Google: por que o corte de pessoal é positivo para as ações?

Big tech anunciou a demissão de mais de 10 mil pessoas nesta semana; ações subiram

A onda de cortes em empresas de tecnologia – de startups até Big Techs – acontece no mundo inteiro e mostra a preocupação das companhias com um cenário macroeconômico desfavorável para gastos. Por outro lado, no caso das gigantes como a dona do Google (Alphabet), Microsoft, Amazon, entre outras, em termos de mercado, os investidores enxergam como algo “positivo”. 

O analista Guilherme Zanin, da Avenue, explicou ao BP Money que em momentos de ciclo econômico positivo essas mesmas empresas realizaram milhares de contratações. Sendo assim, a demissão em massa feita pelas Big Techs, agora, demonstra “responsabilidade” do ponto de vista operacional e financeiro. E o mercado gosta disso. 

“Para o acionista, isso mostra que o CEO está alinhado com o mercado. Quando ele faz um movimento de cortes, ele diz ‘que vai cortar custos para se tornar mais eficiente’”, disse Zanin. 

Não à toa, as ações do Google fecharam em alta de 5.72%, negociadas a US$ 99,28, após a notícia sobre o corte de mais de 10 mil pessoas na companhia, nesta sexta-feira (20). O corte anunciado pelo Google é o maior da história da empresa e representa 6% da atual força de trabalho da Big Tech. 

“Isso mostra que a empresa consegue enxugar e vai se tornar mais eficiente operacionalmente, crescendo de uma forma mais saudável. A gente entende como positivo para as ações. A gente tem que avaliar quanto isso vai impactar nos resultados, mas, no primeiro momento, é um corte de custo necessário para as empresas se adaptarem a esse novo momento econômico”, afirmou 

O analista da Avenue ainda destacou que o que o mercado vê, neste momento, é uma redução de excessos das empresas. Isso porque o contexto econômico anterior à pandemia de Covid-19 era de investimento e crescimento a qualquer custo e, de repente, o jogou virou para as companhias que tiveram que deixar de fazer investimentos para cortar custos. 

Segundo Zanin, apesar dos números serem significativos, representam uma parte pequena do corpo total de funcionários dessas Big Techs. 

“O destaque principal é que essas demissões são números significativos, expressivos, mas quando olhamos o quadro geral das empresas são demissões que vão de 3% a 10%, que é sim uma desaceleração, mas não é uma grande crise. Pelo contrário, é uma reestruturação. É o desenvolvimento de áreas que são lucrativas e eficientes em detrimento de áreas que podem ser grandes apostas no futuro, mas são custos no presente, e talvez as empresas não queiram pagar nesse momento”, afirmou Zanin.

O analista da VG Research, Guilherme Morais, reforça que uma importante razão para a onda de demissões das empresas de tecnologia é o efeito do grande número de contratações realizadas durante a pandemia de Covid-19, já que o volume de vendas online aumentou. 

“A necessidade de novos funcionários durante a pandemia foi alta. Agora que o boom de vendas online passou e os consumidores voltaram às ruas, não há a necessidade das empresas terem um quadro de funcionários tão elevado”, afirmou Morais. 

A diferença nas demissões entre as Big Techs

Nas últimas décadas, a grandes empresas de tecnologia viraram sinônimos de crescimento e retorno para os investidores. Entretanto, devido ao cenário macroeconômico adverso, causado, principalmente, pela pandemia de covid-19, nos últimos meses o volume de demissões nessas empresas foram destaque nas manchetes de jornais.

A redução do consumo e a alta da taxa de juros, além do menor volume de investimento das empresas em anúncios digitais, levou muitas companhias de tecnologia a diminuírem suas perspectivas de crescimento – mesmo sendo “gigantes”. 

De acordo com Junior Borneli – CEO da StartSe -é importante entender o contexto das demissões, já que cada empresa teve um motivo diferente dentro do problema maior (cenário macro adverso). 

Em comum, todas essas empresas perderam rentabilidade nos últimos dois trimestres, pelo menos. 

“A receita continua crescendo, mas elas perderam margem, e aí elas precisam recompor isso, então elas precisam fazer cortes de custos”, disse Borneli. 

Segundo Borneli, Microsoft e Google têm cenários diferentes para as demissões. “Nas cartas dos CEOs dessas empresas, tem um detalhe interessante. Eles citaram sobre inteligência artificial. A demissão é por conta de um ajuste causado pelo cenário econômico geral, por causa da perda de margens, mas existe também um pouco daquela frase famosa que diz assim: ‘nunca desperdice uma oportunidade’”, destacou Borneli sobre a chance das Big Techs substituírem mão de obra humana por tecnologia. 

“Em uma crise, sempre existe alguma coisa relacionada a substituição de algumas funções por algoritmos de inteligência artificial”, afirmou Borneli.

Cenário para as ações pode ser positivo em 2023

Apesar de serem cautelosos com o setor de tecnologia, os analistas consultados pelo BP Money destacaram que depois dos ajustes promovidos por essas empresas, e passado o cenário mais agudo de crise, existe, historicamente, um momento de euforia logo depois. “É provável que em algum momento em 2023 – isso deve ficar mais para o fim do terceiro trimestre – essas empresas, como o Google, recuperem o ritmo e continuem na sua jornada de crescimento para recuperar a rentabilidade”, concluiu Borneli.