O FOMC (Comitê Comitê de Política Monetária dos EUA), divisão do Federal Reserve (FED), divulgou, nesta quarta-feira (31), sua decisão quanto ao corte de juros e a política monetária do país. O comitê decidiu manter a taxa de juros entre 5,25% e 5,50%, sendo assim, analistas veem “tom duro” (hawk) e reduzem expectativa sobre um possível corte em março.
Em resposta ao BP Money, Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, comentou sobre a decisão do FED, que correspondeu à sua previsão anterior, e a causa apresentada pelo FOMC para manter a taxa atual. “Foi um comunicado mais duro, no sentido de empurrar os cortes de juros mais para frente, especificamente quando eles falam que só vão cortar os juros quando tiverem mais confiança que a população está realmente indo para 2%. Ou seja, eles não têm essa confiança ainda”, avaliou.
“O mercado já está reduzindo a probabilidade de cortes em março e jogando para o dia 1 de Maio, acredito que é o mais provável”. Gala vê no movimento do FED um receio de que a inflação os cause aumentos dos juros novamente, após o corte.
“Os dados de Economia americana estão bons. Os dados de Janeiro foram bons para o varejo, para a produção industrial, os do mercado de trabalho foram razoáveis também. Acredito que o Fred não quer arriscar já sair cortando juros e depois a inflação tem um repique eles têm que aumentar de novo. Eles querem evitar isso a todo o custo”, concluiu o economista.
Outras menções na decisão do FED
O relatório do banco não apenas trouxe a decisão e condições para o corte na taxa de juros norte-americana, mas também mostrou a posição do FOMC frente ao cenário econômico do país. O economista-chefe da Nomad, Danilo Igliori, ressaltou alguns pontos no documento.
“Primeiramente, não foi feita qualquer menção à solidez e resiliência do sistema bancário. Também deixou de aparecer de forma explícita a possibilidade de novos aumentos nas taxas de juros. Foi mencionado também que os riscos sobre inflação e emprego estão se movendo para um melhor equilíbrio.”, disse ele.
Na visão de Igliori, os destaques chamam atenção para duas mensagens que o FED quis passar. “De um lado, temos a sinalização de que o ciclo de alta de fato foi encerrado e que agora a missão está em se preparar para começar a cortar os juros. De outro, ressaltam a necessidade de ter cuidado para não fazer movimentos de forma precipitada”, ressalta.
Igliori concorda com Gala quanto ao tom mais duro e as expectativas de cortes apenas no próximo trimestre. “Minha leitura é de que o FOMC quis enfraquecer a percepção de que já estão prontos para cortar em março”, completa.
A influência da inflação
O cenário ideal para que ocorram as reduções, tanto na inflação quanto na taxa de juros, não apenas nos EUA, mas também em outras partes do mundo, como o Brasil, parece ser uma análise convergente entre os economistas. Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, explica que para haver queda na inflação, a atividade econômica e o mercado de trabalho precisam mostrar sinais de desaceleração.
“A nossa expectativa, caso não haja choques que pressionem a inflação, é de uma desaceleração dos preços ao longo dos próximos meses, com uma inflação se aproximando da meta no terceiro trimestre deste ano. Esse cenário seria um gatilho para o início de corte na taxa de juros entre maio e junho deste ano”, explica Sung.
Cleide Rodrigues, analista chefe da Money Wise Research, disse que o Brasil, como um dos primeiros países a elevar as taxas, agora está em um momento favorável, já que está em processo de redução. “O pior cenário já passou, me refiro aos anos de 2022 e 2023, marcados por inflação alta e taxas de juros em ascensão”, observa.
A analista ressalta que os setores econômicos que mais tendem a ser afetados por essa decisão são: o varejo e a construção civil. Para ela, as empresas dessas áreas podem valorizar no longo prazo.
“Para ter sucesso, os investidores precisam entender os eventos, mas não devem basear suas posições apenas neles. Ter uma estratégia bem definida e segui-la independentemente das oscilações do mercado é a chave para o investimento bem-sucedido”, aconselha a analista.