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Embargo a cursos EAD prejudica setor de educação, dizem analistas

Portaria do MEC que suspende autorização para cursos EAD é criticada

O Ensino à Distância (EAD) foi a salvação para empresas do setor de educação durante a pandemia da Covid-19. Com o necessário isolamento social imposto para combater a propagação da doença, as instituições de ensino não tiveram outra alternativa senão investir em tecnologia para tornar possível a continuidade dos estudos sem a necessidade de aulas presenciais.

Porém, o que parecia uma forma improvisada de manter o negócio funcionando, se tornou a solução definitiva para muitas empresas do setor que se viram endividadas com o passar dos anos.

Contudo, uma portaria do MEC (Ministério da Educação) publicada no final de novembro, assustou os empresários do ramo. O MEC suspendeu, por 90 dias, o processo de autorização de cursos superiores e de credenciamento de instituições de educação superior na modalidade à distância.

Os cursos afetados foram: biomedicina, ciências da religião, direito, educação física, enfermagem, farmácia, fisioterapia, fonoaudiologia, geologia/engenharia geológica, medicina, nutrição, oceanografia, odontologia, psicologia, saúde coletiva, terapia ocupacional e licenciaturas em qualquer área.

A portaria também suspendeu os pedidos de credenciamento, na modalidade à distância, das instituições de educação superior que obtiverem Conceito Institucional para EaD (CI-EaD) inferior a quatro.

“Para instituições financeiras que trabalham já há muitos anos de forma bem apertada, o EAD acaba sendo algo que aumenta a lucratividade, que faz com que consigam se manter no mercado. Então você tirar isso das empresas, especialmente no momento atual de crise econômica em praticamente todos os setores, é extremamente prejudicial”, alertou o professor universitário e mestre em negócios internacionais, André Charone.

“Com o EAD, as empresas conseguem redução do custo de hora/aula de professor. Obviamente, com uma aula virtual, você consegue atender muito mais alunos que numa sala de aula presencial, que atende no máximo 80 alunos com uma sala muito grande. No EAD você pode atender tranquilamente 200, 300 pessoas por videoaula com participação síncrona e ao vivo, ou seja, o custo acaba sendo muito menor como professor, sem contar com toda a estrutura física. Não precisa ter sala de aula, energia elétrica, precisa apenas de um ambiente virtual que inicialmente acaba sendo um investimento alto, mas esse investimento acaba se pagando em muito pouco tempo”, explicou o professor.

O professor e gestor do setor de educação, Saulo Maciel, demonstra preocupação com a medida do governo. Para ele, o Ensino à Distância é uma ferramenta de inclusão social importante e que facilita o acesso ao ensino superior.

“A alternativa para o encolhimento do FIES foi a oferta por meio da Educação à Distância. Pessoas que não teriam condições de pagar, porque perderam esse acesso por meio de financiamento estudantil, começaram a ter acesso através dos cursos à distância. Então, todo o movimento regulatório é preocupante no curto prazo, até porque não sabemos qual é a intenção por trás de se fazer esse movimento. A determinação do MEC acaba demonstrando um cenário preocupante em relação a uma diferenciação dos instrumentos de avaliação de qualidade, uma falta de clareza das intenções nessa proposta, uma falta de diálogo, especialmente com o setor privado”, criticou o especialista.

Cautela

Por outro lado, o especialista em finanças e investimentos, Hulisses Dias, acredita que a intervenção governamental não deve surtir efeitos em empresas que já atendem os requisitos exigidos pelo MEC. Segundo Dias, a mudança no regulamento visa melhorar a qualidade do Ensino à Distância.

“A intenção do MEC é criar uma regulamentação mais criteriosa para os cursos EAD e aumentar a qualidade ao impedir que instituições com baixa avaliação possam oferecer graduações à distância. Na minha visão, as empresas que já seguem as conformidades e possuem boas avaliações se adaptam às mudanças regulatórias, além de se beneficiar de uma concorrência menor na oferta de cursos EAD”, opinou.

“Com uma regulamentação mais rigorosa, as empresas seriam obrigadas a fazer uma mini reestruturação para atender os padrões de qualidade exigidos”, complementou.

Por fim, o especialista em finanças acalma os acionistas e sugere que não façam retiradas dos investimentos.”Desde o dia 30, quando saiu a portaria do MEC, as ações do setor estão praticamente no mesmo preço. Nela, foi estabelecido um prazo de 90 dias para conclusão da elaboração de proposta de regulamentação de oferta de cursos EaD. Devemos aguardar a liberação desta proposta para poder medir maiores impactos no setor. No ano, as ações de educação sobem em média 44%, bem acima do Ibovespa, resultado da reestruturação que o setor vem passando e da redução da taxa de juros”, justificou e finalizou informando que atualmente Cogna (COGN3) e Yduqs (YDUQ3) são as empresas com maior exposição ao EAD.