O mercado acompanhou, nesta semana, o petróleo atingir seu maior patamar orçamentário em um período de sete anos, conduzido por tensões geopolíticas, perturbações na oferta e demanda crescente e restrições no mercado físico. O barril de Brent do Mar do Norte estava sendo negociado a US$ 87,26 (+0,9%), atingindo um máximo desde 30 de outubro de 2014, quando chegou a US$ 86,74. O barril de West Texas Intermediate (WTI) seguiu a tendência, subindo para US$ 85,66, um nível que não era visto também há sete anos.
Diversos fatores foram responsáveis pelo aumento, como explica Pedro Queiroz, Head de renda variável da BP Money: “Desde que começou esse processo de ESG, de mudança da matriz energética, o setor de petróleo demanda de muito investimento para continuar ofertando o que a demanda mundial precisa, que são investimentos grandes. Existe quantidade de capital mais barata para essas novas demandas e matrizes de energia mais limpa, o petróleo não acompanha esta realidade e, somado à um cenário de uma demanda crescente, a consequência é uma limitação na oferta, porque alguns projetos se tornam inviáveis”.
O especialista também destaca que o impacto decorrente do novo coronavírus, que ocasionou uma redução na produção petrolífera, custou para retornar ao patamar desejado e, de forma gradativa, deve exceder os níveis pré-pandemia ainda em 2022, prevê a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).
Por outro lado, apesar das preocupações, a Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep) afirmou, em seu relatório mensal divulgado nesta terça-feira (18), que a variante Ômicron da Covid-19 teve um impacto menor que o esperado. A demanda pela commodity avançou no último trimestre de 2021, reduzindo as expectativas em relação à nova cepa.
O alto nível do preço do gás natural contribui para o aumento do preço do petróleo, por provocar o aumento da demanda por diesel e combustível em substituição ao gás natural.
A elevação nos preços é explicada pelo especialista principalmente em razão dos receios de quebras na produção de petróleo, na sequência de um ataque do grupo Houthi do Iémen nos Emirados Árabes Unidos, aumentando as hostilidades entre o grupo alinhado com o Irão e a coligação liderada pela Arábia Saudita, cujo petróleo dá as cartas para o mercado de combustível natural em escala global, juntamente com o gás natural russo.
Após ataque, a empresa petrolífera dos Emirados Árabes Unidos disse que ativou planos de continuidade de negócios para garantir o fornecimento ininterrupto de produtos a seus clientes locais e internacionais após um incidente em seu depósito de combustível em Mussafah.
Não o bastante, o frio extremo ocasionou a interrupção da produção na Líbia, na Nigéria, em Angola, no Equador e, mais recentemente, no Canadá, tornando ainda mais frágil o equilibrio que o mercado tenta ponderar entre oferta e demanda. O desequilíbrio possui um impacto expressivamente importante nas flutuações de preços durante a recuperação econômica pós-pandemia.
Neste cenário, economistas do Goldman Sachs projetaram que os preços do petróleo Brent devem superar os US$ 100 por barril ainda este ano, impulsionado pelo “déficit surpreendentemente grande” que insiste em permanecer no mercado de petróleo.
Como impacta o consumidor?
Havendo a concretização da previsão do Goldman Sachs, cujo cenário era considerado inevitável há pouco tempo, de acordo com estimativas de economistas do “Wall Street” que apostavam em um novo superciclo das commodities, o aumento do preço do petróleo será o principal motor que impulsionará a inflação.
A realidade do petróleo a US$ 100 o barril é uma das principais preocupações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que destacou em evento que a inflação no Brasil é impactada pela recente alta nos preços do petróleo e por questões climáticas, como as fortes chuvas em algumas regiões do país e a seca em outras áreas. Seguindo essa projeção otimista e fazendo um rápido cálculo com o preço médio da gasolina e da variação do aumento do Brent, o consumidor final pode se preparar para desembolsar cerca de R$ 8 por litro, caso a projeção se confirme.
Queiroz explica que os problemas aumentam o risco fiscal porque haverão reajustes com o aumento dos preços inflacionários, impactando significativamente o bolso do consumidor, uma vez que a commoditie atinge diversos setores da economia. O Índice de Preços ao Produtor (IPP), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é um dos principais medidores influenciados pela alta do preço do petróleo. O IPP registrou uma desaceleração em novembro de 2021, com uma taxa acumulada em 12 meses que chegou ao menor nível em quase um ano. Com a elevação do Brent, a expectativa é de que o índice apresente fortes saltos.
Conflito entre Ucrânia e Rússia
A tensão geopolítica entre os países europeus assolaram em 2013, após um acordo político e comercial histórico com a União Europeia. Quando o então presidente pró-Rússia, Viktor Yanukovych, suspender os diálogos, supostamente sob pressão de Moscou, semanas de protestos em Kiev explodiram em violência.
A disputa entre os ex-estados soviéticos atingiram seu ponto mais alto dos últimos anos, com uma tropa russa a postos próxima à fronteira entre as duas nações nos primeiros dias deste ano, levantando temores de que Moscou teria a intenção de iniciar uma invasão nas semanas ou meses posteriores.
Ainda na tarde desta terça-feira (18), a Secretária de Imprensa da Casa Branca dos Estados Unidos, Jennifer Rene, afirmou que a diplomacia americana espera um ataque da Rússia à Ucrânia “a qualquer momento” e acrescentou que a crise no leste europeu é “muito perigosa”. O conflito interfere diretamente no fornecimento de gás para a Europa, ou no Golfo Pérsico, onde os rebeldes houthis do Iêmen reivindicaram um ataque contra instalações de fornecimento de petróleo nos Emirados Árabes Unidos.