A apreensão com os mercados emergentes e a percepção aumentada de risco local resultaram em mais um semana de amargas sessões e desvalorização do câmbio doméstico.
Em apenas dez dias, o dólar já registra um avanço de 2,05% em relação ao real no mês de junho – acumulando uma alta de 10,4% no ano. Com a moeda norte-americana ultrapassando a marca de R$ 5,40, as causas dessa valorização são multifacetadas, envolvendo tanto questões internas quanto externas.
A situação fiscal do Brasil, a política monetária dos EUA e as tensões geopolíticas globais são alguns dos principais fatores que influenciam esse cenário, segundo especialsitas ouvidos pelo BP Money.
Segundo André Colares, CEO da Smart House Investments, um aumento agressivo nas taxas de juros pelo Fed (Federal Reserve), o banco central dos EUA, pode tornar os investimentos em dólar mais atraentes, levando a uma maior demanda pela moeda americana e, consequentemente, sua valorização frente ao real.
Ele explica que, em momentos de crises globais ou tensões geopolíticas significativas, os investidores tendem a buscar ativos seguros, como o dólar.
“Um cenário de aversão ao risco global pode aumentar a demanda por dólares, elevando seu valor frente ao real”, destaca Colares.
Além dos fatores externos, a situação fiscal do Brasil tem um peso significativo na valorização do dólar. Volnei Eyng, CEO da Multiplike, ressalta que a falta de medidas para reduzir custos e a ênfase em aumentar a arrecadação geram desconfiança no mercado.
“O governo promete equilibrar as contas, mas o mercado acredita que pode haver um déficit de até 0,7% do PIB. A falta de preocupação em reduzir custos e a ênfase em aumentar a arrecadação geram desconfiança”, afirma Eyng.
No âmbito interno, a derrota do governo em seus esforços para compensar a desoneração da folha de pagamentos adiciona mais incerteza ao cenário.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está enfrentando dificuldades significativas para aprovar medidas que poderiam melhorar a arrecadação fiscal.
Fábio Murad, sócio da Ipê Investimentos, destaca que a rejeição de propostas como a reoneração e a retomada de taxas sobre os municípios, além da nova formatação para o uso de créditos do Pis/Cofins, contribuem para essa instabilidade.
“A situação fiscal no Brasil, como a devolução de uma medida provisória que limita a compensação do PIS e Cofins, gera incertezas sobre como o governo e o Congresso conseguirão arrecadar cerca de R$ 26,3 bilhões para equilibrar as contas em 2024, o que pode desencorajar investidores e pressionar a alta do dólar”, ressalta Murad.
Outro ponto de atenção é o impacto das políticas monetárias do Fed. Mesmo mantendo a taxa de juros, a indicação de um provável corte de taxa ainda este ano pode sugerir uma política monetária menos agressiva, o que pode fortalecer o dólar.
“Aqui dentro, a política interna brasileira, como a fala do presidente Lula sobre equilíbrio fiscal atrelado ao aumento da arrecadação e não a cortes de despesas, e o enfraquecimento do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, após derrotas políticas, geram mais incertezas e pressionam a alta do dólar”, complementa Murad.
Fábio Murad, Sócio da Ipê Avaliações, aponta que a alta do dólar também pode ser atribuída à expectativa do mercado em relação ao relatório de empregos dos EUA (payroll) e à política monetária do Fed.
O relatório do payroll é fundamental para determinar os próximos passos do Fed em relação às taxas de juros dos EUA. Se o relatório mostrar um aumento significativo no emprego, isso pode levar a um fortalecimento do dólar, já que sugere um aquecimento da economia dos EUA.
“Para este mês, se o Federal Reserve iniciar um ciclo de cortes em setembro, como o mercado atualmente espera, o dólar pode enfraquecer.
No entanto, no Brasil, a situação fiscal e a política monetária também influenciam essa alta. A situação fiscal incerta e a alta inflação podem colocar pressão sobre o real, o que pode levar a um fortalecimento do dólar em relação ao real”, analisa Murad.
A percepção de risco político e fiscal no Brasil é um fator crucial. Alex Andrade, CEO da Swiss Capital Invest, afirma que se as agências de classificação de risco americanas apontarem o Brasil como um risco, o dólar tende a subir.
Ele menciona o fenômeno do “fly to quality”, onde, em momentos de incerteza, o dinheiro flui para mercados considerados mais seguros, como os EUA, aumentando a valorização do dólar.
“Quando o mercado americano se torna mais atraente para investidores, ocorre esse movimento, onde o dinheiro sai do Brasil e vai para os EUA, aumentando a valorização do dólar”, explica Andrade.
Seis fatores principais que podem levar o dólar a R$ 6
1. Aumento das taxas de juros pelo Fed: Se o Fed decidir aumentar as taxas de juros de forma mais agressiva do que o esperado, isso pode tornar os investimentos em dólar mais atraentes.
2. Tensões geopolíticas globais: Em tempos de crises globais ou tensões geopolíticas significativas, os investidores tendem a buscar ativos de refúgio seguro, como o dólar americano.
3. Situação fiscal no Brasil em declínio: A falta de medidas para reduzir custos e a ênfase em aumentar a arrecadação geram desconfiança no mercado.
4. Política monetária agressiva pelos bancos centrais de países desenvolvidos**: Políticas monetárias mais agressivas nos EUA e em outros países desenvolvidos podem aumentar a atratividade dos investimentos em dólar.
5. Prêmios de risco melhores em outros mercados: Com juros altos nos EUA, investidores preferem investir lá, especialmente quando a Selic no Brasil diminui.
6. Brasil caindo na classificação de agências de risco: Se as agências de classificação de risco americanas apontarem o Brasil como um risco, o dólar tende a subir.