SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O mercado acionário brasileiro andou de lado mais uma vez nesta quinta-feira (7), quando o Ibovespa, índice de referência da Bolsa, subiu apenas 0,02%, a 110.585 pontos. É o terceiro pregão de estabilidade desde o recuo de 2,22%, à casa dos 110 mil pontos, na última segunda-feira (4).
Enquanto os investimentos seguem em ritmo lento, o dólar subiu 0,52%, a R$ 5,5150. É o maior patamar para a divisa americana em quase seis meses, desde que alcançou R$ 5,547 em 20 de abril.
A principal fonte de pressão da taxa de câmbio nos últimos dias vem do exterior, mas é reforçada por dados fracos da economia doméstica associados a um cenário político local instável, segundo Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest.
No exterior, os Estados Unidos devem reduzir estímulos econômicos e aumentar os juros básicos para frear a inflação. “O aumento dos juros dos títulos do Tesouro americano atinge em cheio as moedas emergentes”, diz Consorte.
No Brasil, onde o governo não consegue apresentar soluções para fechar o Orçamento de 2022 e garantir recursos para programas de distribuição sem comprometer o equilíbrio fiscal, novas rodadas de dados econômicos continuam a revelar o fraco desempenho econômico.
“As vendas do varejo de agosto, por exemplo, ficaram bem abaixo do esperado”, comenta Consorte. “Apesar de ser uma informação de retrovisor, é mais um banho de água fria para as projeções de crescimento. Ou seja, podemos esperar mais revisões para baixo em nosso PIB [Produto Interno Bruto].”
Os problemas não são novidade, mas vêm se agravando com a paralisia do governo diante de crises internas -a mais recente envolvendo a revelação de que o ministro Paulo Guedes (Economia) mantém empresa em paraíso fiscal.
Relatório divulgado nesta quarta (6) pelo Citi aponta que os riscos fiscais domésticos superam os fatores externos como a principal causa de desvalorização da moeda brasileira, embora tenha destacado que o ambiente global para mercados emergentes deve ficar menos benigno. Na avaliação do Citi, o dólar fechará 2021 a R$ 5,47.
As taxas de DI negociadas na Bolsa, uma medida do juro esperado para o futuro, chegaram ao fim da tarde em fortes altas de mais de 10 pontos-base (0,10%) entre 2023 e 2027, o que evidencia as dúvidas do mercado sobre os rumos da inflação.
Pesquisa da agência Reuters aponta alta de 1,25% do IPCA (inflação oficial) em setembro, indo a 10,33% no acumulado em 12 meses.
A leitura mensal seria a segunda mais alta para setembro da série, que tem início em 1994, enquanto a taxa anual até setembro ficaria entre as cinco mais elevadas nessa base de comparação. O IBGE divulga o IPCA nesta sexta (8).
No contexto dos mercados globais, alguns acontecimentos políticos favoreceram as altas nas Bolsas, com destaque para os Estados Unidos, onde Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq subiram 0,98%, 0,83% e 1,05%, respectivamente.
Na Rússia, o presidente Vladimir Putin prometeu volume recorde de exportação. Além disso, os Estados Unidos revelaram que houve aumento do estoque de petróleo no país. Essas duas informações diminuíram a pressão sobre os preços de energia e podem aliviar os temores de estagflação.
Ainda assim, o barril do Brent, referência mundial, subiu 1,67%, cotado a US$ 82,43 (R$ 454,21). Apesar da tendência de queda dos últimos dias, a alta acumulada neste ano ainda é de 55%.
As ações da Petrobras recuaram 0,14% no pregão desta quinta.
A alta dos preços do gás com a aproximação do inverno no hemisfério norte pode levar a uma mudança para o petróleo que impulsiona a demanda global em várias centenas de milhares de barris por dia, espremendo a oferta já apertada.
Em Washington, republicanos ofereceram uma proposta de aumento do teto da dívida que evitaria o calote do governo dos EUA até dezembro. Isso estabilizou os juros das Treasuries (os títulos de dívida do Tesouro do país), beneficiando os mercados de risco.
Ainda sobre os Estados Unidos, os pedidos iniciais de auxílio-desemprego caíram em 38 mil, para 326 mil na semana encerrada em 2 de outubro, informou o Departamento do Trabalho nesta quinta. Economistas consultados pela agência Reuters projetavam 348 mil pedidos para a última semana.
Além disso, a divulgação da última ata da reunião do Banco Central Europeu indicou a possibilidade de um novo plano de compra de ativos, para quando o atual expirar, em março de 2022. A autoridade monetária europeia também discutiu, porém, a retirada dos estímulos, embora tenha destacado que isso deverá ocorrer de forma moderada.
Entre os destaques da Bolsa brasileira, as ações do Banco Inter subiram 12,06%. O banco anunciou que listará ativos nos Estados Unidos.
Empresas da área educacional também apresentaram ganhos neste pregão, o que segundo Braulio Langer, analista de investimentos da Toro, pode ser atribuído a um relatório favorável do Citi ao setor. Os papéis da Yduqs subiram 9,82% e os da Cogna 4,68%.