A divulgação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) para o mês de maio ocorrerá na terça-feira (11) e promete mexer com as estruturas do mercado. Analistas projetam aumento da inflação no período, destacando o estresse vivido nas últimas semanas para justificar a desancoragem.
Andréa Ângelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, afirmou, em resposta ao BP Money, que a expectativa da companhia é de resultado do IPCA em 0,39% para maio, com variação de 12 meses em 3,85%.
“A ligeira aceleração da inflação entre abril e o número esperado para maio, na variação mensal, de 0,38% para 0,39% pode ser atribuída pela aceleração nos grupos Transportes e Habitação”, avaliou.
Mas o estrategista não é o único que sustenta tal visão. Segundo o Relatório Focus, do BC (Banco Central), divulgado nesta segunda-feira (10), elevaram as projeções do IPCA para 2024.
A estimativa é que a inflação alcance 3,90% até o fim do período, expressando uma alta de 0,9 ponto em relação ao centro da meta. O foco da autarquia é que a inflação deste ano chegue a 3,0%.
“Seguimos com a projeção do IPCA em torno de 4% para 2024 e 2025, porém o balanço de risco é altista para estes períodos”, prosseguiu Ângelo.
No banco dos preços que devem contribuir com o aumento do IPCA, o analista da Warre Investimentos citou a variação de 6,04% na passagem aérea e a alta de 0,28% na energia elétrica.
Na outra linha, ajudando o indicador, devem estar a desaceleração da alimentação doméstica – de 0,81% para 0,43%.
“Principalmente em razão dos produtos in natura que deverão apresentar alta de 1,2% vindo de 3,95% no mês anterior. Outra ajuda que este mês deverá contar é a descompressão dos preços dos medicamentos, com o fim do impacto do reajuste dos preços de 4,5%”, explicou.
IPCA: mesmo com boa trajetória, especialistas veem ruídos do governo como risco
Conforme vem mostrando os últimos Relatórios Focus, as expectativas dos agentes do mercado para a inflação crescem a cada nova revisão. Um dos principais fatores para o desmonte do cenário positivo são os movimentos do Governo Lula.
Na sexta-feira (7), um grande ruído se formou e criou mais nuvens no horizonte da economia interna, quando Fernando Haddad (PT), ministro da Fazenda, mencionou sobre a publicação de um decreto para regulamentar uma mudança na meta do IPCA.
“[Houve] Declarações desencontradas do presidente do Banco Central, do Haddad e do governo. O mercado começa a tirar o benefício da dúvida que ele tinha dado para o novo arcabouço fiscal. E está até pondo em cheque, se realmente vai ser respeitado”, afirmou Felipe Moura, analista da Finacap Investimentos.
“A atual trajetória do IPCA vem sendo relativamente bem linda. A curva realizada, os números controlados, sem muita volatilidade dentro das metas. Está muito bem controlado inclusive”, disse.
O estresse macro das últimas semanas é que tem desancorado as projeções. Logo, esse quadro tem se refletido na curva de juros e na abertura expressiva de taxa nas últimas semanas, segundo Moura.