"Surpresa inflacionária"

PIB dos EUA não dá indício de cortes de juros, diz Paulo Gala

Segundo o economista, o mercado, que esperava "mais PIB e menos inflação", foi surpreendido negativamente com dados que indicam "estagflação"

Taxa de juros
Foto: Freepik

O resultado da medição do PIB dos EUA no primeiro trimestre de 2024 está mexendo com o mercado nesta quinta-feira (25), diante da perspectiva do início nos cortes dos juros norte-americanos.

O número foi de 1,6%, um recuo em comparação ao de 3,4% registrado no quarto trimestre de 2023. O resultado também veio abaixo do consenso LSEG de analistas, que esperavam um PIB de 2,4%.

De acordo com Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, o mercado, que esperava “menos inflação e mais PIB”, foi pego de surpresa com um resultado “ruim para a inflação americana”.

“O PIB veio bem mais fraco que o esperado, crescimento de 1,6% apenas. Um dado bem ruim, bem abaixo da expecativa. Por outro lado, a inflação medida pelo deflator implícito do PIB, 3,1%, veio muito forte, uma indicação de inflação importante. E 3,7% do CORPCI, o núcleo do deflator, ligado a consumo. Uma indicação de estagflação, que é a inflação mais a estagnação”, explica Paulo Gala.

Paulo destaca que os impactos negativos não se restringem aos EUA, já que o dólar se valoriza e, com isso, as moedas emergentes e as bolsas também sofrem.

Ainda segundo o economista-chefe do banco Master, com o resultado e os swaps de juros futuros, praticamente, tirando cortes de juros nesse ano, a mudança no cenário torna-se ainda mais drástica.

“Estava [o cenário] com aquela cara de corte em setembro e agora já começa a ficar com uma cara de que não tem corte de juros esse ano nos EUA”, afirma.

Para Rodrigo Cohen, analista CNPI, embaixador da XP Investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, os dados em questão demonstram “insegurança e imprevisibilidade”, mas não são indicativos de grandes mudanças, por hora.

“Amanhã, os dados do PCE podem ajudar a termos uma visão um pouco melhor. Na minha opinião, nada muda por enquanto. Tentativa de início de queda de juros dos EUA talvez venha em julho, mas ainda acho esse cenário muito incerto com esses dados sendo divulgados. Cada vez mais essa incerteza aumenta e, com isso, as bolsas sofrem”, diz Cohen.

Leandro Ormond, analista da Aware Investments, aposta na manutenção do discurso “conservador” do FED diante dos dados. “Olhando esse resultado do PIB mais fraco do que o esperado, é possível que essas expectativas possam ser revistas, devido aos efeitos restritivos da atual política monetária estarem começando a mostrar seus efeitos”.

Dados sobre o seguro-desemprego nos EUA também preocupam o mercado nesta quinta (25). De acordo com o Departamento do Trabalho dos EUA, os pedidos iniciais de auxílio-desemprego diminuíram em 5.000 na semana encerrada em 20 de abril, totalizando 207.000 após ajuste sazonal.

Segundo Paulo Gala, o resultado indica um mercado de trabalho aquecido, o que contribui para a pressão inflacionária e dos juros.

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