Os apelos do governo, a inflação abaixo do esperado e a apresentação do tão aguardado arcabouço fiscal não foram suficientes para a redução da taxa básica de juros. Nesta quarta-feira (3), pela sexta vez consecutiva, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC (Banco Central) decidiu manter a Selic em 13,75% ao ano.
A última vez que houve alteração na taxa foi em agosto de 2022, quando o Copom ajustou meio ponto percentual para cima, passando de 13,25% para os números atuais.
O to adotado pelo BC no comunicado foi mais ameno que o anterior, inciando com a citação as incertezas no cenário internacional.”Os episódios envolvendo bancos no exterior têm elevado a incerteza, mas com contágio limitado sobre as condições financeiras até o momento, requerendo contínuo monitoramento. Em paralelo, os bancos centrais das principais economias seguem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas, em um ambiente em que a inflação se mostra resiliente.
Em contrapartida, a autoridade monetária citou fatores que considerou positivos para uma possível redução dos juros no futuro. “A reoneração dos combustíveis e, principalmente, a apresentação de uma proposta de arcabouço fiscal reduziram parte da incerteza advinda da política fiscal. Por outro lado, a conjuntura, caracterizada por um estágio em que o processo desinflacionário tende a ser mais lento em ambiente de expectativas de inflação desancoradas, demanda maior atenção na condução da política monetária. O Copom enfatiza que não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a aprovação do arcabouço fiscal, e avalia que a desancoragem das expectativas de longo prazo eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional. Nesse cenário, o Copom reafirma que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas”.
“Considerando a incerteza ao redor de seus cenários, o Comitê segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação. O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária. O Copom enfatiza que, apesar de ser um cenário menos provável, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, pontuou.
A equipe do Banco Central irá se reunir novamente nos dias 20 e 21 de junho.
Taxa deve ser mantida ao longo do ano
Na opinião de analistas ouvidos pelo BP Money, o BC já tnha dado sinais de manutenção dos tão questionados 13,5% da Selic, mesmo com o resultado positivo em relação à inflação oficial (IPCA), que veio abaixo do esperado, com alta de 0,71% em março e acumulado de 4,65% em um ano.
“Isso obviamente ajuda na condução de política monetária, mas ainda para essa reunião, a expectativa é de manutenção dos juros. Inclusive, por conta das declarações que o Roberto Campos Neto deu no Senado e vem se manifestando há algum tempo. Dizendo que ainda é cedo. A gente precisa de mais consistência nos dados para que a gente comece um ciclo de afrouxamento monetário, então a expectativa para a próxima reunião ainda é de manutenção”, disse o especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, Ricardo Jorge.
Ainda segundo Jorge, os números bons dos últimos dados de inflação trouxeram ânimo para o mercado, mas nesse momento eles ainda são insuficientes para que o BC reduza a taxa.
“O IPCA é o principal indicador de atividade utilizado pelo Banco Central, não é o único. Obviamente existem um conjunto de fatores que dão base para as decisões do comitê, mas é bem verdade que o IPCA segue sendo o principal indicador. Obviamente que um IPCA mais fraco corrobora para um perfil menos contracionista da condução da política monetária”, reforçou.
“O cenário que o Banco Central trabalha hoje, com a fotografia que a gente tem hoje, é de manutenção até o final do ano’, projetou.
O especialista em investimentos e sócio da GT Capital, Robson Casagrande, corrobora com a avaliação de Jorge. Para ele, o arcabouço fiscal apresentado pelo governo federal não deu segurança suficiente aos investidores, o que é um fator a mais para manter a atual taxa de juros.
“O mercado é quase unânime no entendimento de que na próxima reunião do Copom a taxa básica de juros deve se manter nos patamares atuais. O mercado aguardava a apresentação do novo arcabouço fiscal para projetar os juros futuros, porém a política fiscal apresentada não é clara e, apesar de delimitar o crescimento real dos gastos primários, demonstra uma redução lenta da despesa/PIB, com um aumento considerável da carga tributária e agora este projeto precisa vencer a resistência do Legislativo. Diante destes fatos, o mercado projeta uma Selic de 13,75% para todo o ano de 2023”, ressaltou.
Casagrande também explica que tem quem ganhe e quem perca com os juros altos.
“Os ativos que se beneficiam com a alta da taxa Selic são os de renda fixa pós fixados, pois muitos deles estão indexados ao CDI que acompanha este movimento de alta, por exemplo, um CDB de 120% do CDI hoje está rendendo por volta de 16,38%a.a, se taxa Selic for para 14%a.a este mesmo título irá rende próximo a 16,7% a.a”.
De acordo com o especialista, os ativos que mais são afetados negativamente com alta da Selic são os de renda variável.
“Um exemplo são os Fundos Imobiliários que perdem atratividade no mercado devido a facilidade do investidor em buscar rentabilidade em ativos de menor risco e com menos volatilidade. Com a Selic a 13,75%, facilmente o investidor consegue uma rentabilidade de 1% a.a. Este percentual é muito próximo do que muitos fundos imobiliários pagam de dividendos, por este motivo muitos estão sendo negociados abaixo do seu valor patrimonial”.