O boletim Focus, realizado pelo Banco Central do Brasil, desta segunda-feira (25), aponta uma projeção de mercado para a variação do PIB de 1,4% para o ano de 2022. A perspectiva segue a linha do modelo do relatório, variando pouco da última previsão (1,5%). Em contraponto, o relatório de mercado realizado pelo Banco Itaú espelha um cenário um pouco menos otimista e prevê o PIB brasileiro variando negativamente (-0,5%) para o próximo ano. Além disso, há uma diferença significativa SELIC de 9,50% a.a prevista pelo Focus e 11,25% no modelo do Itaú, para 2022, considerando um patamar de câmbio semelhante entre os dois relatórios, evidenciando um modelo de juros neutro conflitante.
O relatório do BCB parece não ter acertado muito em suas previsões no passado recente. Mesmo com as mudanças no Forward Guidance do COPOM, as previsões parecem subestimar a aceleração do IPCA e as taxas de crescimento no país. Os relatórios e distribuição de frequências da curva do IPCA projetavam um índice na faixa de 2,5% na mediana de 2021, com altas e baixas girando em torno dos 2,5 a 3,0% e, como vemos agora, a atual inflação gira em torno dos 9% e chega aos dois dígitos (acima de 10%) se olharmos a perspectiva anualizada da taxa. Em relação a SELIC, a subestimação do nível de preços confundiu os modelos do BCB que projetava a taxa anualizada em 2,5%, o que não refletiu a realidade de combate à inflação com a taxa básica passando da casa 6,25%.
É importante notar que, em 2020, as projeções de mercado pareciam seguir fielmente o modelo projetado pelo BCB. Com confiança e expectativas ancoradas, os agentes de mercado tendiam a crer na estratégia de desvalorização da moeda doméstica, aguardando uma recomposição dos ativos externos no mini-boom da retomada das commodities (assunto para outra coluna). Com o horizonte fiscal incerto, rompimento do teto e, mais importante, chegada da inflação e “Shift” do Forward Guidance a desancoragem de expectativas se torna evidente na diferença significativa dos modelos de projeção dos relatórios.
Assim, fica como reflexão e análise: as últimas empreitadas do Banco Central na alta persistente da SELIC (que, tudo mais constante, desincentiva investimento e consumo), cenário caótico de desemprego e estagnação pós-pandemia e, junto a tudo isso, o “track record” de comunicação ruim do COPOM ao longo do último ano. Tendo a acreditar que, diante desse cenário, as possibilidades para o crescimento brasileiro se apequenam e, com elas, prefiro ficar com a percepção de que não crescer é o menor dos nossos problemas no momento.