A falta de gás natural para abastecer térmicas levou o governo a pedir a autorização para uso de óleo diesel, mais caro e poluente, como combustível em algumas usinas do país. A mudança deve pressionar ainda mais a conta de luz.
Nesta terça (17), a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) autorizou a troca de combustível da Termoceará, da Petrobras, que estava parada por falta de combustível. Com a mudança, o custo de geração da usina passa a ser de R$ 1.551 por MWh (megawatt-hora), mais do que o triplo dos R$ 431atuais.
A troca havia sido solicitada pela Creg (Câmara de Regras Excepcionais para a Gestão Hidroenergética) após reunião na semana passada, em que elencou uma série de medidas para enfrentar a falta de gás natural para térmicas.
No Ceará, o problema é a falta de navios para regaseificar gás importado na forma líquida, que afeta também uma segunda térmica no estado, chamada Termofortaleza. A terceira, Vale do Açu, está recebendo gás de outras fontes.
Na autorização desta terça, a Aneel determinou que a Petrobras desloque um navio que está hoje no Rio de Janeiro para o Ceará, também atendendo a pedido da Creg.
O problema, porém, se alastra por outros estados, como reflexo da parada para manutenção do polo de Mexilhão, um dos principais produtores de gás natural do país, localizado no litoral paulista. O sistema ficará parado por 30 dias, a partir do próximo dia 29.
Em sua última reunião, a Creg também pediu à Aneel que reconheça “como prioritária e estratégica a disponibilização de gás natural” para térmicas e que determine aos fornecedores do combustível que encontrem soluções para o suprimento, incluindo a substituição por óleo diesel onde possível.
Nesse sentido, a Aneel avalia também pedido da Delta Energia para permitir o uso de diesel na usina William Arjona, a mais cara do país, localizada no Mato Grosso do Sul. O projeto foi reinaugurado em julho, como reforço contra a crise, mas corre o risco de ficar sem gás com a parada de Mexilhão.
A Delta diz que a operação com óleo diesel não vai encarecer o custo da energia, já que a operação a diesel seria mais barata. A térmica foi inaugurada com custo de geração de R$ 1.741 por MWh, mas hoje já custa R$ 2.075 por MWh. Segundo a empresa, a alta acomoda elevação no preço do gás.
Além da William Arjona, a Creg citou no documento outras três usinas que correm risco de ficar sem gás: Araucária, no Paraná, Cuiabá, no Mato Grosso, e Santa Cruz, no Rio de Janeiro. Hoje, elas custam, respectivamente, R$ 1.083, R$ 701 e R$ 259 por MWh. Com óleo, a expectativa é que os valores sejam elevados.
O custo das térmicas é bancado pelas bandeiras tarifárias cobradas na conta de luz e pelo ESS (encargo de serviços do sistema), que também compõe a fatura paga pelos consumidores. Com o elevado uso de térmicas, a Aneel já prevê maior pressão sobre as tarifas, que hoje são o principal componente de pressão inflacionária.
A busca de novas fontes de geração é um dos focos da câmara criada pelo governo para enfrentar a crise energética. Em outra frente, o grupo flexibilizou restrições de vazão de água em hidrelétricas, para tentar recompor os reservatórios.
Especialistas, porém, classificam a postura do governo como “negacionista” e pedem programas de economia no consumo em busca de resultados mais rápidos sem tanta pressão na conta de luz. Dois programas desse tipo já foram anunciados, mas nenhum entrou em vigor ainda.
Em comunicado ao mercado na semana passada, a Petrobras diz que “segue envidando todos os esforços para maximizar a disponibilidade de gás ao mercado durante a parada programada, observando sempre a segurança de suas operações e o respeito ao meio ambiente”.
A companhia diz que já ampliou a capacidade de importação de gás no Rio de Janeiro, transferiu o navio do Ceará para a Bahia e vem buscando no mercado cargas de gás importado.