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Para “comemorar” o dia do agricultor, chegou à B3 uma notícia que choca a todos, até mesmo àqueles que vivem na zona rural: o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) irá ofertar Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) no mercado de capitais. Serão R$ 17,5 milhões em títulos para financiar a agricultura familiar e os investidores já podem reservar os papéis desde ontem (27).
A produção dos alimentos é feita por sete cooperativas de assentados do MST, que abrangem os estados do Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e São Paulo. No geral, são produzidos leite, milho, arroz, soja, açúcar mascavo e suco de uva.
Apesar dessa não ser sua estreia no mercado financeiro – em maio de 2020 o grupo realizou uma oferta restrita, direcionada apenas a investidores qualificados – é a primeira vez que o movimento faz uma oferta pública aberta a qualquer tipo de investidor. Diferente da cota do ano passado, que limitou o investimento mínimo a R$ 100 mil, este ano os títulos poderão ser adquiridos a partir de R$ 100.
É importante destacar que a bolsa de valores brasileira está aberta a todos os setores, inclusive os de agricultura, porém a decisão do MST vai contra tudo que o mesmo jura apoiar.
Se tratando de um movimento que demoniza o capitalismo, porque escolher justamente esse sistema para alavancar suas produções?
O próprio site do MST faz questão de frisar “a perversidade do capitalismo”. Segundo uma publicação, nesse sistema a repressão funciona bem para o benefício de poucos. Engraçado, enquanto esses ditos ‘poucos’ não incluíam o movimento, o capitalismo era crucificado pelos membros. Agora, que entraram no mercado de capitais e se beneficiam diretamente de investidores distintos, o capitalismo lhes parece bem conveniente.
O grupo ainda faz questão de descrever o quão tóxico é o ambiente financeiro, descrito como “um inimigo perigoso à natureza.” Será que o pensamento continua o mesmo? Ou suas ideologias foram descartadas em uma simples manobra para se sentirem mais confortáveis ao ofertar CRA?
A resposta pode não ser clara, mas para bom entendedor meia palavra basta. Nesse caso, o ex-secretário de Desestatização do Governo Bolsonaro e presidente da Localiza, José Salim Mattar, fez uma boa observação em sua conta oficial do Twitter.
Chamando de “frenesi do socialismo burguês”, o empresário lembrou de uma citação do economista teórico, Ludwig von Mises.
“O anticapitalismo só se mantém em evidência por viver à custa do capitalismo”.
Convenhamos que a ação do MST realmente concorda com o pensamento de Mises, e é como tem sido. O dia do agricultor deste ano ficará marcado pela ironia do destino: um movimento socialista, repressor da estrutura econômica, apela à bolsa para arrecadar R$ 17,5 milhões em títulos do agronegócio. Que belo dia para defender o capitalismo.