Os valores do minério de ferro têm tido um comportamento instável nas últimas semanas, assemelhando-se ao movimento de uma montanha-russa.
As flutuações estão diretamente ligadas às incertezas em torno da economia chinesa – o maior consumidor desse recurso – e às notícias sobre a crise no mercado imobiliário local.
No início deste mês, os preços atingiram o ponto mais baixo em quase 11 meses, chegando a US$ 98,30 por tonelada no mercado à vista. No entanto, na última sexta-feira (12), já haviam se recuperado para US$ 112 por tonelada, de acordo com o índice Platts da S&P Global Commodity Insights, registrando um aumento de 9% ao longo de abril.
“Estamos acompanhando a evolução do setor de incorporação imobiliária na China, que segue sem dar tantos sinais positivos. Mas, mais recentemente, o setor de manufatura deu mostras de recuperação, com alguma melhora do PMI [índice de gerente de compras] na última leitura”, diz o analista Daniel Sasson, do Itaú BBA.
Perspectivas para o minério de ferro em 2024
A indústria da construção civil é responsável por cerca de 30% a 40% do consumo de aço na China, o que a torna um grande impulsionador da demanda por minério de ferro.
Em 2024, estima-se que o consumo de produtos siderúrgicos no país asiático permanecerá estável em comparação com 2023, com a demanda diminuída no setor imobiliário sendo compensada pelo aumento na infraestrutura e nos setores industriais.
Apesar da recuperação recente, o minério de ferro com teor de 62% de ferro sofreu uma desvalorização significativa em 2024, chegando a aproximadamente 20%.
Até o momento, não há sinais claros de uma reversão desse cenário. Pelo contrário, as expectativas do Itaú BBA indicam que os preços da commodity devem variar entre US$ 100 e US$ 110 por tonelada pelo restante do ano.
Os analistas liderados por Sasson e Laura Pitta prevêem que o desequilíbrio entre oferta e demanda continuará pressionando os preços do minério. A média anual estimada para 2024 é de US$ 110 por tonelada, em comparação com US$ 120 em 2023.
A redução na produção chinesa de aço e o aumento do uso de sucata ferrosa são fatores que devem contribuir para essa pressão. Além disso, a entrada em operação do projeto Simandou pela Rio Tinto pode levar a um leve aumento na oferta da commodity.
Essas projeções resultaram na revisão do preço estimado para 2024 para US$ 110 por tonelada, com uma média entre US$ 105 por tonelada no segundo e quarto trimestres.
A China planeja aumentar o uso de sucata ferrosa para cumprir metas ambientais e reduzir sua dependência do minério importado, mas os impactos imediatos sobre a demanda são considerados limitados.
Quanto ao projeto Simandou, espera-se que sua implementação cause uma “disrupção” na indústria de mineração dada sua escala e qualidade do minério. No entanto, ainda existem desafios de infraestrutura a serem superados.
A longo prazo, prevê-se que mais de 100 milhões de toneladas entrem no mercado nos próximos cinco ou seis anos, o que poderá resultar em um excesso estrutural de oferta. As estimativas indicam que os preços podem atingir US$ 80 por tonelada em termos reais (US$ 90 por tonelada em termos nominais até 2030).