Por Gustavo Bresler, COO da fintech Iniciador
País pioneiro quando o assunto é Open Finance, o Reino Unido, registrou a marca de 7 milhões de usuários habilitados ao Open Banking e mais de 68 milhões de pagamentos por meio do ecossistema em 2022, um salto de 178% ante 2021, segundo o mais recente Open Banking Impact Report. O estudo ainda mostra que os pagamentos vêm aumentando em 10% ao mês, tendo adesão, majoritariamente, por pequenas empresas (16%) e de consumidores (11%).
O material revela que um dos maiores destaques da evolução do Open Finance naquele país é a utilização da iniciação de pagamento por consumidores – o único serviço dentro do sistema financeiro aberto que possui mais adeptos PFs do que PJs. Cerca de 52% dos usuários que utilizam Open Finance fazem uso da iniciação, atualmente. Em março de 2022, esse número era de 38%. A modalidade que tem como premissa facilitar transações de pagamento tem sido popularizada por lá com seu uso em e-commerces e para pagamentos de faturas e até de impostos, isso porque os usuários conseguem pagar diretamente das suas contas (A2A Payments), sem intermediários.
Mesmo que no estágio inicial, a iniciação chega ao Brasil em um cenário ainda mais favorável para o seu sucesso. Diferente do Reino, onde a iniciação foi introduzida ao mesmo tempo que o pagamento instantâneo, por aqui o Pix já foi implementado antes pelo regulador e é praticamente onipresente na vida do brasileiro. Esse ecossistema já consolidado nos dá toda a estrutura para que a iniciação possa ser apresentada ao consumidor. Só que ao optar pela iniciação, o pagamento de bens e serviços (P2M, ou peer-to-merchant) ocorre ainda mais rápido que no Pix convencional – uma redução de 50% no tempo de transação – isso porque o usuário é levado a fazer o pagamento pela própria experiência de compra, é tão intuitivo que o usuário não sabe que a aquela transação é também Open Finance.
A presidente da Open Banking Implementation Entity (OBIE), Marion King, conta que no Reino Unido o ecossistema tem sido escolhido cada vez mais na hora da tomada de decisões financeiras importantes dos usuários, como para pagamentos parcelados, pois aumenta as possibilidades de crédito às pessoas em um momento em que o custo de vida no país tem aumentado. Isso é extremamente relevante para o contexto brasileiro, onde a população já tem o costume de utilizar crédito direto no momento do pagamento, mas cujas taxas de juros estão alguns patamares acima daqueles praticados na ilha britânica.
Por aqui, o Open Finance — em especial, a iniciação — também vem para facilitar e ampliar o leque de possibilidades financeiras dos consumidores. A iniciação de pagamento no Brasil é regulada pelo Banco Central, que em pouco mais de um ano autorizou 23 instituições financeiras – como Itaú, Mercado Pago, Banco do Brasil, U4C – a oferecerem o serviço aos seus consumidores. No Reino Unido, o serviço já está disponível desde 2018 e são mais de 250 instituições autorizadas entre os provedores de serviços de Open Finance.
Num futuro próximo, a iniciação brasileira deve ampliar sua capacidade e possibilitar o agendamento de transações sucessivas; uma jornada sem redirecionamentos; o pagamento em lote, com transações de “N contas” para “N contas”; e a os Pagamentos Recorrentes Variáveis (VRP), transações recorrentes com valor máximo pré-consentido, como por exemplo, para pagamento automático de conta energia ou para usar o cheque-especial de outra instituição.
Toda essa estrutura sólida para o sistema e, em especial para a iniciação, criada e fortalecida no Brasil dá força para a estimativa da Open Banking Excellence (OBE) em parceria com a Universidade de Oxford de que o País deve ultrapassar o Reino Unido e virar o líder absoluto no Global Open Finance Index até o ano que vem. Em oito anos, as transações pelo OF devem ultrapassar os US$ 124 bilhões, um crescimento de 22% por ano, segundo a Allied Market Research.