Podemos dizer que as quedas da bolsa de valores nos últimos meses foram bastante severas.
Algumas pessoas diriam que foram até mesmo exageradas, colocando o preço de algumas ações e empresas em patamares bastante descontados. Ou seja, extremamente baratas.
De maneira análoga, quando olhamos para as bolsas estrangeiras, percebemos que no período também houve alguma correção, em alguma medida. Porém, o que mais assusta é o tamanho da correção que foi observada em nossa bolsa local. Com muitos períodos sendo marcados por quedas muito mais profundas (o que é algo de praxe), e com a diferença de uma certa “continuidade” de tais quedas não observadas na bolsa americana (usaremos o S&P500 como nosso referencial aqui).
Se por lá a máxima “Buythedip” ou “Compre a mínima” foi e vem sendo seguida ao pé da letra, aqui no Brasil a mesma não se sustentou, com investidores agindo de maneira temerária e aversa às suas posições em bolsa de valores que até há alguns meses eram fonte de alegria e otimismos pujantes.
Mas o que poderia explicar tal comportamento, até então sem sentido?
Será que o Sr. Mercado (nome cunhado por Benjamin Graham, lendário professor de Warren Buffett) excedeu os limites, exagerando no pessimismo da mesma forma que exagerou no otimismo “pós-pandemia”?
Pois bem. Antes de mais nada devemos ter em mente que apesar do mercado não ser completamente eficiente, podemos considerar que ele é ao menos semi-eficiente (Eugene Fama e a teoria dos mercados eficientes).
Assim sendo, por mais que disfunções, assimetrias, ou seja lá a forma como queira chamar os momentos de breve histeria e depressão dos preços dos ativos em uma determinada janela de tempo, existam – fornecendo às oportunidades de compra e venda -, não devemos crer que o mercado seja “burro” a ponto de sustentar um “desconto” excessivo a troco de nada, ainda mais por períodos estendidos.
Desta forma, alguns fatores que explicam o desconto da bolsa em relação a pares internacionais residem em questões como:
• Persistentes gargalos nas cadeias de produção;
• Inflação;
• Redução da oferta agregada;
• Crise energética;
• Alta taxa de desemprego;
• Descarbonização da China;
• Arrefecimento das expectativas dos consumidores;
• Discussão acerca da redução dos estímulos monetários;
• Entre outros.
Mas espere… Todos estes fatores acima citados têm afetado o mundo como um todo, não sendo algo exclusivo da realidade brasileira.
E é aqui em que um cenário que já era difícil consegue ficar ainda pior.
Além de todo esse caldeirão borbulhante, temos às questões econômicas e políticas características do nosso país, como:
• Eleições presidenciais em 2022;
• Questões envolvendo precatórios;
• Teto de gastos;
• Questionamentos quanto a validade da própria eleição;
• Além das características econômicas de um país endividado e com baixa capacidade de geração de receita, já que em suma o Brasil é um país produtor de produtos com baixo valor agregado (commodities), dependendo da importação de bens de consumo de outros parceiros.
Colocando desta forma, fica até mais fácil enxergar o porquê da nossa bolsa de valores estar mais descontada em relação a outros pares, já que, por regra, os investidores e agentes econômicos, imbuídos de racionalidade sempre irão exigir um prêmio de risco no momento de alocar seus escassos recursos em ativos considerados mais arriscados, comparativamente falando.
E se tratando de um cenário pós-pandemia, convenhamos que será muito mais difícil para tais países recuperarem o nível pré-pandemia, visto que além das questões levantadas acima, o endividamento excessivo e o custo mais elevado destes, contribuem para um “estrangulamento” da capacidade de expandir políticas fiscais e monetárias que estimulem o consumo, investimentos, etc.
Sendo necessário um delicado malabarismo para equalizar essa conta.
Até agora elaboramos sobre a economia global, doméstica e o porquê da diferença de preços entre a nossa praça e a estrangeira, e até ai tudo bem.
Porém, a grande pergunta aqui e que devemos nos fazer é a seguinte: “O quão descontada nossa bolsa está em relação aos pares, e se essa proporção de fato possui um fundamento, ou será que de fato o Sr. Mercado se empolgou em seu momento de racionalidade e acabou transformando algo justificável em um excesso?”
E na nossa visão e nos patamares atuais, foi justamente a última opção que aconteceu.
De fato, faz sentido os preços dos ativos locais estarem descontados, mas o que não faz sentido é em tais níveis atuais que estamos vendo, ainda mais porque se formos parar para analisar perceberemos que nada mudou.
Tirando o fato de as eleições presidenciais estarem cada vez mais próximas, e com algumas novas e pequenas questões globais surgindo, o arcabouço central do cenário e da narrativa que pautou toda a alta do ano passado para cá ainda se mantêm inalterada.
Que é:
• Enxurrada de estímulos monetários por parte dos BCs;
• Recuperação econômica e crescimento dos PIBs;
• Conquista das metas de inflação dos BCs e redução dos altos níveis de desemprego.
Assim, se levarmos em consideração um ponto fundamental, que muitas das empresas hoje sobreviventes só o fizeram por possuírem algum grau de excelência no que tange a operação de seus negócios e saúde financeira, desta forma estando mais bem posicionadas e aptas para abocanhar o marketshare deixado pelas empresas que outrora existiam, veremos que o futuro próspero ainda se sustenta.
E se isso ainda não for suficiente, lembremos que expectativa geral ainda é de crescimento para este ano e o ano que vem – tanto para o PIB quando dos lucros das empresas -, com os problemas econômicos como os das cadeias de suprimento devendo ser resolvidos no primeiro semestre de 2022.
Ou seja, o que temos na verdade é uma clara oportunidade para posicionamento/compra dos mesmos ativos que até poucos meses possuíam expectativas estelares de crescimento e retorno, e que via de regra, não possuem o núcleo de suas fontes de renda sujeitos a uma “morte total” a depender do próximo presidente que assuma.
A única diferença nesta segunda oportunidade que estamos tendo é que talvez o mercado tenha ajustado suas expectativas quanto a tais crescimentos e retornos estelares, reduzindo de algo “estupendo” para algo “maravilhoso”, afinal de contas, o mercado muitas vezes exagera para ambos os lados…
Seja como for, e independente do próximo presidente eleito, o PIB global e junto o do Brasil continuarão a crescer nos próximos anos, as empresas continuarão seus processos de investimento, inovação, crescimento e lucro, e as bolsas globais continuarão seus processos de expansão, com muito mais “pausas” para corrigir os excessos futuros, mas sempre em direção ao crescimento.
Com as vencedoras sobrevivendo e as empresas deficitárias seguindo o curso lógico da natureza e de sobrevivência do mais apto.
Em outras palavras, você só tem que saber como escolher o seu time de vencedores da maneira correta, e evitar que todo o ruído do mercado turve a sua capacidade de escolha e julgamento. O resto, o tempo se encarrega…