Trópico Investimentos enxerga oportunidade em multimercados para escapar da volatilidade

O sócio-fundador e gestor da Trópico Investimentos, Fernando Luiz, conversou com o BP Money sobre a estratégia atual dos fundos da empresa

 A diversificação é uma excelente arma para gerir qualquer portfólio, mas isso não é novidade para ninguém. Nem para a Trópico Investimentos. Inclusive, de acordo com Fernando Luiz, sócio-fundador e gestor da empresa, depois de 20 anos de mercado, o negócio é entender que a baixa volatilidade juntamente com o multimercado de ações podem trazer grandes frutos no futuro. 

Criado no fim de 2002, o fundo já passou por todo tipo de emoção no mercado financeiro, principalmente nas quedas. Pegaram o Ibovespa na crise de 2008 e também no impacto da pandemia de covid-19 em 2020. 

O sócio-fundador e gestor da Trópico Investimentos (que antes se chamava Orbe Investimentos) conversou com o BP Money sobre a estratégia atual dos fundos da empresa, sua opinião sobre mercado de crédito, o cenário macroeconômico que se desenha para 2023 e sobre o último lançamento da empresa: o fundo Trópico Schweitzer DIV FIA, um fundo de dividendos cujo público-alvo são investidores não qualificados (com patrimônio investido abaixo dos R$ 1 milhão) que buscam retornos de longo prazo em empresas maduras e que sejam descorrelacionados do índice Bovespa. 

Confira a conversa com o gestor:

O que é a Trópico investimentos? 
Nós somos uma empresa que existe desde o final de 2002, especializada basicamente em equity e ações, ou seja, investimentos de longo prazo. Conforme os anos foram passando, fomos criando novas estratégias e formas de poder atuar no mercado. Já entramos e saímos do mercado imobiliário. Investimos em diversas operações e em outras que já saímos também. 

E hoje, a gente tem uma área de multimercados onde temos desde baixa volatilidade até uma variação maior. E fundos de ações. E fundo offshore também. A empresa começou com o nome de Orbe Investimentos e em 2012, se eu não me engano, perdemos o nome quando entramos no mercado imobiliário para uma construtora que tinha na zona leste. 

Trocamos o nome da empresa para Trópico que é algo que você consegue falar em qualquer língua e é um nome fácil de você pronunciar. E desde então temos o nome de Trópico, mas existimos desde o fim de 2002. 

Como uma empresa que existe há 20 anos, vocês já viram quantas crises?
Nós vimos o Lula em 2003, né? Em 2002, o mercado foi pra baixo e em 2003, o Lula entrou e o mercado começou a subir, subiu até 2007 sem parar, basicamente. A gente viu bastante coisa, né? Presenciamos o País financeiramente quebrado com a Dilma, a gente já viu ciclos de commodities, determinando o rumo do país na época do Lula. Eu acho que experiência em mercado é um dos ativos mais subvalorizados que existem. As pessoas acham que falar com uma pessoa que está no mercado há dois anos é a mesma coisa que falar com uma pessoa no mercado há 20. Isso é efeito de mídia social, de marketing, essa coisa toda, né?

Qual foi o maior ensinamento que o mercado te deu nesses últimos vinte anos? 
Quando você é muito novo, de forma bem objetiva, como o Nelson Rodrigues falava quando perguntavam pra ele “qual é a recomendação que você dá pros jovens?” e ele respondeu: “cresçam”.  Basicamente é isso, né? Quando você é muito jovem, não tem muita experiência e não tem muita noção das coisas que podem acontecer. Coisas que são estatisticamente improváveis e acontecem de forma bastante recorrente, inclusive. Então assim, a gente assumia muito mais risco no começo da Trópico lá atrás. E hoje, assumimos  muito menos risco. 

E o risco que a gente assume também é muito melhor controlado e calculado do que a gente fazia lá atrás. Porque existe uma parte do risco que você consegue calcular. Existe uma outra parte que você assume certas premissas e considera elas como se fossem a sua régua, o seu norte. As nossas premissas hoje são aquela parte do risco que você não consegue calcular, elas são muito melhor determinadas hoje depois de tudo que a gente viveu. O que significa isso na prática? Quem investe conosco hoje, de forma geral, assume muito menos risco do que assumia quando eu comecei a empresa. 

Inclusive, a gente aqui como investidor, investimos em outros fundos e diversas outras gestoras. Não costumamos olhar fundos com menos de cinco anos de experiência, por exemplo. A gente nem olha. Se for cara com menos de trinta anos então, menos de trinta e poucos anos, nem pensar. No final da tem algumas coisas que você precisa passar pra você aprender, né? É aquele negócio: ‘nove mulheres grávidas não fazem filho em um mês”. Tem coisa que você tem que esperar mesmo, as coisas demoram pra aprender.

Vocês adotaram recentemente uma lógica de baixa volatilidade. Qual a razão para isso?
Começamos a investir nisso em 2015. Naquele ano, compramos 50% de uma gestora que estava nascendo, que era para fazer um fundo de baixa volatilidade sem crédito privado corporativo. Que era um tipo de ativo que a gente achava que tinha muito risco e pouco retorno. E a gente criou um fundo chamado Cash, Trópico Cash que é um fundo que não tem crédito corporativo e ele dá uma rentabilidade entre 105% e 110% do CDI. E sem risco assimétrico do crédito corporativo. Em 2020, compramos a empresa inteira. Ou melhor, o fundo veio pra gente e vendemos a empresa. De lá pra cá, continuamos com o fundo.

Entre 2017/18, montei um outro fundo de baixa volatilidade para fazer arbitragem de ações de operação no mercado que se chama Vex. E esse ano, começamos com o nosso primeiro fundo de alta volatilidade, se chama “Enoque” e começou agora em julho. 

Como você calcula o risco de cada fundo?
Temos dois tipos de risco. O matemático que você faz em cima de preço de ativo e em cima de volatilidade de preço de ativo, aquele método de gestão de portfólio e essa coisa toda. E você tem o risco qualitativo dos portfólios, aquele que você não consegue medir somente olhando volatilidade. São riscos que não se definem pela volatilidade do preço. Eles se definem pela sua própria qualificação, pela sua própria substância. Os fundos que têm mais volatilidade, além da volatilidade, assumem mais risco. No fundo que tem menos volatilidade, eles assumem menos risco qualitativo. 

Vamos pegar, por exemplo, o crédito privado corporativo, que é um ativo que basicamente não tem volatilidade. Só que se o cara deixar de pagar, ele vale zero. Fica ali sempre variando entre 100-101%. Se o cara não te pagar, não vai pra 95%. Ele vai pra zero. Então, qual é o risco deste ativo? Em cima da volatilidade, o risco dele é baixo. Se formos olhar qualitativamente, a substância do risco é de um risco altíssimo. 

Qual sua opinião sobre esse holofote no mercado de crédito enquanto a Bolsa está nebulosa?
Primeiro, o risco de renda variável de uma empresa é muito menor do que o risco de crédito privado. Isso é um erro que o mercado faz e que as pessoas divulgam isso. Mas é um erro. Porque é o seguinte você compra uma ação e você considera que a volatilidade do preço dela é todo o risco que ela possui. Na prática, se você comprar bem uma empresa com margem de segurança, se essa empresa vier a quebrar, você tem uma série de ferramentas, de ativos, de dinheiro em caixa, de proteções, que você não perde aquilo que investiu. No crédito privado, no crédito corporativo privado que são operações de crédito, se o cara empresta dinheiro errado e a pessoa não paga, ele vale zero. Ele é risco binário. Então, o que acontece é que as pessoas olham volatilidade de preço como se fosse risco de qualidade do ativo. E isso não é verdade. Volatilidade de preço é somente a volatilidade de preço. Não tem nenhum indicador de preço que modifique a qualidade de uma empresa subjacente a essa ação. No crédito privado é justamente o oposto, você tem uma precificação que é feita em cima de um papel e em cima de uma curva teórica. Se esse cara não cumprir os pagamentos, aquele título vale zero. Você perde tudo. 

Em ações, se você não tiver alavancado e se expondo além do seu patrimônio, você não perde tudo. Pode até perder 10%,15%, 30% até 50% se você tiver comprado uma empresa muito cara, mas você não perde tudo que você investiu, no crédito você perde. E o que acontece?

Esse mercado de crédito, como é um mercado de baixa volatilidade, todos os investidores que entraram no mercado nos últimos cinco, seis anos, eles olham cota de FIDC e fundos de crédito privado e acham que como aquilo não varia muito, aquilo não tem risco. E isso faz com que um monte de dinheiro vá para esse tipo de fundo em detrimento de ir para fundos de ações. Se você olhar esse ano principalmente a quantidade de resgate que teve em fundo de ação e fundo multimercado foi gigantesca. Muita gente perdeu muito dinheiro. 

Agora, se você tiver uma crise no mercado de crédito, essa quantidade de dinheiro que vai ser perdida é muito maior. E diferente de ações se você não vende ação, se você conhece o ativo e você não vende aquilo você continua recebendo dividendos. A empresa faz buyback distribui distribui juro sob capital, emite novas ações para você como prêmio, faz uma subscrição, uma série de coisas e o preço invariavelmente acaba voltando se a companhia continuar bem. Crédito não. 

Essa opinião é um pouco contra-fluxo do atual mercado de fundos, não? Como vocês tem administrado o fundo de alta volatilidade?
No fundo que tem mais volatilidade, a gente se apropria mais de ações que é o que mais sabemos fazer. E como temos uma volatilidade do Ibovespa por volta de 35% e uma carteira de ações você consegue ter uma variação de aproximadamente 20%, se colocarmos ações no seu fundo, naturalmente aumenta a volatilidade dele só por ter ações. Eu, particularmente, não gosto de crédito privado, de forma nenhuma.

Estamos até estudando algum fundo de crédito corporativo, de crédito privado, mas para entrarmos numa coisa dessa, temos que conhecer profundamente a equipe, os sistemas, os processos de decisão, o tipo de empresa que eles estão dando crédito. Porque basicamente, o que aconteceu nos últimos talvez 15 anos foi uma paulatina desintermediação bancária, né? 

Você tinha os cinco maiores bancos que eram responsáveis por 99% do crédito do País. Daí, teve a regulamentação de FIDCs, a regulamentação do crédito privado, as emissões das empresas começaram a ser absorvidas por investidores que não eram mais só pessoa física ou banco e isso fez explodir o mercado de fundos de crédito. 

Agora, a questão é o seguinte: por que os bancos não cresceram na mesma proporção que o mercado de créditos cresceu? Porque assim, você pega o Itaú, ele faz crédito há 50 anos.  Unibanco, o Banco do Brasil, a Caixa, o Bradesco e esses caras deixaram o mercado de FIDCs crescer na deles porque eles são bobos, é isso? Não. Se eles deixaram esse universo novo surgir, é porque viam que havia um risco assimétrico de crédito nas operações que eles estavam fazendo que os bancos não queriam assumir. Se você olhar o resultado do Itaú dos últimos quinze anos, acho que dá pra pensar que eles estavam certos. 

E depois você pega nos últimos dez anos, a quantidade de fundo de crédito privado que virou do avesso ou que gerou perdas enormes pros cotistas, inclusive gestoras que encontraram fraude lá dentro com banco estrangeiro que tinha R$ 200, R$ 300 milhões só de cotista lá dentro, isso não volta mais.

Qual a estratégia que vocês pretendem usar com o novo fundo de dividendos lançado na Trópico?
Nós somos mais uma casa de valor que procura assimetria entre preço e valor de empresas. A gente passa a vida inteira fazendo isso. O que acontece é que de uns dois anos pra cá, começamos a perceber que as empresas mais maduras, que tem posição dominante nos mercados em que atuam, são concessionárias, dependem de regulação, de previsibilidade de receita e tem previsibilidade de retorno, começaram a ficar muito fora de preço por causa basicamente do excesso de risco que as pessoas queriam tomar.

E elas têm risco muito mais baixo, não só a volatilidade do preço das ações mas também riscos como negócios, que são muito mais sólidos, tem forte geração de caixa, tem margens definidas, pagam muitos dividendos e estavam valendo muito pouco e pagando muito dividendo justamente porque estavam valendo pouco e tinham os seus ciclos de reinvestimento absolutamente conhecidos. 

Resolvemos então abrir um fundo de dividendos que é um fundo de valor, ele é um fundo de alocação composta de capital no tempo. É focado naquele cara que não quer participar do tiroteio, da bolsa, de ficar tentando achar a melhor empresa, o melhor fundo do ano, o melhor fundo do trimestre, o melhor fundo do ano. É aquele cara que não quer isso. Na cabeça desse investidor, e no final é nossa cabeça também é a de: “é o negócio que eu quero ter durante vinte anos e que vai receber de 9-12% de dividendos ao ano e vai reinvestir esse dinheiro”.

As empresas que são de energia, transmissora, telefonia, são negócios perenes que não vão acabar da noite pro dia. E isso vai fazer com que você tenha a felicidade de participar do crescimento do País e da melhora dele sem você assumir o risco de tiroteio em bolsa de valores que todo dia sobe ou desce.

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