O Brasil sempre foi um destino desejável entre os viajantes. A culinária, paisagens e cultura brasileira atraem visitantes e geram ganhos a empresas diretas e indiretas do turismo. No entanto, com a volta da exigência do visto para os EUA, Canadá e Austrália, empresas e especialistas ao BP Money, temer a perdas de lucros e impactos negativos na economia do País.
Considerando o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, em 2023 o turismo representou 8% do índice, conforme informações da Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo). No decorrer do ano a arrecadação com o setor teve recorde, com o melhor resultado dos últimos 25 anos, segundo Marcelo Freixo, presidente da Agência.
Yan Pedro, fundador da empresa Hey Investidor e da OPI Escola de Investimentos, chama atenção para a arrecadação de capital que os turistas estrangeiros deixaram para o Brasil. Segundo ele, em setembro de 2023 esse valor chegou a R$ 2,3 bilhões e medidas internas ou externas podem afetar diretamente o setor.
“Embora as restrições sejam para os EUA, Canadá e Austrália isso impactaria negativamente o setor, visto que são países com moedas fortes […] A preocupação é válida para as empresas do segmento, visto que o setor de turismo é um setor bem cíclico e sazonal, onde medidas macroeconômicas e políticas impactam diretamente no setor”, afirma.
Em janeiro, o governo federal adiou a exigência de visto para estrangeiros vindos dos países citados, sendo assim a cobrança passa a valer a partir de 10 de abril. De acordo com a Embratur, a maior parte dos turistas que visitaram o País vieram da Argentina (1,24 milhão), dos EUA (271,1 mil) e do Paraguai (215,5 mil). Da mesma forma, os destinos mais procurados foram o Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.
Renda do turismo brasileiro
Segundo dados estimados pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o setor de turismo cresceu cerca de 7,4% em 2023. Na contramão, o desempenho do setor para 2024 ficou em 2,8%. Bruno Waltrick, presidente da ABAV-SP (Associação Brasileira de Agências de Viagem de São Paulo), se refere à exigência dos vistos como “mais uma burocracia” na recepção dos visitantes.
Em sua avaliação, “caso essa necessidade seja anulada, com a facilidade da chegada de visitantes, podemos registrar crescimento na ocupação hoteleira, consumo em restaurantes, gastos com passeios, atrações turísticas e culturais e comércio, além da contribuição para a geração de milhares de novos empregos”.
Milena Santos, da agência de turismo Wow Tickets, traz uma análise contrária e positiva sobre a política de reciprocidade do governo federal. “Acreditamos que todas as medidas que sejam de segurança para as pessoas que residem em um país ou para os que estão visitando aquele destino são válidas e necessárias para que a ordem seja respeitada por todos”, disse.
Segundo ela, os vistos não representam uma preocupação para a agência pois “isso não atrapalha as nossas operações”, além disso eles já estão “habituados a essa norma para os viajantes”.
No entanto, Pedro reforça que, apesar de ser “um tiro no pé” tentar prever o futuro de uma medida econômica, a certeza que se tem é que a economia perde. Enquanto Waltrick destaca que além de riquezas e desenvolvimento, o setor foi responsável por 1 em cada 10 empregos diretos e indiretos no País e beneficia outras 52 áreas.
Daniel Toledo, advogado especializado em Direito Internacional, concorda que a política de reciprocidade não deve gerar impactos ao turismo brasileiro. “O visto para estes paises sao eletronicos e super simples de serem solicitados pela internet”. Além disso, ele avalia que a política “deve sim permanecer como um pré filtro”
Em sua concepção, há outros fatores que podem dificultar as atividades do setor, como a segurança pública. “A questao da seguranca publica problematica no Brasil é o que mais se comenta e tem sim impactado na escolha de destinos para turismo”, afirma.
Atrativos do setor
Fábio Zelenski, da Fundação Visite São Paulo, destaca que na capital paulista há uma série de eventos de turismo que atraem o público estrangeiro e movimentam a economia da cidade. Alguns são do ramo do entretenimento como a Formula 1 e a Parada do Orgulho LGBTQIA+, outros são do mundo corporativo e institucional com congressos, feiras e simpósios.
Para ele, os vistos se tornam uma preocupação ao colocar mais um processo no trabalho de atrair turistas, portanto a política de reciprocidade nem sempre é o melhor caminho para a economia. Sendo assim, São Paulo, por exemplo, mesmo sendo o maior polo de negócios do Brasil pode perder com a decisão.
“Quando se dá luz para a captação de novos eventos internacionais, em que São Paulo está concorrendo com destinos do mundo, grande parte do público vem dos países citados, isso pode acarretar a escolha de uma cidade, estado ou país que não se exijam os vistos. Da mesma forma, da hora de escolher um destino para férias, para lazer ou entretenimento, pode ser um fator decisivo”, completa.
Ações para as empresas
Na mesma linha, Pedro aconselha que as empresas do setor aproveitem o tempo até que a nova política comece a valer, para aumentar o caixa e garantir fôlego para uma possível queda do setor futuramente.
“A partir do momento que temos turistas dos EUA, Canadá e Austrália, atraímos um capital estrangeiro mais qualificado, que além de impulsionar os setores de turismo, também podem ser uma porta de entrada para investidores estrangeiro investirem no Brasil”, observa.
Waltrick diz que, em razão das variadas vertentes que podem impactar o turismo, é importante que as empresas tenham planejamento e capacitação para gerir crises. “Os profissionais que não se adaptaram e adequaram às mudanças e efeitos que a pandemia trouxe, infelizmente, fecharam seus negócios”, lembra.
Como incentivo para enfrentar os efeitos negativos a que o turismo brasil está sujeito, Waltrick avalia que o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse) é fundamental e deve ser continuado.
No momento, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), tenta argumentar com o Congresso pela extinção do Perse. Segundo ele, a isenção garantida pelo Programa pode gerar, no período de 5 anos, perdas estimadas em R$ 100 bilhões.