Durante a pandemia de Covid-19, em 2020, a Americanas (AMER3) tentou interromper o esquema de fraudes, mas não conseguiu. Márcio Cruz, um dos executivos da companhia, na época CEO da operação de comércio eletrônico, ficou insatisfeito com o desempenho real e o esquema retomou, segundo apuração do “Valor”.
As informações constam nos pedidos de medida cautelar deferidas pela Justiça do Rio de Janeiro, que investiga a ex-diretoria da Americanas.
Marcelo Nunes, ex-diretor financeiro da B2W, contou em depoimento que devido à pandemia o resultado do digital ‘passou a ser muito bom”, e que, a partir de março ou abril de 2020, foi uma oportunidade de melhorar o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) .
Durante o intervalo, a Americanas aproveitou para aumentar as margens dos produtos, buscando aproximar o resultado falso de um mais real.
De acordo com Nunes, a quantidade de lançamentos fictícios caiu em 2020, mas, com isso, os dados mais próximos da realidade passaram a mostrar uma B2W crescendo menos que os concorrentes.
A Americanas montava versões variadas do balanço, que eram chamadas internamente de “orçamento”. A fabricação de verbas de mídia e de operações financeiros de risco foi o que permitiu a inclusão dos números alterados, de acordo com o veículo de notícias.
Conforme os balanços daquele período, no terceiro trimestre de 2020, antes da volta das falsificações, a B2W cresceu em vendas totais, em cerca de 56%. Enquanto isso, o Magalu (MGLU3) avançou mais de 81%.
A demanda no ambiente online disparou no período, o que beneficiou especificamente o Mercado Livre (MELI34), a Magalu e as plataformas asiáticas.
Analistas e investidores chegaram a questionar a diretoria da Americanas na época, sem entender a aceleração menor frente aos rivais, levando em conta o excelente momento do mercado.
Em resposta, a Americanas dizia que vinha em “bom ritmo” e não estendia as explicações.
Fraudes da Americanas retornaram com força para mostrar “bons resultados”
Segundo Nunes, houve tentativas de ajustes para parar as fraudes, que reduziram muito, mas que a necessidade de mostrar crescimento melhor, e não abaixo do mercado fez Márcio Cruz voltar a cobrar a necessidade de expandir mais rápido. Sendo assim, o volume de fraudes contábeis retornou.
Foi naquele momento, de acordo com o depoimento de Nunes, que constam em documentos na medida cautelar, que as fraudes escalaram mais.
Carlos Alberto Sicupura era o acionista que acompanhava o indicador. Ele integra o trio de acionistas de referência da Americanas.
Mensagens trocadas no aplicativo WhatsApp, entre Márcio Cruz e Marcelo Nunes, em dezembro de 2020, pela PF (Polícia Federal) mencionaram que Miguel Gutierrez, ex-CEO da varejista, queria uma prévia dos dados das vendas totais, porque repassaria a Sicupura, segundo o “Valor”.
Após isso, no primeiro trimestre de 2021, a B2W começou a publicar vendas muito maiores, com crescimento de 90% no período, para R$ 8,7 bilhões.