A crise imobiliária da China ganhou um novo capítulo na última segunda-feira (29), quando a Evergrande, gigante do setor, declarou falência após uma agonia que se arrastava já há algum tempo.
Carregando um fardo de aproximadamente US$ 300 bilhões em passivos, a empresa deixou de cumprir compromissos financeiros há dois anos, quando iniciou as negociações para reestruturar sua dívida. O prazo para a aprovação de um acordo chegou ao fim nesta segunda-feira.
“O setor imobiliário da China passa por problemas desde 2021, quando a própria Evergrande declarou dificuldade em honrar com suas dívidas”, disse ao BP Money o head de produtos da InvestSmart, Alexandre Carvalho.
Carvalho avalia que um dos principais impactos da falência da Evergrande é sobre os credores, principalmente os que se encontram fora da China Continental. “É onde se encontra a maior parte dos ativos da empresa. A dificuldade será recuperar parte do que foi emprestado”. “Além disso, a falência da empresa impacta o setor imobiliário como um todo, dado que a mesma ainda tem projetos inacabados”, alertou.
Aporte bilionário
A crise no gigante asiático não se restringe apenas ao setor imobiliário. O mercado de capitais da China passa por um momento de desconfiança de investidores de todo o mundo.
Buscando contornar o problema, no final de janeiro, o governo chinês informou que está avaliando um pacote de medidas de cerca de US$ 278 bilhões para um fundo de estabilização. Os recursos viriam principalmente das contas no exterior das empresas estatais chinesas e seriam usados para comprar ações, especialmente na Bolsa de Hong Kong, que vem sofrendo fortes perdas.
No ano passado, o índice Hang Seng caiu quase 14%, tornando-se um dos índices de referência com pior desempenho em todos os grandes mercados.
Além disso, a China tem outros problemas para resolver. “O país pode crescer em 2024 menos do que cresceu em 2025. O FMI, por exemplo, fala em 4,6% de crescimento em 2024, quando a China precisa crescer 5% ou mais de 5%, e isso pode acabar gerando insatisfações, principalmente entre os jovens, onde o desemprego atinge quase 20%”, lembrou o coordenador da Comissão de Economia da APIMEC Brasil, Alvaro Bandeira.
Alexandre Carvalho acredita que o aporte pode não ser o suficiente para garantir a confiança do mercado. “De maneira geral, apesar dos estímulos realizados pelo Governo Chinês para estimular o mercado de capitais, o evento deve aumentar o temor dos investidores estrangeiros em relação às empresas chinesas, principalmente as que estão ligadas ao setor imobiliário”.
E o Brasil?
Apesar de ser o maior parceiro comercial do Brasil, ainda é cedo para avaliar os impactos da crise chinesa na economia local, segundo os especialistas ouvidos pela reportagem.
“Para o Brasil, o impacto deve ser limitado, uma vez que o setor imobiliário da China já está em processo de desaceleração desde o final de 2021, quando iniciou a crise”, pondera o head da InvestSmart. “Podemos ter impactos indiretos, como por exemplo maior desaceleração na atividade econômica chinesa, que poderia reduzir a demanda por produtos commodities brasileiras”, acrescentou.
“A China, crescendo menos, é a segunda maior economia do planeta, afeta o mundo e, notadamente, o Brasil, que tem nela seu maior parceiro comercial, tanto em agro e principalmente em minerais. Se a situação for contornada, e ela aparentemente tende a ser contornada, acabará sendo positiva para o Brasil, se não, afeta o mundo inteiro e o Brasil vai na mesma onda”, pontuou Álvaro Bandeira.