
Segundo informação divulgada pela coluna “Radar” da revista Veja, os membros da CPMI do INSS tiveram acesso a relatórios do Coaf que teriam revelado uma complexa rede de empresas controladas pelo advogado Nelson Wilians, um dos alvos da investigação, e também por sua esposa, Anne.
Os relatórios afirmam que as empresas foram criadas para ocultar patrimônio da Justiça e dissimular movimentações milionárias, a partir de “depósitos em série e saques fracionados e sequenciais”. A defesa de Wilians negou qualquer alegação de lavagem de dinheiro.
Segundo a coluna “Radar” de Veja, o Coaf afirma que parte milionária da renda do casal Wilians saiu de depósitos em caixas eletrônicos de “favelas do Rio de Janeiro, de zonas de fronteira e do Polígono da Maconha (PE)”.
A investigação da Polícia Federal sobre as atividades do advogado revelou que ele e suas empresas movimentaram cerca de R$ 4,3 bilhões.
O Coaf teria informado aos membros da CPMI que um banco teria relatado que chegou a cobrar Wilians sobre as movimentações suspeitas:
“Quando questionado, o senhor Nelson demonstrou irritabilidade. Relatou realizar transações diárias para evitar bloqueio judicial”, diz o documento obtido pela Veja.
O que diz a defesa de Wilians
Em nota, a defesa de Nelson Wilians se manifestou por meio de seu advogado, Dr. Santiago Schunck, que afirmou de forma categórica que não procede qualquer alegação de lavagem de dinheiro, e considerou inadmissíveis os vazamentos seletivos de informações confidenciais que vêm sendo divulgados.
Segundo Schunck, as empresas do Grupo Nelson Wilians, com mais de duas décadas de atuação reconhecida pela regularidade, transparência e relevância no mercado jurídico nacional, são auditadas e prestam serviços jurídicos full service em âmbito nacional, além de atividades de recuperação de crédito, busca e apreensão e consultoria jurídica a diversas instituições financeiras em todo o País — incluindo os maiores bancos brasileiros.
A defesa explicou que essas atividades justificam integralmente as movimentações financeiras mencionadas em recentes publicações.
O advogado ressaltou ainda que todas as contas e operações já foram submetidas a perícia independente, devidamente juntada aos autos no Supremo Tribunal Federal (STF), a qual comprova, de forma inequívoca, a origem lícita e a correta destinação dos recursos movimentados, afastando por completo qualquer suspeita de irregularidades legais.
“As ilações infundadas que vêm sendo disseminadas apenas reforçam que o Dr. Nelson Wilians é alvo de uma campanha difamatória ímpar, cujos autores e participantes serão responsabilizados judicialmente, nas esferas cível e criminal.”
Casal Willians se negou a comprovar renda
Sócia de empresas que movimentaram 4 milhões de reais em espécie e 43 milhões de reais em transferências, Anne Wilians constava como “do lar”, com renda mensal de 1 000 reais no período das transações, segundo o banco.
O banco reporta ao Coaf que o casal Wilians “se nega a fornecer documentação comprobatória” sobre a origem de sua renda.
“Cliente e beneficiária possuem ocupação sensível à lavagem de dinheiro”, registra o banco.
Ouvido na CPMI no dia 18 de setembro como investigado por desviar recursos de aposentados, Nelson Willians se declarou inocente, e amparado por um habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal, não respondeu às perguntas dos parlamentares durante o depoimento.
Wilians é ligado a Maurício Camisotti, investigado por supostamente ser um dos beneficiários finais dos descontos indevidos envolvendo associações ligadas aos beneficiários lesados.
Advogado disse não conhecer o “Careca do INSS”
Na CPMI, Willians negou conhecer Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, mas afirmou ter relação com o empresário Mauricio Camisotti desde 2015, que lhe foi apresentado por um amigo em comum, dando início a um contato profissional que “passou para amizade’.
O advogado disse abominar o que aconteceu no INSS e classificou os crimes de fraudes contra os aposentados como hediondos.
Durante a oitiva, o relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL) questionou se “a fortuna e a ostentação” do advogado, em algum momento, foram resultado do roubo dos aposentados e pensionistas lesados e se a Polícia Federal cometeu “o maior erro da sua história”, com busca e apreensão nas dependências de Wilians e pedido de sua prisão ao Supremo.
Ele respondeu que não tem ligação com as investigações da fraude.
“Com relação à Polícia Federal, ela cumpre o seu papel. Ela tem um papel nobre, institucional, assim como as instituições, assim como esta Comissão, assim como o nosso Senado, o nosso Congresso, o Judiciário, todos têm seu papel. O papel é de apurar. Se a Polícia Federal achou que aquele seria o caminho, é um direito dela. A mim cabe respeitar, a mim cabe acatar”, declarou Wilians.