Mercados globais

Ibovespa: interferências políticas e o pior 1TRI24 do mundo

O índice acumulou desvalorização de 4,53%

Foto: Pexels / Ibovespa
Foto: Pexels / Ibovespa

A conclusão do primeiro trimestre de 2024 para o Ibovespa não foi positiva. O índice acumulou desvalorização de 4,53%. Ao BP Money, analistas avaliaram que o resultado foi um dos piores do mundo e apontaram as interferências políticas entre os desafios que embargam a evolução das ações. 

“O desempenho frustrante do Ibovespa no primeiro trimestre do ano vigente se fundamenta em movimentações no humor global e na constância de ruídos políticos envenenando o desempenho corporativo de alicerces do índice”, explicou João Guilherme Caenazzo, sócio da Aware Investments.

Dados levantados pela Elos Ayta Consultoria, junto com o Investing, relevaram que o Ibovespa lidera o ranking seguido por Tailândia (-3,21), Hong Kong (-2,97), China (-1,91) e Portugal (-1,81).

No panorama doméstico, os ruídos em torno da Vale (VALE3) e da Petrobras (PETR3) foram apontados pelos especialistas entre as principais razões para o resultado, dado o peso que ambas as ações têm sobre o Ibovespa.

Somente no primeiro trimestre, as ações da mineradora recuaram 17,88%, enquanto que a petroleira viu seus papéis caírem 2,81% nos primeiros três meses de 2024. Caenazzo atribuiu esses resultados a má administração do Poder Executivo no setor de commodities.

As companhias entregaram resultados razoáveis, contudo a instabilidade corporativa, rumores acerca de reorganizações e redirecionamentos dos dividendos, por exemplo, pulverizaram a entrega de bons resultados”, afirmou ele.

Além disso, as pressões infligidas pelo mercado na espera pela redução dos juros no Brasil e nos EUA também atuaram com relevância no decorrer das sessões.

Fabio Murad, sócio da ipê Investimentos, ressaltou a retirada que os investidores estrangeiros fizeram da Bolsa brasileira. Ao todo, no período, esses agentes sacaram cerca de R$ 22 bilhões da B3

Commodities balançam o Ibovespa

Vale (VALE3)

Entre janeiro e março, o  minério de ferro e o petróleo trouxeram as incertezas do panorama no mercado chinês e dos conflitos no Oriente Médio e Leste Europeu para as negociações domésticas.

A queda de 20,55% nos papéis da Vale (VALE3F) refletiram as oscilações na demanda pela commodity na China. O país é o maior consumidor global e através da mineradora o Brasil faz a maior parte das exportações ao país asiático. 

Conforme explicado anteriormente pelo fundador da OPI Escola de Investimentos, ao BP Money, as siderúrgicas chinesas ditam o ritmo da demanda. Portanto, se a procura na China estiver fraca, no Brasil também estará.

Além disso, a Vale também enfrentou ruídos quanto ao processo de troca ao cargo de CEO, que, até o final deste ano, será ocupado por Eduardo Bartolomeo

O presidente Lula (PT), desejava emplacar o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, à cadeira, ou a um lugar como membro do Conselho de Administração, mas desistiu. 

Petrobras (PETR4)

Para a Petrobras, o cenário foi ainda mais conflitante. No intervalo, as ações preferenciais PETR4 caíram 0,34%.

A petroleira lida com as altas e baixas no preço do petróleo, por conta, sobretudo, do desdobramento dos conflitos no Oriente Médio, que dificultam o transporte da matéria-prima. 

Em paralelo, a estatal se viu em meio a entraves políticos e uma desconfiança do mercado, após a decisão de reter o pagamento dos dividendos extraordinários do 4º trimestre de 2023, optando pela distribuição de proventos comuns. 

Glaciano e Brandini lembram da significativa redução nos estoques comerciais de petróleo e na produção nos EUA, no início deste ano. Afirmando que, em algum momento, a economia global buscará fontes de energia para se reaquecer.

Com perspectiva de preço internacional do barril de petróleo a U$ 100,00 para o ano, a tendência do commodity é crescente, disse Caenazzo. 

“Porém, a companhia necessitará de paz corporativa para que os resultados novamente não sejam desglamourizados por interferência indevida. Um acordo favorável aos investidores no referente aos dividendos é capaz de apaziguar os ânimos”, completou.

Expectativas para o Ibovespa em 2024

Caenazzoo vê o minério com projeção de alta para o ano, e “ceteris paribus”, devido a confirmação do CEO no cargo até o fim do ano. “Vale deve buscar uma reversão do que apresentou até aqui”, afirmou.

Para Murad, mesmo diante de um começo desafiador, acredita-se que ainda existem oportunidades de alocação no mercado doméstico. 

“Foi feito um movimento importante para aumentar a exposição a empresas exportadoras e reduzir a exposição a empresas domésticas, levando em consideração que o movimento de corte de juros será mais demorado e de menor intensidade”, apontou.

Ao seguir “navegando em um cenário incerto”, no próximo trimestre, disse ele, algumas ações despontam como destaque na Bolsa. 

O sócio da Ipê Investimentos indicou a  Aura Minerals (AURA33), Klabin (KLBN11), Positivo (POSI3), Prio (PRIO3) e Weg (WEGE3), como empresas para observar no Ibovesoa, no decorrer de abril a junho.

Setor bancário e de consumo no Ibovespa

Seguindo a divisão setorial, os bancos devem se beneficiar dos empréstimos com taxas mais baixas, já que o crédito se torna mais acessível às classes mais baixas, observaram Glaciano e Brandini. Ambos destacaram o BTG Pactual (BPAC11) e o Itaú (ITUB4).

“O Itaú possui o maior market share no segmento de alta renda, apresentando o maior lucro entre os bancos em 2023, crescendo 15,7% em relação a 2022. Enquanto isso, o Banco BTG Pactual tem adquirido algumas plataformas de investimentos e casas de análises. Acredita-se que essas aquisições ainda não tenham demonstrado todo o seu potencial de crescimento, o que poderá ser expressado futuramente pelo aumento do lucro líquido”, disseram

Já no setor de consumo do Ibovespa, o aquecimento da economia e possibilidade de mais cortes na Selic (taxa básica de juros), tendem a favorecer as empresas. 

Brandini e Glaciano projetam que as vendas devem crescer, com o e-commerce reduzindo o custo operacional das estruturas físicas e expandindo as operações. 

“Empresas que se destacam [no Ibovespa] incluem Renner (LREN3) e Magazine Luiza (MGLU3), porém, o grande desafio é um mercado pulverizado, com muitos players e alta concorrência das empresas de varejo chinesas, que oferecem produtos mais baratos”, finalizaram.