O livro “Comece pelo porquê”, de Simon Sinek, provoca uma reflexão profunda sobre a essência e os fundamentos da liderança que podem fazer a diferença nas organizações ou no mundo. Sinek explica a razão pela qual ter clareza sobre o propósito, a causa ou a crença de cada objetivo é crucial para construir uma organização bem-sucedida. Ele argumenta que aqueles que têm clareza do seu “porquê” conseguem inspirar aqueles ao seu redor e, portanto, desencadear inovação e engajamento, gerando vantagem competitiva para a empresa em relação aos seus concorrentes.
O principal conceito apresentado no livro é o conceito do “círculo dourado”, uma estrutura que descreve a hierarquia das três perguntas fundamentais: “por quê”, “como” e “o quê”. O “porquê” está no centro, cercado pelo “como” e, finalmente, pelo “o quê”. Sinek afirma que, embora todos em uma organização sabem “o que” fazem e alguns sabem “como” fazem, poucos realmente compreendem “por que” fazem o que fazem. O “porquê” não se trata de resultados, mas da causa, propósito ou crença que serve como base para a existência da organização.
Para a organização atingir resultados extraordinários, ela precisa de um líder eficaz e inspirador: alguém que motive e realmente acredite em seu “porquê”, sendo capaz de comunicá-lo de forma clara e inspiradora. A visão, a paixão e a autenticidade desse líder não apenas definem a cultura organizacional, mas também servem como um catalisador para a inovação, lealdade e engajamento duradouros. A habilidade de traduzir o “porquê” em ações concretas, alinhando valores e objetivos, é essencial para criar movimentos que superam desafios e realizam mudanças significativas.
O autor cita exemplos nos quais líderes inspiradores com um claro “porquê” construíram verdadeiros impérios. O exemplo mais marcante citado por Simon é a Apple. Ela não é apenas reconhecida por produzir dispositivos tecnológicos, mas por inovar e desafiar o status quo. Não a toa, foi a primeira empresa do mundo a atingir um valor de mercado superior a U$ 3 trilhões em 2023 (na época, apenas 6 países no mundo possuíam PIB maior do que a empresa – EUA, China, Japão, Alemanha, Índia e Reino Unido). Outro exemplo é a Harley Davidson, que cultivou uma comunidade de entusiastas apaixonados que veem a marca como sinônimo de liberdade e expressão pessoal. Em cada exemplo, o “porquê” claro e articulado precedeu o “como” e o “o quê”, criando marcas que lideram seus segmentos por muitos anos.
Para o empreendedor contemporâneo, o livro pode ser um importante guia sobre como construir uma empresa de sucesso. Contratar a pessoa certa, motivar a equipe e, consequentemente, construir uma vantagem competitiva sustentável não são frutos do acaso, mas consequências diretas de um “porquê” bem definido. Empresas brasileiras como Nubank e XP exemplificam isso. O Nubank, com seu foco incansável na experiência do cliente, e a XP, que busca democratizar o mercado financeiro brasileiro, demonstram como um “porquê” forte pode criar uma cultura corporativa duradoura e uma lealdade dos clientes acima da média.
David Vélez criou o Nubank em 2013. Ele decidiu montar o banco após passar por uma péssima experiência quando tentou abrir uma conta bancária no Brasil. Velez, que nasceu na Colômbia, viu aí uma oportunidade – criar um banco focado em atender bem a todos e desburocratizar o sistema financeiro. O foco incansável do Nubank em atender bem o cliente, independentemente de sua renda, fez a diferença: alcançou níveis altíssimos de satisfação e, consequentemente, conquistou sua posição entre as maiores instituições financeiras do país. Em ranking divulgado pelo Banco Central no 1º trimestre de 2023, o Nubank foi uma das instituições com o melhor índice de reclamação entre as 15 maiores instituições financeiras do Brasil: o Nubank atingiu um índice de 6,58 vs. 15,8 de Itaú e 33,24 de Banco Inter – neste caso, quanto menor o número, melhor. Ou seja, o propósito de atender bem o cliente realmente foi levado a sério por Vélez e sua equipe, o que fez com que o Nubank, em apenas 10 anos, se tornasse o 4º maior banco do Brasil, com mais de 77 milhões de clientes.
A XP investimentos foi fundada por Guilherme Benchimol e Marcelo Maisonnave no início dos anos 2000. A ideia inicial era ajudar pequenos investidores e pessoas comuns a investirem no mercado brasileiro de ações. Para a época, democratizar o investimento para pessoas “normais” era uma grande inovação. Investir era visto como algo sofisticado, e apenas para pessoas com muito dinheiro. A XP teve que ser criativa, criando produtos para educar o futuro investidor brasileiro (cursos e palestras), além de uma equipe de agentes em todo o Brasil. Tal ideia hoje pode parecer óbvia, mas 20 anos atrás foi um passo ousado e inovador. O investidor comum não tinha suporte e não era bem atendido pelos grandes bancos. O foco no propósito de democratizar o investimento para o brasileiro, bem como o trabalho incansável de Benchimol e seu time, geraram frutos. Hoje a XP possui mais de 13 mil assessores de investimentos, 4 milhões de clientes e mais de R$ 1 trilhão em ativos sob custódia.
Em suma, Comece pelo porquê é uma leitura essencial para líderes, empreendedores e pessoas que almejam impactar positivamente o mundo. A clareza do “porquê” se torna a bússola que orienta as decisões, as ações e, por fim, define o impacto e o legado de uma organização ou pessoa. Ao começar pelo “porquê”, é possível cultivar não apenas empresas lucrativas, mas organizações que contribuem, inovam e inspiram o mundo a ser um lugar melhor. Empresas com líderes que sabem o propósito que querem atingir e conseguem inspirar seu time, não apenas criam empresas duradouras. Eles criam empresas que mudam o mundo e melhoram a qualidade de vida das pessoas. Lideres como Steve Jobs, David Vélez e Guilherme Benchimol tinham um propósito e conseguiram, com maestria, liderar times que mudaram o mundo, para melhor.