os investidores qualificados e os profissionais. O SpecialSituationspode ser definido por situações que envolvam três principais pilares: necessidade imediata de capital pela empresa; complexidade de situações que inibem outros potenciais interessados no ativo; e diferentes níveis de conhecimento específico do ativo. Esses três pilares geram grandes oportunidades de investimento que oferecem altas taxas de retorno, mas que demandam equipes de gestão altamente qualificadas.
Picchetto – Dentro do Universo de SpecialSituations, existe em especial a estratégia mezanino em que operações de dívidas podem se transformar em determinado momento em participação societária dentro da empresa, e com isso, há um mix das maiores vantagens da renda fixa que envolvem os prazos de pagamento e garantias com o melhor da renda variável ,que é o seu potencial de alto retorno.
Por que investir agora em um momento tão complicado? A probabilidade de quebra de empresas/setor não está mais alta? Poderia citar exemplos de investimentos que vocês fizeram e deram certo e errado?
Manfredini – O momento atual é tomado pela incerteza, devido a maior volatilidade internacional e com um cenário de rápida elevação do nível de juros, mas pode ser visto também como oportunidade de ponto de entrada, dado que estamos concedendosob modelo de agilidade e flexibilidade muito maior, acesso ao crédito para empresas que necessitem injeção de capital.
O case de maior sucesso da XP Asset nessa estratégia foi do 3R, com entrada via crédito e sob uma cláusula de conversibilidade. Em agosto de 2019, foi realizado investimento através de um instrumento de debênture conversível, e aproveitando o momento estratégico de desinvestimento da Petrobras, identificamosuma oportunidade, pois conhecíamos bem esses campos que estavam sendo leiloados. Foi realizado o financiamento para compra de um campo específico no Rio Grande do Norte e desde o investimento, a empresa fez uma série de outras aquisições. Pouco mais de um ano, em setembro de 2020, converteram o crédito em participações,Na sequência,realizado o IPO eem fevereiro de 2022, realizamos o desinvestimento. Foi uma transação em que o investimento realizado por meio da renda fixa, convertidoem equity da companhia e com o desinvestimento na Bolsa, após o IPO, gerando retorno de seis vezes o dinheiro em dois anos e meio, mais de 100% ao ano.
Picchetto – Um caso que acabou não dando muito certo foi o de um crédito puro, onde não havíamos negociado nenhuma cláusula de conversibilidade, sob investimento realizado para uma usina de etanol, onde basicamente parte do estoque em etanol era garantia para operação. A companhia estava em dificuldade, tendo contratado um assessor de reestruturação, o que acendeu uma luz vermelha dada a nossa experiência. Iniciou-se uma negociação com empresa para pagarem antecipadamente o crédito. Devido a estrutura de garantias que havíamos criado, conseguimos poder de força maior para forçar a companhia a pagar ou apresentar alguma solução diferenciada. A empresa topou a negociação e ao longo do tempo, foi repagando. Após pagamento integral e, pouco tempo depois de sair da operação, a empresa pediu recuperação judicial.O caso não foi mal sucedido, mas gerou um estresse gigantesco o que reforça a importância de termos agilidade, acompanhamento constante e garantias bem amarradas no contrato.