WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Empresários e investidores americanos que se encontraram com o ministro Paulo Guedes (Economia) em Washington pediram a ele que o Brasil ratifique a meta de se tornar neutro em carbono a partir de 2050, e que o Congresso brasileiro ratifique um protocolo comercial assinado entre os dois países há um ano, para que ele possa entrar em vigor.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciou, durante um evento em abril, que o Brasil antecipou sua meta de neutralidade de carbono -na prática, cessar ou compensar todas as suas emissões de poluentes- de 2060 para 2050. No entanto, o país ainda não formalizou a mudança.
“Isso é uma grande prioridade, por ser simbólico do compromisso do Brasil com suas próprias ambições climáticas e sustentáveis, e vai trazer confiança para o investidor americano”, diz Cassia Carvalho, diretora executiva do Brazil-US Business Council, que integra a US Chamber of Commerce.
Guedes se reuniu com representantes da US Chamber of Commerce na semana passada, em um hotel próximo da Casa Branca. Estiveram presentes executivos de empresas como AES, Apple, Citigroup, Dow, Embraer, Fedex e Morgan Stanley.
Na reunião, representantes do governo responderam que o Brasil está trabalhando para avançar nas metas ambientais e tomando medidas para melhorar o ambiente de negócios para investimentos que consideram critérios ESG (boas práticas ambientais, sociais e de governança).
“Muitos fundos estão com critérios ESG para investir. Há uma liquidez enorme de recursos, mas faltam projetos e oportunidades que atendam a esses critérios. O Brasil deve prestar muita atenção ao investidor que está preocupado com questões ambientais”, analisa Carvalho.
Os representantes também pediram ao governo que ajude a acelerar a aprovação no Congresso brasileiro do Protocolo sobre Regras Comerciais e Transparência, assinado em outubro de 2020, mas que depende do aval do Legislativo para entrar em vigor. Nos EUA, o documento não precisou de aprovação pelos parlamentares.
O protocolo prevê mudanças em três áreas: facilitação de comércio e administração aduaneira, boas práticas regulatórias e anticorrupção. O acordo prevê novas regras para consultas prévias e penalidades e a adoção de disposições sobre regulações similares às adotadas no tratado USMCA (entre EUA, México e Canadá).
Na parte de corrupção, o tratado expande ações relacionadas à lavagem de dinheiro, recuperação de recursos de origem ilícita, negação de ingresso para funcionários públicos estrangeiros envolvidos em corrupção e proteção adicional para delatores.
A diretora do Brazil Council avalia que questões como o real desvalorizado, alta da inflação e preço da energia devem se ajustar no curto e médio prazo, mas que a posição brasileira sobre questões ambientais seguirá sendo relevante para as relações comerciais por muito mais tempo.
Já Alberto Ramos, diretor do grupo de pesquisa econômica para América Latina do banco Goldman Sachs, avalia que o cenário atual nestas áreas é mais nebuloso.
“Os progressos em reformas estruturais e esforços pela muito necessária consolidação fiscal têm sido lentos e algumas vezes erráticos. E a durabilidade e a força de algumas âncoras fiscais chave, incluindo o teto de gastos, têm sido cada vez mais questionados. De modo geral, os riscos fiscais permanecem altos, e isso pressiona as taxas de juros de longo prazo”, disse Ramos, em um debate virtual com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Ramos também destacou o fato do país ter atingido inflação de dois dígitos, a disparada dos preços de energia, o risco de racionamento e as incertezas políticas. “Temos uma eleição muito complexa à frente, com um resultado incerto e falta de clareza sobre as direções das politicas depois dela. E essa incerteza não será resolvida logo, pois a eleição está há mais de um ano de distância”, avaliou.
Apesar do cenário incerto, o comércio exterior entre EUA e Brasil está em uma alta histórica, segundo dados da Amcham (Câmara de Comércio Brasil-EUA) divulgados na semana passada. Entre janeiro e setembro, foram movimentados US$ 49,6 bilhões, maior volume já registrado no período desde 1997, quando o Monitor de Comércio da entidade foi criado.
As exportações brasileiras para os Estados Unidos somaram US$ 22,3 bilhões no período, o que representa 47,1% a mais que no mesmo período do ano passado. Produtos de siderurgia, combustíveis, aeronaves e madeira se destacaram nas vendas. O montante destinado aos EUA representa 10,4% do total das exportações brasileiras para o mundo.
Já as importações brasileiras vindas dos Estados Unidos alcançaram valor inédito de US$ 27,3 bilhões, 29,8% em relação a 2020. Compras de gás natural e produtos de saúde, como vacinas, intensificaram a alta.